Kingdom Hearts é uma das mais conhecidas e amadas franquias de RPG já lançadas pela Square Enix. Surgida de um plano ambicioso de misturar os icônicos personagens da Disney e de Final Fantasy em um título original com enredo próprio, a saga conquistou fãs do mundo inteiro e marcou a infância de muitos.
E é para comemorar o lançamento da franquia nos PCs no dia 30 (pela Epic Store!) que estamos aqui para explicar como funciona Kingdom Hearts. Então, caros leitores, peguem as suas Keyblades e segurem seus corações, porque vai ser uma aventura.
“Será que tudo isso é real?”
(Do original: I’ve been having these weird thoughts lately… like, is any of this for real or not?)
Em 2002, com o lançamento de Kingdom Hearts, quando encontramos pela primeira vez o protagonista Sora, uma pergunta o persegue: Será que tudo isso é real?
Pois bem, quando Kingdom Hearts foi anunciado, essa mesma pergunta passou pela cabeça de muita gente. A razão é simples: O mesmo conceito que torna a série um ponto de referência é também aquilo que causa mais estranhamento naqueles que estão sendo introduzidos na franquia pela primeira vez. Afinal, não é todo dia que um game decide que vai misturar os populares jogos da franquia Final Fantasy com a nostalgia e a mágica da Disney (Sim, você leu certo. Aquela mesma Disney multimilionária, com os filmes de princesa e animações que fazem parte da nossa infância).
Reza a lenda que Shinji Hajimoto, produtor da Square Enix, tinha o sonho de desenvolver um jogo de mundo aberto como Super Mario 64 com o criador da série Final Fantasy, Hironobu Sakaguchi. A principal barreira, porém, era o fato de que ele achava que a Square Enix não tinha personagens o suficientes que fossem bem consolidados no mercado e, portanto, o futuro jogo talvez não tivesse tanto sucesso quanto a sua inspiração nintendista. Eis que surge na conversa a Disney, afinal, quando o assunto são personagens bem consolidados, a Disney é mestre do assunto. Tetsuya Nomura, que ouvia a conversa, se disponibilizou para dirigir o projeto caso ele vingasse.
Mas a ideia não saiu do papel nesse primeiro momento. Até que um dia, quis o destino que Shinji Hashimoto entrasse num elevador junto com um grande executivo da Disney. E assim, Kingdom Hearts veio ao mundo.
Pela ideia ambiciosa, que não tinha garantia de que agradaria o público, os criadores decidiram deixar um pequeno teaser de uma possível continuação no fim do primeiro Kingdom Hearts. O que não sabiam, entretanto, era que o lançamento seria um sucesso e, quase 20 anos depois do lançamento do primeiro título, aquele teaser se tornaria um prenúncio de uma franquia composta por inúmeros jogos e para as mais variadas plataformas. Parece que a fórmula funcionou.
O coração dos mundos
Para compreender o enredo da série Kingdom Hearts há duas coisas essenciais que devem ser assimiladas: A primeira é que, não importa a plataforma em que foi originalmente lançado, todos os jogos acrescentam algo na história, a segunda é que, apesar dos personagens da Disney incluídos, a presença da Square Enix e da inspiração em Final Fantasy fazem esse enredo ser mais denso, obscuro e complexo do que se espera de um jogo voltado para o público infanto-juvenil.
A “ordem” da história também não é a mesma da ordem de lançamentos e é por isso que a cronologia dos eventos pode ser bastante confusa. O grande número de jogos pode fazer com que os jogadores percam fatos importantes para o enredo, caso pulem alguma parte. Para ter uma ideia, veja abaixo a linha do tempo oficial do game.
A ordem segue de cima para baixo.
Dark Seeker Saga
Todos os jogos lançados até o momento fazem parte da chamada Dark Seeker Saga. O principal conflito dessa parte da franquia é a familiar luta maniqueísta da luz contra a escuridão. Outro ponto bastante abordado é a amizade e a união e como ambas influenciam o caminho dos personagens. Parece simples, mas a multiplicidade de conceitos e elementos acrescentados com cada lançamento de um novo game torna tudo um pouco mais complicado.
Parte essencial do lore da franquia consiste na viagem entre mundos, sejam baseados nos filmes da Disney (como o coliseu do filme Hércules, o castelo da Cinderela e outros) ou originais da própria história (como Twilight Town, Castle Oblivion e outros). Essas viagens são justificadas de acordo com o jogo e com os protagonistas, mas não fogem do conflito primário.
Outro ponto que também faz parte da iconografia dos games são as Keyblades. Essas armas em formato de chave possuem a habilidade de abrir ou fechar as barreiras dos mundos. Essas barreiras (ou fechaduras) impedem que a escuridão (heartless e nobodies) acessem essas terras. Em questão de gameplay, essas armas podem ser melhoradas e, em determinados momentos, podem ter alterações de habilidades e aparência com a progressão da narrativa.
