A animação Elementos, dirigida por Peter Sohn, é a nova cartada da Pixar para encantar os espectadores. Encanta? Em grande parte do tempo sim — o filme discute inclusão, relações familiares, sonhos e preconceito com leveza e eficácia, enquanto usa os quatro elementos como plano de fundo.
Enredo de Elementos
O filme apresenta quatro povos: Ar, Água, Terra e Fogo. Três deles vivem em harmonia e construíram a Cidade dos Elementos onde vivem, mas o poder destrutivo do fogo faz com que eles sejam afastados dos demais e vivam nos arredores da cidade.
A família de Faísca, protagonista do filme, é uma das que moram nessa parte da cidade e sofrem com a separação. O flashback inicial apresenta a ida deles para o novo lar, a construção da loja e principalmente as dificuldades para encontrarem um lugar nesse ambiente.
Além da sequência expositiva, o filme relembra constantemente essa diferença entre os povos visualmente. A Cidade dos Elementos é imponente e distante, com cores vibrantes, enquanto cores pastéis dominam o subúrbio, mas pontuadas por alguma corzinha aqui e ali.
Toda família deposita em seus filhos algum tipo de esperança e a de Faísca é que ela assuma a loja da família, mas para isso precisa controlar suas emoções. Entra em cena um delicioso clichê para ajudar nisso: o amor.
Fogo e água podem se misturar
Durante um evento na loja da família do qual Faísca é responsável, as emoções fogem do controle e um cano quebra — água perto de fogo não é bom sinal. Entretanto, esse acidente coloca na vida dela Gota, personagem do povo da água.
Enquanto Faísca reprime os sentimentos até explodir, ele é o oposto: os expõe aberta e chora muito. Os dois veem a forma como cada um reage à situações e fica evidente que precisam encontrar um meio termo para lidar com as próprias emoções. Algo borbulha dentro deles, mesmo que demorem para perceber ou assumir.
Além de apresentar a dinâmica entre os dois personagens, os roteiristas John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh usam o acidente da loja como o vento que move a história e os dois personagens.
A parceria entre fogo e água nasce para consertar os problemas da loja da família de Faísca e evitar seu fechamento. Os momentos de interação entre os dois são destaques no filme e a naturalidade como tudo ocorre é o que mais me impactou.
Qual é o meu sonho?
Todo jovem quer escrever a sua história e encontrar o seu lugar no mundo, Faísca não é diferente. Existe um conflito interno da personagem: seguir o sonho da família vs. buscar o que realmente deseja.
Tomar essa decisão não é fácil e esses momentos são usados para mostrar a vulnerabilidade da protagonista. Acrescenta uma motivação pessoal na aventura e torna fácil criar identificação com a personagem.
O visual de Elementos
Eu sei que disse que as interações entre os personagens é o que mais me impactou, mas ganhou por pouco. O universo criado por Don Shank, designer de produção do longa, precisa ser citado.
Cada um dos distritos da Cidade dos Elementos honra as características de cada povo e as diferenças visuais ressaltam as culturas distintas e o elemento migratório da narrativa. Ou como Shank disse:
Não queríamos criar um mundo homogêneo. Queríamos celebrar todas essas diferentes culturas e personagens vivendo e trabalhando juntos.
Desfecho de Elementos
Todos os elementos narrativos (perdão com o trocadilho) desaguam na escolha de Faísca seguir o que deseja: a paixão pela arte e se relacionar com Gota. Família, amor, a separação que a cidade opõe e a paixão pela arte colidem com a protagonista e a obrigam a tomar as difíceis, mas necessárias decisões para evoluir.
E, claro, a loja da família também é salva — estamos falando de um filme da Disney, né?
Veredito
Elementos toca em temas interessantes, se escorando em clichês narrativos é verdade, mas que convencem. É palpável como os roteiristas, animadores e designers derramaram paixão na construção dos personagens e do universo.
Dito isto, Elementos é, sem dúvida, um filme que vale a pena assistir.