É muito complicado começar um mangá e já ter certa expectativa sobre ele. Esse tipo de pensamento pode gerar uma primeira impressão ruim sobre qualquer coisa, seria como comer um bolo já esperando um gosto, e logo em seguida se decepcionar por algo que sua própria mente criou, temos que tomar cuidado com esse tipo de abordagem – sendo sobre bolos ou mangás- afinal como julgar alguma coisa que nem teve tempo de se desenvolver ainda?
Essa expectativa no caso, não é sobre bolo. Na verdade é sobre o mangá abordado hoje no Primeiro Gole, um lançamento da Weelky Shounen Jump do mesmo autor que no passado serializou um dos mangás de comédia mais divertidos que eu já li: sim eu estou falando do autor de Beelzebub, Ryuuhei Tamura – e apostando novamente na comédia nonsense vem com Hungry Marie (ou Harapeko no Marie).
Nunca participe de um ritual por vontade própria!
Vamos supor que você veja alguém falando coisas estranhas de frente para um pentagrama, desenhado em um pano estirado chão, algumas velas queimando em volta do desenho, tudo indicando um processo ritualístico em andamento, o que você faria? A resposta pode parecer óbvia para você, mas não para nosso protagonista, Taiga, que no auge de sua burrice juvenil acaba participando desse ritual sem saber que seria parte integrante da “matéria prima” do ritual, isso claro como sacrifício, voluntário.
Assim é o começo de Hungry Marie, sobre um garoto que troca de corpo com uma princesa francesa, e isso pelo visto é apenas o começo de uma bizarrice muito mais profunda e sem limites, que se pensarmos bem é o ideal para um mangá de comédia, é o esperado, porque acredite você ou não, vindo desse autor, isso é só o primeiro pedaço do bolo.
Devemos levar em consideração também que ao ler coisas desse tipo ninguém pode buscar algo muito racional ou mesmo real, é sobre o autor fazer você rir da desgraça alheia, das situações bizarras que ele criou, então se prepara, esse mangá tem todos os ingredientes necessários para uma comédia sem noção digna de mangás da JUMP.
Quando um personagem é quase palpável
Um fato muito interessante nesse tipo de narrativa focada na comédia, é que os personagens, ao menos a maioria, tendem a serem os mais realistas possíveis, não no contexto em que estão inseridos, mas em atitudes, pensamentos e sentimentos. É quase como ver um amigo seu contando uma história onde ele não se dá muito bem no final, e tudo isso é muito engraçado, ainda mais quando não envolve você diretamente.
As reações, as conversas, tudo gira em torna da piada claramente, mas mesmo assim os personagens são críveis, algumas reações são tão sinceras que você ri mesmo sem pensar muito sobre, não é complexo de se entender, são emoções retratadas de forma cômica, mas não deixam de ser emoções presentes no nossa rotina diária. É aquela história do “rir para não chorar” quando você vira a esquina da sua casa e vê o seu ônibus partindo sem você.
Em Hungry Marie, mesmo nesse breve começo, já vemos como os personagens estão muito bem definidos e tem suas próprias interpretações sobre a desgraça alheia, sobre as situações em que estão inseridos, e claro que as interações entre eles são todas visando o bizarro, o humor, o sorriso do leitor.
Uma sensação de refém
Creio que tenha ficado bem claro que eu gostei do pouco que li de Hungry Marie (6 capítulos), porém meu querido otaku brasileiro, existem alguns problemas quanto a serializações novas da JUMP. Elas estão sujeitas a votações semanais de popularidade, que se não atingirem certos números em tais votações, a mesma é simplesmente cancelada, muitas vezes sem nem ao menos ter uma chance de progredir com o plot. Ou seja, somos todos reféns do público japonês, que se não gosta de determinada narrativa vai contribuir, direta ou indiretamente, para seu cancelamento.
Sendo assim eu recomendo a leitura de Hungry Marie, principalmente por estar em seu estágio inicial, porém em contra partida, recomendo que você tenha cautela e não se apegue muito a obra, ela pode morrer afogada antes de chegar à praia.
Sinopse: Bijogi Taiga é um garoto que vive num templo taoista e é apaixonado por Sagimiya Anna, sua vizinha que mora numa igreja. Um dia, Taiga a encontra realizando um treinamento para um ritual de invocação muito estranho e na tentativa de se aproximar dela, aceita fazer parte do ritual… Mal sabia ele que seria usado como SACRIFÍCIO para invocar… Maria Teresa Carlota de França? A antiga rainha francesa?!