Universos onde “pessoas-animais” são parte do enredo é algo bastante comum em mangás, e eu sempre me vejo interessada nessa sociedades distópicas. Portanto, foi esse fator que me instigou a ler “Be My Love, My Lord”. Este mangá é do gênero Boys Love, escrito por Adumi Nagano e licenciado pela TokyoPop.
Enredo
Em um mundo onde humanos e “bestas” (metade humano metade animal) vivem juntos, os humanos são mestres enquanto as bestas estão ali apenas para servir. Nesse contexto, Reiji é o segundo filho de uma família rica, e por causa de todos os protocolos familiares, é extremamente solitário. No entanto, as coisas começam a mudar quando ele ganha Tsubaki como servo, uma besta que possui a mesma idade que ele.
Então, como eles cresceram juntos, se tornam cada vez mais próximos. Contudo, no meio de uma brincadeira os dois acabam cruzando a linha entre servo-mestre e se tornam amantes. Mas como essa relação poderia ser saudável em um mundo com tanta discriminação de classes e raças?
Apesar da sinopse sugerir uma grande reflexão sobre classes, a história é, na verdade, mais uma descoberta sobre sentimentos do que qualquer outra coisa. Sendo assim, Tsubaki, em seu trabalho como servo, nunca teve como diferenciar o que é dever e o que ele realmente sente como individuo. Então, por esse mesmo motivo não consegue expressar – ou compreender – se ama Reiji, ou apenas é forçado a amar devido ao seu papel social.
Por outro lado, Reiji é apaixonado por Tsubaki há muito tempo, mas tem completa compreensão do quanto os papéis que eles exercem podem influenciar nessa relação. Portanto, Reiji busca se afastar quando percebe que pode estar abusando do seu lugar como mestre.
Sentimentos à prova
O que eu mais gostei na obra foi justamente esse debate sobre “é meu sentimento verdadeiro, ou algo que foi imputado a mim?”. Afinal, isso levanta uma discussão enquanto ainda está no debate amoroso, sem a necessidade de situações externas. Não é que elas não existam, elas também estão lá, mas só servem como uma pequena fagulha para um debate que já vem se mantendo desde o começo da obra.
A arte é bonita e as cenas eróticas bem desenhadas, mesclando as possibilidades devido as diferenças de raças. Apesar de Tsubaki ser apenas 10% na escala furry (orelhas, rabinho e presas), em algumas cenas em que a diferença entre espécies é mais abertamente discutida seus instintos animalescos afloram.
Aliás, eu preciso também falar como muitos mangás adoram toda essa questão de heat (cio, em tradução livre), não só em obras do tipo furry mas também que abordam omegaverso. Eu acho engraçado porque parece que eles precisam justificar um grande acesso de vontade sexual, enquanto poderia ser algo mais simples como: eu só estava afim.
Considerações finais
Críticas a parte, é um mangá fofo, divertido, romântico e que me agradou bastante. Eu acho que o fato de ser volume único é bacana pois a história tem começo-meio-fim bem delimitados e não ficam enrolando, focando nos personagens principais (mas confesso que eu adoraria uns capítulos extras só de cenas cotidianas dos dois, porque eles são uma gracinha juntos).
Mesmo que não apresente nada de novo, Be My Love, My Lord consegue atingir o objetivo em que se propõe e é uma leitura leve e agradável.