Sobre BUCK-TICK, um pilar do visual rock

Com mais de trinta anos de carreira e um sem-fim de artistas por eles influenciados, BUCK-TICK é uma das bandas mais famosas dentro e fora do Japão. Afinal, seu som mudou consistentemente com o passar dos anos, nunca ficando preso num estilo. Ainda é possível traçar um fio condutor nas melodias que mantém um tom simples, sem super elaborações, riffs complexos ou coisa do tipo. Ao invés disso, o BUCK-TICK optou por arranjos memoráveis, que moram fácil no cantarolar de quem os ouve.

A ideia aqui é apresentar o som da banda. Existem fãs e fãs, cada tipo optando por um enfoque seu. Alguns tem um conhecimento enciclopédico dos seus artistas favoritos, com entrevistas em revistas e na televisão, causos, curiosidades e, por que não, fofocas mesmo.

Certo, existe sim um mérito de ser fã e querer saber tudo sobre a vida de seu artista favorito, pelo menos dentro dos seus devidos limites. Porém, este texto e seu autor são um tanto obcecados com música e música apenas, infelizmente. O lado bom é que para os recém-chegados, creio que essa apresentação será das mais diretas possíveis.

COMEÇANDO PELO INÍCIO

Primeiro, BUCK-TICK começou em 1983, com um grupo de amigos de ensino médio que resolveu aprender a tocar e a fazer música do zero. Por quase dois anos a banda ficou com o nome de Hinan Go-Go e contava com os guitarristas Imai Hisashi e Hidehiko Hoshino, o baixista Yuta e o então baterista Atsushi Sakurai, com Akira assumindo os vocais.

Então, terminando a escola em 1985, a banda começou a levar suas atividades mais a sério. É nesse momento em que Akira se despede da banda e Sakurai assume os vocais. Assim, Yagami Toll, irmão mais velho de Yuta, entra como baterista e o BUCK-TICK passou a ter a sua mesma e ininterrupta formação nos últimos 35 anos.

Nesses 35 anos de banda, podemos dividir grosseiramente e de forma bastante arbitrária o estilo músical da banda em quatro fases. Portanto, a primeira vai até 1989, a segunda pega os anos de 1990 até 1997, a terceira, bem breve, pega os anos de 1998 até 2000 e a última pega do novo milênio até hoje,

A FASE BOOWY (1983 – 1989)

Bom, nos primeiros anos de banda, o BUCK-TICK seguia um estilo de rock bem próprios dos anos 80 japoneses. Ou seja, guitarras usando e abusando de efeito chorus como se não houvesse amanhã. Quem tiver curiosidade de saber melhor ouvindo, temos festivais de banda inteiros por aí dando ótimos exemplos.

Porém, se existe uma banda que é ícone dessa década e que atravessou o Japão tanto quanto o X Japan, mas à sua maneira, essa banda foi o BOOWY. Afinal, as composições do BOOWY eram o norte de quem queria formar uma banda de rock naquele tempo. Por isso é possível perceber alguma semelhança aqui e ali com o que o BUCK-TICK compôs nesses anos. Até certo trejeito do Imai Hisashi, que gosta até hoje de dançar tocando guitarra, é possível de ver um paralelo com as dancinhas do Tomoyasu Hotei, guitarrista do BOOWY.

No entanto, apesar das fortes semelhanças, é um engano enxergar essa época como um tempo de covers. Desde seu álbum de estreia, Hurry Up Mode, temos tanto composições marcantes pendendo para o punk, como Plastic Syndrome e Moon Light e composições que já mostravam um talento para melodias únicas, como Telephone Murder e Fly High. Os primeiros anos da banda pegam discos como Sexual XXX, Seventh Heaven até Taboo, que tem Just One More Kiss como um dos hinos da banda até hoje.

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Imagem Divulgação

Visual

Apesar dos cabelos espetados para o alto, loiros e cheios de laquê (razão de pânico pra Chichi) e de BUCK-TICK ser de imensa relevância no movimento visual kei Japão afora, a banda nunca adotou o estilo para si.

É uma distinção bem difícil de ser feita às vezes, mas nem toda banda estetizada será uma banda visual kei, apesar de toda banda visual kei ter um forte apelo estético.

“Onde está a diferença então?”, alguém poderia me perguntar com todo o direito do mundo. E a resposta, complicadíssima, caberia em outra matéria. Só importa dizer aqui que BUCK-TICK não é visual kei tão somente porque é uma banda experimental demais para se permitir um rótulo, como é nítido na sua próxima fase.

A FASE DE OURO  (1990 – 1996)

O nome é brega, manjado até. Porém, se uso ele aqui é porque, sem sombra de dúvida, os anos 1990 até 1996 compõe a identidade musical pela qual a banda ficou conhecida até os dias de hoje. Afinal de contas, a primeira música que vem à cabeça quando falamos em BUCK-TICK é justamente ela, Dress, de 1993.

