Estamos de volta com o belíssimo jogo da Ubisoft, Child of Light. Por aqui falaremos um pouco dos conceitos artísticos trabalhados no jogo, um material que senti falta em sites especializados e que sentimos na obrigação de fazer. Espero que apreciem! 😀
A história por trás da estória
Não se engane pela simplicidade da narrativa ou mesmo com o desenrolar do jogo. A imersão que o jogador tem com Lemuria é imensa e aconchegante. A cada capítulo deste livro-jogo, nasce uma ansiedade para saber mais e mais do desenrolar do enredo. Mais do que escrever aqui, é mais bacana você ver o vídeo abaixo, que já vem com a introdução do jogo:
O enredo criado por ‘Jeffrey Yohalem’ é bem amarrado e dá na cara que ele quer trabalhar com o conjunto da obra e não com núcleos separados, já que as missões paralelas são praticamente um “extra” no jogo, o que evidencia um enredo linear mais próximo possível de um conto de fadas.
A questão de livro-jogo não fica apenas pela forma em que a história é contada, como o típico conceito da Jornada do Herói, mas também pelos diálogos serem todos em poesia.
Seria possível um livro ilustrado do jogo?
Algo bacana à ser citado é quanto a Austria. O país fica bem no centro da Europa, vizinho de países como Alemanha, Itália e Hungria. O que dá pra se dizer quanto a isso? É sabido que a quantidade de cultura intelectual austro-húngara exportou é imensa – vide Freud, Mozart e Arnold Schwarzenegger *brinks* >.< – e não é de se estranhar um mix de contos de fadas ou referências que a galera da produção fez. Antes de citar alguns trabalhos literários que o jogo pode ter se inspirado, vamos falar um pouco sobre Lemuria.
Assim como Atlantida e Mu, o suposto continente de Lemuria se perdeu nas histórias e nas catástrofes e fazia uma conexão entre a ilha de Madagascar, sul da Índia e oeste da Austrália. Há quem acredita que este continente veio até antes mesmo de Atlantida e de que os habitantes desta terra perdida, teriam poderes mágicos esquecidos pela humanidade.
Child of Light é em sua essência um jogo da Luz contra as Trevas e do Bem contra o Mal, clássico e clichê não é? Mas o que dá a cereja do bolo são algumas cenas que você pode se identificar enquanto joga, como a ameaçadora enchente no reino de Aurora, algo que é até comum em Viena – veja AQUI – e que tentam contornar até os dias de hoje. Além de cenários e alguns fatos históricos, trechos do despertar de Aurora em Bela Adormecida e até mesmo do despertar de Branca de Neve, com os anões no trecho da fábula e com os companheiros no trecho do jogo. Quem aqui não se lembrou das crônicas de Arthur, quando Aurora conseguiu a espada? E se pensar na cidade Bolmus Populi – a dos ratos – como uma analogia inversa de Flautista de Hamelin? Já que Aurora é detentora de uma flauta e tudo mais!
Não é só um roteiro bem construído – e infelizmente corrido em alguns momentos – e de poesias que o enredo de Child of Light é mágico, e sim pela adição de elementos da fantasia e dos contos, que ouvíamos ou assistíamos quando crianças que torna o jogo imersivo como um livro de fábulas.
Veja um pouco mais da criação e da questão poética do jogo:
Sound of Light // Som da Luz
Além de alguns efeitos nostálgicos já citados acima, o jogo também remete aqueles livros infantis musicais. Não somente aqueles que enquanto você lê, toca uma leve musica, mas também os audio-books ou vinis que narravam as fábulas e histórias. Nada mais justo que a trilha sonora entrar nessa também não é?
Curiosidade: A narração do game é feita pela Luiza Caspary, cantora e dubladora, feito papéis como o de Ellie em The Last of Us. Sua voz doce e sutil combina muito bem com o tom do game.
Além das referências artísticas e conceituais, jogos como Final Fantasy e Grandia são grande inspiração para toda produção da Ubisoft para o jogo. E porquê não para a compositora?
A música foi composta por ‘Coeur de Pirate‘ ou também conhecida, ‘Béatrice Martin’, canadense, 24 anos e fã de jogos de RPG Japonês! Escolha mais que perfeita não é? Além de estar pertinho da Ubisoft Montreal, esta proximidade que a artista tem com o universo dos jogos, deu ainda mais naturalidade na bela trilha do jogo, ou como um dos produtores diz: “Doce, Imponente, Magistral e Operístico”.
Assista um pouco do Making Of que fala desta questão da trilha sonora:
Um fator interessante e que tornou a música ainda mais atraente para o jogador é de que a composição foi feita por uma garota que vive a industria musical “popular”, ou seja, não é um compositor que apenas faz trilha para os jogos. Essa troca possibilitou que Béatrice desse seu lado “gamer”, podendo compor algo de acordo com seu sentimento em uma cena ou capítulo em específico.
Veja o vídeo abaixo com a música de encerramento ‘Off to Sleep’, ao vivo:
EXTRA: O #bellan se emocionou tanto com o jogo que até gravou a música na flauta.
Fantasia em Aquarela
Na questão estética e talvez a que seja a mais chamativa do jogo, Child of Light é soberano. Totalmente desenhado à mão, muito até do concept art foi usado na programação final do jogo. Pra quem gosta de Hayao Miyazaki e seus longas do Studio Ghibli ou mesmo da estética dos desenhos e arte de livros de contos de fadas, vai passar horas de vislumbre em todo o decorrer do jogo.
Cada região é única e mesma na ausência da luz, roubada por Umbra, as belas texturas aquareladas dão um toque sutil, de leveza e de pura fantasia mística ao jogo. Desde em seu início, com a introdução poética contada em vitrais ou até o azulado Mar de Cynbel, este compromisso com a arte visual não decaiu em nenhum momento do jogo.
O jogo recebeu uma homenagem, de ninguém menos que Yoshitaka Amano, olha só no vídeo:
Os capítulos e regiões de Child of Light são como grandes telas vivas. É bacana pra quando você estiver jogando, utilizar um monitor ou display de médio ou grande porte. *A experiência num monitor de 23 polegadas por exemplo, é bem gratificante.
Veja um pouco da arte conceitual das fases e regiões:
A Evolução de Aurora
A composição para o produto final de ‘Child of Light‘ gerou algumas dúvidas para o diretor de arte ‘Thomas Rollus’, mas o interessante que a mudança de estágio de vida para Aurora, já era programado. Porém, o seu design não! Olha só como era:
A primeira ideia era de que Aurora teria entre 14 e 16 anos, seria travessa, curiosa e não teria medo de nada. Além disso, ela teria cabelos curtos, por uma questão lógica de facilitação da programação – quem é gamer sabe que cabelos compridos sempre é uma tarefa árdua para os desenvolvedores – e teria um visual mais arrojado e moderno.
Depois de mais alguns estudos e do feedback do pessoal onde Aurora deveria ter traços únicos e caricatos, a segunda ideia já se aproximava da final.
Até que chegou o momento em que alguns rascunhos aqui e ali da galera artística, definiram o visual final mais caricato e com sua espada gigante! Está aprovado não é?
Então é isso pessoal! Espero que tenham gostado de saber um pouquinho deste mágico universo do game Child of Light. Dê uma chance se aventure por Lemuria – você não irá se arrepender!