Judocas no ensino médio, treinando e competindo para alcançar vitórias nos campeonatos estudantis. Ippon Again parece mais um caso de slice-of-life com pitadas de esporte, mas aqui temos o contrário. Na verdade, o anime traz lutas acirradas e emocionantes, junto à jovialidade dos tempos do ensino médio com bem mais pé no chão do que se pode esperar!

Uma Vida Dedicada a Um Esporte

Sendo assim, Ippon Again é originalmente um mangá da autora Yuu Muraoka. Uma rápida olhadela em seu perfil no MyAnimeList e descobrimos que Muraoka escreve e desenha mangás sobre judô desde 2012. Seja em Muneatsu, Uchikomi ou Vigilante, o esporte tem acompanhado toda a carreira do mangaká. No entanto, enquanto os demais títulos tiveram curta duração, Ippon Again, que estreou em 2018, está firme e forte em publicações, até finalmente ganhar anime próprio em 2023.

Pode ter sido efeito dos anos prática, com certeza, pois a prática leva a perfeição. Afinal, Ippon Again te passa as emoções do judô com tanta, mas tanta eficiência, que é uma injustiça esse anime passar desapercebido. Além disso, ele é bem completo, com todo o vocabulário do judô e sua longa lista de técnicas e movimentos, que soam bastante confusos para os não iniciados.

Mesmo assim, nos faz imaginar como um praticante de judô reagiria assistindo ao anime: osoto gari, uchi mata, harai goshi, morote seoi nage, entre outros. Todo episódio menciona uma técnica aqui e ali. Também, suas personagens são assíduas estudantes da arte marcial, reflexo certeiro da própria Muraoka, que passou mais de uma década de sua vida desenhando mangá sobre judocas.

Ippon Again
Imagem Divulgação

Paternidade de Respeito

No primeiro momento à época do Primeiro Gole, Ippon Again se centrou sobre suas personagens principais: Michi, Sanae, Towa e depois Anna. Só a interação da Michi com a Sanae, unidas pela convivência com o judô, a despeito de serem completamente diferentes, já é uma lindeza por si só.

Então, as coisas só escalaram para melhor, como com a Towa, judoca prodígio, mas péssima em se comunicar, ao ponto de causar mau entendidos ao ganhar uma partida. Sua senpai, Erika, ficou ressentida num primeiro momento, por ter sido supostamente zombada por Towa após uma derrota. No entanto, bastou uma boa comunicação e restou somente a boa rivalidade, mais saudável, de duas ex-colegas de escola.

Porém, a Anna foi uma cereja do bolo em Ippon Again. Sua história é o caso de alguém que lidou bem com as expectativas de sua família e que teve de tomar uma decisão para sua própria vida a partir do momento em que o futuro de suas amizades estava em jogo. Anna e Michi são velhas conhecidas, mas Anna sempre viveu para o kendo.

Sendo assim, o orgulho do pai, ex praticante de kendo, suas fotos e prêmios indicavam um futuro certo na arte marcial. No entanto, Anna viu o risco de se afastar de Michi, que estava reconstruindo seu clube de judô com Sanae e Towa. Geralmente as histórias tendem a preferir o conflito pelo conflito; seria nessa hora que a Anna começaria a ter problemas em casa, que seu pai seria duramente contra sua decisão de migrar para o judô, mas…

O treinamento tem sido duro demais? Tá tudo bem?

Isshin, o pai da Anna, deu uma demonstração calorosíssima de paternidade, do tipo que desarma a qualquer um. Ele morre de orgulho da filha, mas antes de tudo a ama. Com esse incentivo inspirador, Anna vira a quarta integrante do grupo, correndo atrás do atraso para chegar ao mesmo nível de suas novas colegas. Contudo, é claro, ainda é muito cedo para Anna, então não dá tempo dela participar das mesmas competições que acontecem na primeira temporada.

