Gypsy (tradução popular para ciganos em inglês) é uma premissa intrigante que conta a história de Jean Holloway (Naomi Watts), uma terapeuta cognitivo comportamental bem sucedida. Ela ultrapassa os limites profissionais ao, secretamente, se colocar dentro da vida pessoal de seus pacientes utilizando o pseudônimo de ‘Diana’. Ao fazer isso, ela cria uma estranha obsessão com os familiares, amigos e interesses amorosos de seus clientes.
Durante suas sessões, Jean apresenta soluções e auxílio para seus pacientes enfrentarem seus problemas, mas tem suas próprias ações diretas com os personagens das histórias de seus clientes, fugindo da ética e limites que a própria impõe como terapeuta.
Agindo no pseudônimo de ‘Diana’, ela começa a se envolver profundamente com Sidney Pierce (Sophie Cookson), a ex-namorada de um de seus pacientes, manipulando a relação entre os dois e tomando atitudes para benefício próprio. A sua relação com Sidney se torna cada vez mais perigosa quando as atitudes irresponsáveis de Jean começam a expor a vida secreta de Diana, afetando a relação de Jean com seu marido e filha(o).
Sua busca obsessiva por emoções fortes e relacionamentos perigosos a torna uma figura difícil de simpatizar pelo público e coloca sua carreira em jogo por não sentir remorso ou as consequências significativas de suas ações.
A trama também apresenta de forma breve e subdesenvolvida a história do filho de Jean, Dolly (Maren Heary), uma criança de 9 anos que se identifica com o gênero masculino e está aprendendo a lidar com essa transição.
Pontos fortes e fracos
De acordo com uma parte do público, a trama é desenvolvida de forma lenta e irregular, e o subdesenvolvimento dos personagens secundários dificulta a conexão emocional do público com a história. Além disso, citam que há falta de foco dos criadores, ao tentarem incorporar diversas tramas paralelas que não se integram à principal, o que torna a narrativa fragmentada e às vezes confusa.
Em contrapartida, outros fãs citam que as performances e enredo foram sensacionais, e que todo o plot é sobre manipulação, tanto entre os personagens em si, quanto da série com o próprio público. Isso acontece porque a própria plateia idealiza Jean de várias formas durante a história, e essa visão é alterada a cada ação da personagem, até no final da trama descobrir que Jean teve o maior papel dentro da manipulação, ao levar quem assiste a acreditar que é vítima das circunstâncias, mas, na realidade, ela sente poder em manipular todos a sua volta e ter controle sobre eles.
Visão da roteirista
A roteirista da série, Lisa Rubin, cita em entrevista para o Black Room Stewdios que a história buscava mostrar as mulheres de uma forma que não são normalmente vistas, o que seria diferente se a jornada da protagonista fosse retratada por um homem — ninguém veria problema em um homem traindo, ninguém desconfiaria. Os homens, em alguns casos, se afastam de sua família e filhos durante a traição, e ela tomou cuidado em mostrar Jean como uma boa mãe, para dessa forma não perder a empatia total do público.
Além disso, para ela é muito importante representar as coisas do jeito que elas realmente são, pois, dependendo da pessoa que cria conteúdos, a história é representada pelo ponto de vista deles e não geral. Então ela quis criar uma história diferente, contando a Sidney, que é de uma geração que não acredita em rótulos, e pensando que a experiência da roteirista é diferente dela, sempre sendo julgada por classificações da sociedade, trazendo frustração, pois a roteirista não queria invalidar a vida dela por esse motivo. Ela utilizou Sidney para retratar uma personagem que representa uma pessoa que vive contra aquilo, e a importância de representar a fluidez da sexualidade, que é algo muito comum mas não é mostrado.
Veredicto
Gypsy é uma história para quem gosta de acompanhar suspense, reviravoltas e muita manipulação, contendo também uma análise psicológica dos personagens. Embora tenha apenas uma temporada, foi o suficiente para entreter os telespectadores e deixar um ‘gostinho de quero mais’, com algumas perguntas no ar, fazendo o público imaginar o possível desfecho após a cena final.