Será que foi o impacto da prisão do guitarrista Imai Hisaishi por posse de drogas em 1989? Fato é que depois de Taboo a banda mudou consideravelmente e Aku no Hana mostaria um lado inédito da banda. Dessa fase, Kurutta Taiyou é o lançamento que mais se destaca da banda, sendo provavelmente o melhor álbum já lançado até hoje, com pérolas como Speed, My Funny Valentine, Jupiter e Sakura.

Seguindo esse clima reformado, BUCK-TICK lançou um álbum de músicas regravadas, Koroshi no Shirabe. Ele tem versões inéditas de músicas mais antigas como Taboo, Hyper Love, Victims of Love e Love Me.

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Imagem Divulgação

Dress acabou de ser mencionada como a música mais famosa do BUCK-TICK. No entanto, surpreendentemente o álbum em que ela aparece, o darker than darkness parece ser tão, mas tão experimental, que sua popularidade ficou bem de escanteio. Mesmo assim, Ao no Sekai é uma música que se destaca no lançamento, até por ser talvez a única música lançada com slaps no baixo.

Na última parte dessa fase, o BUCK-TICK se voltou para um som mais cru, com menos uso de sintetizadores e voltando-se mais aos próprios instrumentos. Six/Nine é lançado em 1995, com músicas mais simples como Uta, Kodou e Kick. Em 1996 a banda lança  Candy, cujo clipe foi dirigido por Tomo Furukawa, vocalista da banda Guniw Tools.

Além disso, a semelhança fortíssima do estilo do clipe de Candy com os clipes do Guniw Tools exacerbam essa colaboração. No mesmo ano é lançado o álbum Cosmos, cuja música de mesmo nome e Ash-ra se destacam. Nesse disco, a banda começa a dar mais uma guinada em seu som antes de se estabelecer de vez.

A FASE TECHNO  (1997 – 1998)

Essa fase está mais para um momento do que uma fase própriamente dita. De qualquer forma, o lançamento de single Heroin com o álbum Sexy Stream Liner logo em seguida marca um momento tão distinto na história do BUCK-TICK que soa estranho não fazer esse marco. Durou pouco, até 1999. Mesmo Gessekai, de 1998, tendo um pouco mais do som de costume da banda, a tônica mais voltada para o eletrônico nesses dois anos é bem forte.

Desse tempo, as músicas que mais se destacam é a já mencionada Heroin, Kimi ga Shindara, Sasayaki e Gessekai. Essa última sendo a primeira música da banda a virar abertura do anime Nightwalker. Inclusive, talvez seja a abertura com a maior cara de encerramento que temos por aí.

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Imagem Divulgação

De 1999 em diante, o BUCK-TICK finca os pés num estilo mais confortável, ainda que aberto a experimentos aqui e ali.

A CONSOLIDAÇÃO (1999 ATÉ HOJE)

Na virada do milênio, aproveitando quase duas décadas ativas e criado um nome próprio nos anos 90, o BUCK-TICK entrou nos anos 2000 mais estabilizado. O som que a banda cria a partir de Miu não fica muito além de um mesmo eixo, mas ela ainda não ficará tão monótona quanto nos lançamentos da primeira década de 2010.

Assim, nos anos 2000 a banda flertará com estilos mais extravagantes, como o tango, o bolero e até as músicas de cunho circense como no álbum Juusan Kai wa Gekko, lançamento este acompanhado de shows mais elaborados.

É nessa época que bombam outras músicas da banda em aberturas e encerramentos de anime. Dress é usada na abertura de Trinity Blood (2005), Kagerou aparece como o segundo encerramento de xxx Holic (2008) e Gekka Reijin encerra mais outro anime, Shiki, de 2010.

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Imagem Divulgação

Detalhes à parte, álbuns que vão desde ONE LIFE, ONE DEATH e Tenshi no Revolver, até Razzle Dazzle, Yume Miru Uchuu e Abracadabra mostram que os últimos vinte anos do BUCK-TICK apresentam o lado de uma banda já bem consolidada que sentiu ter feito tudo o que quis fazer.

Isso pode ter significado em algum ponto uma certa estagnação em álbuns menos notáveis como Atom Mirai wa Nº9 e Nº.0? Pode até ser. Porém, não se pode subestimar o gênio criativo de uma banda com mais de trinta anos de carreira. Então, Izora, lançado agora em 2023, prova que o BUCK-TICK sempre terá onde nos surpreender, dando clipes sensacionais como Mugen Loop.

CONCLUSÃO: UM TOP 3 PARA OS AMIGOS

Então, pra deixar a coisa toda ainda bem mastigada, concluo com a próxima frase. Se você precisa de três álbuns para apresentar BUCK-TICK a alguém, a minha fórmula seria: Aku no Hana, Kurutta Taiyou e ONE LIFE, ONE DEATH. Afinal, são três cd’s que resumem bastante a essência do som da banda. E de quebra, se a pessoa tiver gostado do que ouviu, a recomendação aqui de ouvir o novo álbum Izora permanece firme e forte. Se essa matéria está sendo publicada agora, é justamente pela grata surpresa de ver que BUCK-TICK continua vivinha como sempre.