Em 2018, na Temporada de Verão 2018, tivemos um anime que conseguiu conquistar mais do que apenas os fãs de anime, mas médicos, estudantes de medicina e professores de biologia ao redor do mundo.
Não é a primeira vez que o nosso corpo é apresentado por analogias, sim, todo mundo percebeu isso e o anime foi de certa maneira menosprezado por isso. À toa, eu digo, pois Cells At Work! (Hataraku Saibou) apresentou o universo de 37,5 trilhões de células com um carisma até então inédito. Vejamos um pouco melhor o que foi uma das melhores transmissões da Crunchyroll em 2018!
Comparando e Compreendendo
Pessoalmente, as aulas de biologia nunca foram muito fáceis de acompanhar, mas até que conseguia achar as coisas um pouco interessantes. Só que houve um momento quando conheci Parasite Eve, um jogo para PSX e desde então eu nunca mais esqueci que as mitocôndrias eram o que dava energia às células do corpo, sendo a fonte de energia que fazia o núcleo do jogo.
O que deu pra perceber com a repercussão global de Cells at Work, é que essas analogias facilitam muito o nosso entendimento. Ozzy & Drix deixava tudo com uma cara de uma série de polícia e bandido. O anime vai além. Não se trata apenas de mostrar as várias bactérias que nos invadem a todo o momento, mas também mostrar as várias células e os vários “departamentos” do corpo humano como uma grande sociedade onde cada um realiza sua tarefa para manter uma certa harmonia. Células estas que integram uma grande família.
Uma Grande Família
Não, as plaquetinhas não chamam as hemácias de “onee-san” apenas por educação. Ed Hope, um médico britânico (e talvez o mais simpático do mundo), vem fazendo uma série de REVIEWS em seu canal. No segundo episódio, ele nos conta um pouco mais sobre o nascimento desses glóbulos vermelhos, brancos, as plaquetas e até das macrófagos. Todos eles nascem da mesma célula em nossa medula óssea.
Na medula óssea, onde estão nossas células-tronco, surgem células progenitoras chamadas “mieloides”. Dessa única célula nascem todas essas principais do anime, até a mãe das plaquetinhas, que se chamam “megacariócitos” e que já apareceram no capítulo 26 do mangá!!
Então fica o aviso, se em algum momento você chegou a shippar a glóbulo vermelho com o glóbulo branco, sinto lhe informar, mas este shipp está na mesma categoria de Yosuga no Sora e se encontra em sexto lugar.
É Importante Se Cuidar
Essa pequena ilustração, bem básica, do tipo que todos nós aprendemos no ensino fundamental/médio, já mostraria o porquê dos transplantes de medula serem tão importantes, pois estamos falando do lugar onde a todo momento nascem novas células, renovando o corpo.
E é incrível como Cells at Work consegue fazer com que a gente sinta a importância de cuidar do corpo! Lá para o final do anime, no episódio 10, temos um caso de alta febre por piorada por desidratação. E o desespero é real: os reservatórios de água estão secos e chega ao ponto de fazerem dança da chuva para que caia água de qualquer jeito! E ora, secas não foram a maior desgraça possível para populações inteiras desde que o mundo é mundo? E as maiores civilizações globo afora não conseguiram ser o que foram por terem sido erguidas perto de grandes rios? (pensem aí, no Rio Amarelo, o Tigre e o Eufrates, o Lorena e por aí vai)
Ao mostrar uma dificuldade do corpo de um jeito que lembre muito uma dificuldade que existe até hoje em muitos lugares que sofrem com a seca, o anime revive em nós o meme mais consciente que já existiu: vamos se hidratar.
…e é importante cuidar!
O final do anime foi emocionante. Os dois últimos episódios trataram das hemorragias. Muito mais grave do que apenas uma ferida comum, os glóbulos brancos encontram desertos sem qualquer hemácia à vista. O corpo entra em estado de emergência e não há nada que ele consiga fazer para conter a perda de sangue. E por que isso é tão grave?
Enquanto o corpo tem perdido hemácias, o oxigênio está sendo empilhado aos montes e há menos células para distribuir esse oxigênio pelo corpo. Todas as outras células que precisam desse oxigênio começam a sufocar e a morrer. E como não há mais tanto sangue circulando, o corpo esfria. É o fim do mundo.
Até que surgem hemácias sabe-se lá de onde. Seus uniformes são um pouco diferentes e eles falam com um sotaque bem diferente. É como se centenas de maranhenses chegassem do nada em Mato Grosso. E é com essa analogia genial que Cells at Work ilustra uma transfusão de sangue: a chegada repentina de células estrangeiras que foram capazez de salvar aquele corpo em seu momento mais crítico.
Doar sangue nunca foi demonstrado como algo tão importante em nenhum outro momento da cultura pop mundial, disso eu não tenho a menor dúvida. Não bastasse o enorme carisma dos personagens (Plaqueta-chan que o diga), o bom-humor bem dosado e a boa recepção alcançada até mesmo entre profissionais, eu não tenho como não levar esses sucessos que extrapolaram o anime em conta. Dito isso, Cells at Work merece cinco suquinhos, sem nem pestanejar!
Recomendo com força nossa outra matéria sobre o anime, que dá foca melhor nesse aspecto educativo do anime, levemente comentado aqui. E se você entende um pouco de inglês, você TEM que assistir a série de reviews que o Dr. Hope está fazendo sobre Cells at Work em seu canal!