Olá! Como estão?
O post de hoje, um pouco diferente do usual, é para fazer uma divulgação e trazer minhas impressões de um debate interessante que ocorreu no evento @Geek Santos, promovido pelo SESC Santos nos dias 30, 31, 1 e 2 de Julho/Agosto de 2015 (quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo). Na ocasião, os autores Leandro Altafim eDouglas MCT fizeram falas sobre o mercado nacional de quadrinhos, e contaram um pouco de suas trajetórias, com a mediação do desenhista e professor Alexandre Valença Alves Barbosa.
Douglas MCT conta que começou a desenhar através de séries animadas que admirava, ainda nos anos 90, e, em 2005, surgira uma oportunidade de trabalhar na empresa Maurício de Sousa Produções. Em 2007, ele se muda para São Paulo, começa a trabalhar como roteirista das histórias da Turma da Mônica. Com formação em Criação e Produção Audiovisual, também realizou diversos trabalhos em produção multimídia, na produção de vinhetas animadas. Publicou ainda os livros O Coletor de Almas e a série Necrópolis, além de outros contos, e atuou como editor-chefe da revista Neo Tokyo.
Em relação às suas histórias, Douglas MCT conta que suas referências vem das mais diversas séries de quadrinhos de diferentes nacionalidades, e menciona a “richa” existente entre leitores e criadores de mangás e comics, ou quadrinhos americanos, notando haver um certo preconceito de uma parte ou de outra. Menciona, ainda, que o mangá Hansel & Gretel, inicialmente anunciado em 2009, está agora prestes a ser lançado. Seu principal projeto atual é o website Lamen, um leitor virtual de histórias em quadrinhos selecionadas, publicadas por autores nacionais. No website, vem realizando um trabalho de editoração e revisão das obras que recebe.
Já Leandro Altafim conta que, inicialmente, que antes de trabalhar com desenhos e ilustração, seu sonho mesmo era ser jogador de futebol; no entanto, por conta de uma lesão, acabou não podendo seguir na carreira, e investiu no sonho antigo de ser desenhista. Assim, em 2007 cria a HQ Shadday, que fora lançada no Anime Friends do mesmo ano, e posteriormente passa a lecionar desenho e criação de histórias, profissão que exerce até hoje. Conta-nos, então, as tendências dos alunos que chegam até ele, com interesse em criar suas próprias histórias, e na maioria com mais interesse em desenho que em roteiro. Conta, também, que como educador, um dos fatores importantes a serem trabalhados é o ego do jovem, que muitas vezes chega com pouco material pronto, pensando em criar um épico, incentivado pela família e os amigos.
Leandro Altafim fala também sobre os grupos de Internet, como os de Facebook, nos quais os jovens costumam lançar seus projetos, divulgando-os para pessoas que podem eventualmente estar interessadas em lê-los. Nestes grupos, como Douglas MCT também explica, existe muito amadorismo, mas também serve como uma porta de entrada para grandes profissionais. Douglas MCT explica, ainda, que no seu website, Lamen, as histórias são selecionadas previamente, diferentemente destes grupos; assim, uma produção amadora pode ser aperfeiçoada e adequada a certos padrões de qualidade, para ser publicada.
Além de falarem sobre o desenho, debatem ainda as tendências do mercado de impressos, atualmente liderado no segmento de mangás por três editoras – JBC, Panini e NewPop – mas que, no entanto, ainda sofre com o monopólio das grandes marcas, e os subsequentes problemas de distribuição que isto causa. Assim, explicam, muitos mangás nacionais não deslancham, e sua venda acaba sendo reservada para as livrarias especializadas, como tem acontecido mais recentemente com as produções nacionais do Studio Seasons, o qual é continuamente elogiado por ambos, mas, acreditam, é insuficientemente reconhecido pelo leitor nacional. Assim, um dos problemas que ambos enxergam no mercado de quadrinhos atual é a pouca divulgação das obras, sobretudo nacionais, que por vezes possuem uma qualidade tão boa ou melhor que as estrangeiras.
Eles também mencionam a popularização da cultura Geek e Nerd em anos recentes, que se deu, por exemplo, através dos lançamentos dos filmes de superheróis, e como isso alavanca a criação de histórias em quadrinhos. Entre outras lições, Douglas MCT explica as definições do que seriam a saga e o arco, e também as diferenças entre escrever um roteiro para um livro e para uma história em quadrinhos, e ainda para um mangá, uma vez que cada um possui sua linguagem diferente. É preciso vivenciar cada cultura e forma de expressar a história, segundo Altafim, para aprender a produzir um bom material adequado ao formato.
A palestra foi bastante proveitosa, certamente, para os criadores, uma vez que, além de darem várias dicas e relatos de suas próprias experiências práticas, Douglas MCT e Altafim mencionaram diversas oportunidades e portas de entrada para novos criadores, e provaram por A + B que o mercado de histórias em quadrinhos nacionais existe e está em franca expansão, sobretudo com a ascensão do uso da Internet e as novas possibilidades de divulgação e marketing que surgem com isto.
Originalmente publicado no NotLoli