Jogos de plataforma e jogos de horror tem um lugar especial no meu coração já um bom tempo, a ponto de serem meus dois “tipos” favoritos, entretanto, não é sempre que esses dois gêneros conseguem ser misturados de maneira harmoniosa a fazerem algo que valha a pena ser jogado. O lançamento de Limbo há alguns anos atrás trouxe a tona as possibilidades dessa mistura, com uma pegada “infantil” onde os elementos de terror contratavam com o design mais “fofo” da produção.
Depois do lançamento de Limbo tivemos outros títulos que começaram a se destacar, principalmente de estudos independentes, mas foi Little Nightmares, em 2017, que realmente deu um grande salto no gênero.
Quando o título foi lançado, havia algo nele que não em cativou. Depois de algumas tentativas frustradas do jogo, eu acabei desistindo por uma falta de apego a trama. Há dois anos, em 2019, eu resolvi dar mais uma chance a produção, e dessa vez fui agraciada com uma experiência fantástica e absolutamente imersiva que conseguiu um espaço entre meus títulos favoritos da última década.
O que é Little Nightmares?
Seguindo o formato de plataforma com gráficos 3D e elementos de aventura e terror. A jogabilidade é constituída de puzzles que variam entre o avanço das próprias plataformas, até pequenos mistérios que se amarram a uma trama sombria e surreal.
O jogo desenvolvido pela Tarsier Studios não é muito longo, mas possuiu três DLC que expandiram seu universo e deram “respostas” ao enredo que não se preocupa muito em esclarecer o jogador sobre o que está se passando. A atmosfera surrealista e fantástica do jogo é um dos seus principais charmes, que dá espaço para diferentes interpretações.
Trama, Personagens e Continuação
Antes de continuar já devo avisar que a partir desse ponto haverá spoilers do primeiro jogo da franquia, assim como de sua continuação.
Little Nightmares é sobre uma garota, Six, que acorda em um navio onde ela deseja desesperadamente escapar. Entretanto, nesse ambiente, ela é surpreendida por criaturas gigantescas e deformadas que tem como objetivo capturá-la e devorá-la. No primeiro jogo ainda somos apresentados a outro personagem (ou personagens) que são os Gnomes (gnomos), pequenas criaturinhas que no primeiro momento tem medo da Six, mas após um contato afetivo acabam servindo como ajudantes em sua escapada.
O vilão principal de Little Nightmares I consiste na Dama (The Lady) uma figura que se distingue dos outros inimigos por ser esguia e possuir uma aparência mais “agradável”. Durante o jogo descobrimos que Six está sofrendo de uma terrível fome que não pode ser saciada por nenhum tipo de alimento, e ao que parece, essa fome é devida ao fato dele ser um ser sobrenatural filha da “Dama” onde seus poderes consistem na absorção de energia/fonte vital de outros seres vivos para se manter jovem para sempre. O jogo acaba com a Six eliminando a Dama e absorvendo seus poderes, escapando do Navio para um futuro desconhecido.
Nas DLC do primeiro jogo (três no total) somos um outro personagem que irá viver uma trama que acontece ao mesmo tempo que a do jogo original. Nessas DLC somos um menino que, assim como Six, tenta fugir do navio. Durante essa história descobrimos mais a respeito dos inimigos, assim como dos Gnomes, e o porquê eles têm tanto medo da Six (no final somos transformados em um e devorados pela garota).
O segundo jogo da franquia, Little Nightmares 2, conta o “prólogo” do jogo original, onde assumimos o papel de Mono, um jovem que encontra Six perdida e tenta desesperadamente ajudá-la enquanto ambos fogem de outros inimigos. Diferente do primeiro jogo, nessa sequência estamos em diversos ambientes diferentes como uma fazenda, uma escola, um hospital, uma cidade e uma dimensão paralela. O único elemento em comum entre todos esses ambientes é a constante presença de aparelhos de televisão que captam a atenção de “adultos” e do próprio Mono, como se o atraíssem para uma armadilha.
