Domingo (18) foi o dia em que os morcegos separaram suas melhores roupas e saíram da caverna em direção ao Tokio Marine Hall, em São Paulo, para uma noite embalada pelo rock de The Sisters of Mercy. Mesmo com um repertório questionável e apresentação cruelmente curta, a banda conseguiu marcar, entre altos e baixos, sua sétima vinda ao Brasil, com realização da Toplink Music, de forma positiva. Quer saber mais? Acompanhe a cobertura completa do Suco de Mangá a seguir.

A imagem icônica de The Sisters of Mercy é intocável e isso não dá pra negar. Mas, depois de uma apresentação repleta de pontos negativos, muita gente voltou pra casa com os sentimentos bagunçados e uma pergunta na mente: será que, em 2023, este ainda é um show que vale a pena ver ao vivo?  Para o Suco, a resposta é: SIM!

As expectativas para a apresentação única no Brasil estavam altíssimas. O Tokio Marine Hall, supreendentemente lotado, contava com um público variado em faixa etária, mas uniforme em estilo. Assim, pouco antes das 20h, já era possível visualizar uma multidão trajada em pretinho-nada-básico, ocupando cada pedacinho da casa de shows.

Andrew Eldritch (membro fundador e vocal), Ben Christo (guitarra), Dylan Smith (guitarra) e Ravey Davey (drum machine “Doktor Avalanche”), integrantes da renomada banda de gothic rock que influenciou nomes como Ghost, Depeche Mode e Rammstein, ainda conseguem impressionar. Assim como a plateia, os Sisters estavam repletos de expectativas. E, naquela noite fria, o entusiasmo dos fãs brasileiros foi capaz de aquecer o clima para recebê-los, como previsto, às 20h.

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Foto: @brunobellan / @sucodm

As Irmãs ainda dão conta do recado? 

Em entrevistas concedidas aos portais brasileiros pouco tempo antes da chegada da banda ao Brasil, Christo falou sobre o que o público poderia esperar da setlist desta turnê. Segundo ele, a seleção buscaria “equilibrar clássicos com músicas recentes” pois, entregando hits, o público ficaria mais aberto ao novo. Entretanto, ficou claro que o resultado foi totalmente o oposto. Era nítida a forma como a empolgação parecia surgir somente em momentos como o de Dominion/Mother Russia, fazendo com que os novos trabalhos – a maior parte deles, muito bons – se perdessem na fumaça e nos vocais baixos de Eldritch.

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Foto: @brunobellan / @sucodm

A noite começou com a “nova” Don’t Drive On Ice, seguida de Ribbons, Alice e I Will Call You, outro novo trabalho. Os vocais de Andrew, assim como os backing vocals de Christo e Smith, infinitamente mais baixos se comparados ao volume do transformer instrumental de Ravey Davey. No que parecia um eterno esconde-esconde, tanto da imagem de Andrew, quanto de sua voz, o incomodo do público ocasionou num coro de “Aumenta! Aumenta! Aumenta!”, que só foi atendido quando já estávamos quase na metade da apresentação, em Instrumental 86. A melhora foi significativa, mas o som ainda continuava baixo. Agora, o apoio dos guitarristas, extremamente performáticos, parecia “segurar a barra” para Eldritch, dando a entender que, talvez, ele estivesse tentando disfarçar uma falta de potência vocal.

Além do áudio fraco, a versão enxuta de alguns clássicos também foi um inconveniente. Na tentativa de comprimir vinte canções em uma apresentação de pouco mais de uma hora, a canção More, por exemplo, foi desmembrada e reduzida à meros 3 minutos. A intenção de apresentar trabalhos ainda não lançados oficialmente, mas que são tão bons que merecem uma gravação digna de novo álbum, foi atrapalhada pelo tempo a cumprir pois, sem sombra de dúvidas, Sisters of Mercy tem discografia para dar um espetáculo com horas e mais horas de duração.

Despedida precoce

Acontece que, quando a plateia e banda finalmente pareciam estar em perfeita sincronia, o show já se aproximava do fim. O encore com Lucretia My Reflection, Temple of Love e This Corrosion encerrou o baile gótico de forma empolgada, lavando a expressão insatisfeita que antes, junto à maquiagem carregada, pintava a feição de grande parte dos espectadores.

Por fim, em meio aos erros e acertos na penumbra do Tokio Hall, que não parecia nem um pouco preparado para um show esgotado, é possível dizer que o saldo foi positivo. Afinal, mesmo com a avalanche de atrações internacionais vindo ao Brasil em 2023, não é todo dia que se tem o prazer de poder prestigiar um dos maiores nomes do bom e velho rock n’ roll, né?

A apresentação única no país, três anos depois da última visita das Irmãs por aqui, abraçou às sombras e proporcionou um momento para realização de sonhos, celebrando, com maestria, a história do rock gótico.

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Foto: @brunobellan / @sucodm

Setlist The Sisters of Mercy (São Paulo/2023):

  1. Don’t Drive on Ice (2022)
  2. Ribbons
  3. Alice
  4. I Will Call You (2020)
  5. But Genevieve (2020)
  6. Dominion/Mother Russia
  7. Summer (1997)
  8. Show Me (2020)
  9. Marian
  10. More
  11. Instrumental 86 (2019)
  12. Doctor Jeep/Detonation Boulevard
  13. Eyes of Caligula (2020)
  14. I Was Wrong
  15. Crash and Burn (2000)
  16. On the Beach (2020)
  17. When I’m on Fire (2020)

Encore:

  1. Lucretia My Reflection
  2. Temple of Love
  3. This Corrosion

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