Ippon Again
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As Personagens de Ippon Again: Realismo VS Idealismo

Sendo assim, é com os campeonatos estudantis de judô que o universo de Ippon Again se expande abrasivamente. Com isso, podemos ver outra faceta interessantíssima do anime: ele foge daquela típica caracterização de meninas de anime, naquele estilo moe que todos conhecemos, o que pode agradar a muita gente.

Elaboro. Eu mesmo não tenho problema algum com o moe; o otaku é um platônico por excelência; e faz parte do seu dia a dia sentir afeição pela forma ideal das coisas. A cultura otaku criou o bishoujo e em torno dele franquias, fandoms, comunidades e novas formas de comunicação e criação de conteúdo foram e ainda são criadas. Mas há quem desdenhe esse estilo. Como o bishoujo, dizem, faz uma caracterização idealista de garotas, ele seria “problemático” ao excluir garotas que não correspondam a esse ideal.

Independentemente se essa discussão vale a pena ou não, acredito que mais vale o tom como dizemos as coisas, do que se diz em si. Se a crítica ao bishoujo é necessária às custas da ridicularização e do desdém à cultura otaku, então ela pode ficar muito bem longe de nossos olhos e ouvidos, obrigado (mais dos olhos, porque essa é uma discussão que não existe fora da internet).

Ippon Again
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Realismo

Agora, coisa completamente diferente é usar dessa crítica como o fundamento para a criação de uma história com personagens mais variadas, sem perder sua autenticidade. E é nesse ponto em que Ippon Again brilha em diversidade, palavrinha gasta demais, mas que nesse caso define bem seu design de personagens.

Óbvio, é muito mais provável que tanta diversidade de personagens seja menos o mérito de algum acesso de consciência da autora — que não sabemos o que pensa sobre isso — e mais mérito esportivo do judô. Afinal, essa é a graça do esporte: a superação dos limites do próprio corpo e a imaginação para usar tanto as vantagens e as desvantagens dele a seu favor.

Além disso, as lutas do anime sabem usar muito disso, elas são ridiculamente bem pensadas. E de brinde, o elenco de Ippon Again conta com personagens originalíssimas, como a Sachi, a Ran, a própria Michi e a Megumi. Esta última causa forte impressão tanto pelo seu tamanho, quanto por ser a personagem com a dubladora mais famosa de todo o elenco. Quem dá voz à Megumi é Ai Farouz, nossa Jolyne Cujoh de Jojo.

Vitórias e Derrotas

Ippon Again
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Pra finalizar esse review, uma nota de angústia. É claro que perder faz parte de todo o esporte e que melhor é o espírito esportivo quanto mais ele soube lidar com derrotas. E ultimamente os animes de esporte tem fugido à regra não escrita de que o protagonista tem sempre que vencer no final. Então, é de se esperar que as novatas de Ippon Again, um mangá ainda em publicação, não fossem ganhar todas logo na primeira temporada. Porém, ainda assim, é frustrante.

É de apertar o peito ver o desfecho dos últimos episódios e não dá pra largar o sentimento de que aquele esforço todo merecia ser recompensado. Chega a nos fazer de ridículos, porque as meninas mesmo sabem lidar com a perda mais do que quem assiste. No fundo, no fundo, mora nessa frustração outro mérito de Ippon Again: você torce junto, o tempo inteiro.

Então, é de se esperar também que tamanha qualidade em apenas 13 episódios mereça uma segunda temporada! Pra Ippon Again a gente tira e muito o chapéu. Assim, ficamos desejosos de que venha no futuro não tão distante o anúncio de uma nova temporada com mais ippon pela frente!

REVIEW
Ippon Again
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Eriki
Olá, sou o Eriki, redator do Suco de Mangá desde 2018, ex apresentador do Gole Otaku, programa semanal do Suco de Mangá sobre as estreias de animes da temporada, formado em História pela UFRJ e guitarrista da Matina Cafe, banda que se inspira no som do visual kei.
ippon-again-reviewA história segue Michi Sonoda, uma estudante que planejava abandonar o judô após perder no torneio final do ensino fundamental. Mas sua melhor amiga Sanae Takigawa e sua recente rival, Eien Hyoura, a convencem de continuar a praticar o judô no ensino médio.