Jogabilidade e elementos
Enquanto o primeiro jogo aposta em elementos puzzle e de plataforma, o segundo jogo se arrisca mais no gênero de horror, com cenas extensas de “furtividade” onde temos que passar despercebidos pelos inimigos. Também há um número maior de cenas de “combate”, mas a sequência em si é muito mais sombria comparada ao primeiro título. Ambos os jogos possuem mais ou menos a mesma durabilidade (cerca de quatro horas) e são divididos em capítulos, sendo que no primeiro jogo temos capítulos mais lentos no início e um fim mais emocionante, enquanto na sequência os primeiros capítulos são os que estão recheados de ação, enquanto o último volta as origens com os elementos de quebra-cabeça e plataforma.
A jogabilidade é concisa e muito bem feita, com mecanismos fáceis e intuitivos, não deixando nenhum espaço para qualquer tipo de reclamação. Quanto aos outros elementos do jogo, como os gráficos e trilha sonora, todos eles também são de excelente qualidade, deixando bem claro porque a Bandai optou por adquirir os direitos autorais da franquia e publicar o jogo, os desenvolvedores não pouparam esforços em fazer Little Nightmares, e conseguiram entregar um tesouro.
Além disso, tanto o primeiro quanto o segundo jogos contam com colecionáveis que garantem cenas extras e momentos diferenciados para o jogador, um pequeno prêmio para aqueles que forem fãs de explorar cada canto das telas.
Teorias, Interpretações e Explicações
Uma das coisas mais incríveis de The Little Nightmares é o clima surreal que dá aos jogadores as possibilidades de criar teorias ou até mesmo ter diferentes interpretações. Com uma rápida busca no google você rapidamente irá encontrar diversos textos tentando “explicar” ambos os jogos, falando sobre as pistas que nos são dadas, e o que podemos “tirar” do título. Eu consigo ver elementos claros de críticas sociais em ambos os games, seja no primeiro ao consumo, quanto no segundo a mídia, mas como autora, eu vejo mais como um conjunto de elementos que os criadores elaboraram a fim de dar aos jogadores a possibilidade de tirar suas próprias conclusões baseadas em suas experiências prévias. Me faz lembrar os filmes de Romero onde a crítica ao consumo desenfreado é pano de fundo para um filme de ação e horror com zumbis comedores de cérebro.
Sendo assim, NA MINHA OPINIÃO (e que fique claro que aqui são apenas meus pensamentos com as experiências que eu possuo) Little Nightmares 2 é sobre o impacto da mídia na população, principalmente em adultos, falando sobre alienação, roubo de identidade e perda de personalidade. A ideia de ter como protagonistas crianças remete a questão da inocência e pureza antes do estabelecimento de princípios moldados pela sociedade. E se eu fosse fazer um cruzamento mais ambicioso, eu poderia comparar o primeiro jogo ao livro A Revolução dos Bichos, enquanto o segundo me lembra 1964, ambos do gênio George Orwell.
É claro que ainda há muito o que se dizer sobre os vilões, os ambientes, as passagens temporais e os portais, mas nesse sentido sinto que minhas opiniões são muito similares aos de qualquer outro na internet, então você pode encontrar as respostas rapidamente no google.
Little Nightmares 2 é uma continuação deliciosa e cruel para seu antecessor, entregando um trabalho excelente que faz jus ao primeiro título da série, e nos faz querer saber mais sobre esse universo fantástico que foi criado. Entretanto, com a trama bem fechadinha, me pergunto se há – ou não – a necessidade de uma continuação sendo que o trabalho entregue já foi muito bom.
Little Nightmares 2 pode ser encontrado nas principais lojas do país pelo valor sugerido de R$ 179,90 (versões físicas de PlayStation 4 ou Xbox One). Para mais informações sobre Little Nightmares 2 e outros títulos da BANDAI NAMCO Entertainment America Inc., acesse o SITE OFICIAL.