Há um antagonista principal, Xehanort, que direta ou indiretamente, é o propulsor dos eventos ocorridos durante a Dark Seeker Saga. Os planos desse personagem moldam a história e impulsionam o enredo. Xehanort é um vilão que leva tempo para ser construído e suas motivações só serão completamente entendidas com o encerramento de Kingdom Hearts III. Além dele, pode-se citar a “Organização XIII”, formados pelos Nobodies (que são, discutivelmente, alguns dos personagens mais carismáticos da série).
A gameplay geral é similar para a franquia inteira (com algumas exceções para Kingdom Hearts: Melody of Memory e Kingdom Hearts: Chain of Memories para o Game Boy Advanced). Segue-se o estilo padrão de RPGs, com uma progressão por níveis e a possibilidade de melhorar equipamentos e armas do seu personagem e dos companheiros de equipe. Diferentemente dos títulos da franquia Final Fantasy, o combate não funciona por turnos, parecendo, nesse quesito, um pouco mais com títulos de gênero Hack´n Slash, o que o torna mais dinâmico. Além dos ataques com as populares armas da franquia, as Keyblades, o jogador também terá acesso a magias, invocações e utilização de itens.
Personagens Originais
Quando se tem uma parceira criativa com o poderio da Disney, temos que admitir que deve ser difícil fazer com que os seus personagens originais brilhem mais que as já conhecidas caras da gigante corporativa de Walt Disney.
Mas, eis que Kingdom Hearts surpreende. É claro que é divertidíssimo viajar pelo mundo mágico dos contos de fadas modernos com a companhia de Pateta, Donald, Mickey e muitos outros. Porém, o que brilha nos games é justamente o enredo original, os protagonistas próprios da franquia e o carisma característico da série.
Sobre os protagonistas, podemos dividi-los em três trios principais:
- Trio Destiny Island – Composto pelos três protagonistas de Kingdom Hearts (2002), Sora, Riku e Kairi. Foram os primeiros introduzidos nos jogos e são de extrema importância para o desenvolvimento da série. Sora é o personagem principal da franquia (aparecendo em quase todos os títulos, seja como personagem jogável ou como menção).
- Trio Wayfinder – Composto por Terra, Aqua e Ventus. Fazem parte do prólogo, apresentado em Kingdom Hearts: Birth by Sleep. Tem o desfecho de suas narrativas em Kingdom Hearts III.
- Trio Sea Salt – Composto por Roxas, Xion e Axel. Apresentados pela primeira vez em Kingdom Hearts: 358/2 Days. Tem o desfecho de suas narrativas em Kingdom Hearts III.
Cada uma dessas histórias, que a primeira vista podem parecer alternativas, convergem em um único ponto em determinado momento. Ou seja, reitero que conhecer todos os protagonistas é essencial para que não haja confusão no desfecho da saga.
Trilha sonora
A cereja no bolo e; talvez, um dos pontos mais fortes da franquia, é a trilha sonora. Você pode até não ter jogado nenhum dos títulos, mas é capaz que tenha já tenha ouvido alguma das trilhas originais compostas para os games com o passar dos anos.
A trilha instrumental é composta pela compositora japonesa Yoko Shimomura e possui temas tocados ao piano e composições orquestrais. Alias, a trilha de Shimomura para a franquia Kingdom Hearts já fez até parte de uma turnê mundial chamada Kingdom Hearts Orchestra: World of Tres (que, inclusive, passou por São Paulo em 2019).
A franquia também é conhecida pelas cutscenes de introdução e encerramento, que são verdadeiros clipes musicais, com a voz e composição de Hikaru Utada, presentes desde 2002 e que se tornaram tradições em todos os títulos conseguintes.
As composições originais ajudam tanto na construção do “clima” do jogo, que é bem comum encontrar fãs chorões (como eu, admito) que derramaram lágrimas em trechos mais melancólicos da história com a ajuda da música.
Vale dar uma chance
A combinação de personagens carismáticos, jornadas interessantes e temas sonoros pensados para cada situação (é só ouvir os temas de alguns personagens principais como Xion) faz com que valha a pena dar uma chance para a série.
Admito que a ideia parece estranha e que a história pode ser confusa, mas vale a pena tentar (principalmente agora que a saga ficará disponível para computadores). Além do mais, tudo indica que ainda há futuro e que Kingdom Hearts terá outras continuações.
Para os mais velhos, que não conheciam a franquia e não terão a nostalgia como acompanhante, ainda há a chance de se aproveitarem as magníficas trilhas sonoras, o carisma dos personagens originais e a nostalgia proveniente dos queridos personagens da Disney. Infelizmente, vale mencionar que, para aqueles que não entendem inglês, os jogos da franquia são conhecidos por não possuírem dublagem, nem legendas em português (mas quem sabe, com o lançamento no PC, poderão surgir traduções de fãs).
Por fim, Kingdom Hearts se provou uma série carismática e nostálgica, capaz de conquistar fãs no mundo inteiro. Para quem já jogou, vale a pena jogar novamente, para os novos fãs, vale a pena conhecer.