Livro produzido por Drauzio Varella, Carcereiros traz o outro lado desse cotidiano, o lado dos agentes carcerários e todo o dia a dia da profissão, um aprendizado sobre a relação carcereiro x detento, questões burocráticas e riscos da profissão.
Dito isso, entra na lista de livros que ganhou uma adaptação para as telonas, Carcereiros: O Filme consegue trabalhar a realidade de quem trabalha na área, em paralelo com quem está preso, mas tropeça em questões técnicas e explanam alguns furos que podem condenar o filme.
Ação Oitentista
Antes de mais nada, vale um ponto importante, a Globo Filmes saiu da zona de conforto e entregou um filme de ação quase que níveis oitentistas, diminuindo aquela dramatização novelesca e deixando de lado a comédia pastelona já apresentada inúmeras vezes pela produtora.
Carcereiros é a prova que coisas diferentes podem ser produzidas, mesmo que usufruindo do talento de velhos conhecidos das novelas da Rede Globo, trazendo nomes conhecidos entre Porta dos Fundos e outros canais da internet, e claro trazendo nomes novos que agradam ao público, eis que vem um ponto a comentar.
Boas atuações
Kaysar Dadour, o ex-BBB, conseguiu mostrar seu talento e provou que pode ter uma carreira de sucesso como ator, mas foi barrado em um pequeno problema chamado roteiro. Aliás, todos os personagens possuem problemas de personalidade e desenvolvimento por causa de plots e acontecimentos do filme. Tanto o protagonista Rodrigo Lombardi como secundários como Rafael Portugal e Rainer Cadete, além de outros personagens, precisam se virar nos trinta e moldar o papel para algo diferente a nível extremo.
Um adendo fora da curva deve ser destacado, isso não é um problema do filme e sim das pessoas em si, Isaac Bardavid foi o alívio cômico da trama, e conseguiu faze-lo maravilhosamente, sem esquecer de Milton Gonçalves e Tony Tornado, dois pontos que se destacaram para boas risadas, dito isso, não se encontra o porquê das pessoas darem risada em todas as cenas de Rafael Portugal e Dan Stulbach, sendo que um gera o debate do presidiário bonzinho e outro é o plot que desenvolve a trama para o grand finale, isso que nenhum deles fazem algum tipo de piada, sátira ou algo dentro do cômico.
Por Rafael ser humorista e fazer stand up e Dan já ter feito parte do CQC, as pessoas não souberam dividir o primeiro impacto ao conhecer o trabalho desses atores com um personagem fora do comum deles (aos olhos da nova geração), gerando uma onda de risadas em cenas dramáticas ou construções de trama onde o alívio cômico não se mostrava presente, por mais que possa parecer uma reclamação pessoal, deve-se dizer que isso te tira do filme, cenas sérias e o público rindo porque eles lembram de momentos engraçados dos dois chega a ser importuno.
Viradas bruscas
O roteiro que se divide em drama de um carcereiro com a ação desenfreada poderia ser um equilíbrio que se colocaria como um dos melhores roteiros do ano, mas as viradas de mesa e elementos acrescentados na história distorcem a trama a ponto de ultrapassar os limites do impressionante ou surpreendente e chegar ao absurdo e confuso, talvez transformar um filme de ação com tons dramáticos para uma ação quase que níveis Duro de Matar te tira o chão e foge muito para longe do que o filme quis trabalhar em si.
Todos esses pontos negativos já te tiravam do filme, mas a grande falha desse filme é o jogo de luzes piscantes com cenas tão fechadas que torna todo o momento de ação em algo visualmente bagunçado.
Com um pisca-pisca de luzes falhando e disparos dentro do presídio em meio ao blackout, o continuísmo dessas cenas no filme fazem você ter que desviar o olhar ou fechar os olhos de tão doloroso que se torna uma cena contínua dessa; foi algo muito mal trabalhado na parte de filmagem e jogado na mão da edição que só deixou mais nítido o problema. A poluição visual dessas cenas se torna incômodo e antes fosse usado poucas vezes, ela se torna frequente e entrega aquelas cenas de ação onde trocas de tiros ou confrontos físicos são desfocados, tremidos e cortados de forma seca para tentar desenvolver a empolgação por uma cena agitada, usar e abusar dessa tática do início ao fim do filme é o tiro que saiu pela culatra que condena a produção, ofusca grandes personagens e não esconde os problemas de roteiro.
Adaptação vs Livro
Carcereiros – O Filme poderia ter sido um grande marco do cinema nacional, mas entra na lista de adaptações fracas de livros bons, lembrado pelo Kaysar por sua participação no BBB e não por sua atuação, o conjunto da obra se mostra mal desenvolvida, fraca em empolgação e cansativa de assistir.
Contudo destaca um ponto interessante, a chance da Globo Filmes engavetar as velhas comédias extrapoladas de vez e seguir caminho para filmes de ação, dentro dos estilos brucutu oitentista ou algo mais dramático onde um personagem quebrado seja desenvolvido, de produção em produção, a produtora prova que pode expandir seus ares e sair da caixinha.