É difícil de dizer o quanto o metal e suas vertentes permearam a vida dos jovens integrantes do SUCO, muito antes do Suco mesmo ser um sonho. Na mesma turma do Ensino Médio, uma coisa que não faltava entre nós era a troca de influências musicais, e isso quase sempre significou o descobrimento de uma nova vertente do heavy metal ou do rock pesado para algum de nós. A internet ainda estava nos seus primórdios, baixar músicas ainda era bem complicado (levanta a mão aí quem já procurou música por música de um álbum no Kazaa ou Emule), e não havia Youtube ou Spotify para acesso fácil, logo precisávamos queimar CDs e compartilhar entre nós as bandas que descobríamos.

Algumas memórias desta época marcaram a nossa vida. Lembro-me com clareza do dia em que saí para a aula de Educação Física e, inesperadamente, o riff sujo de Dam That River do Alice in Chains começou a escapar de uma caixa de som aos arredores da quadra, instantaneamente me tornando fã de Alice in Chains pro resto da vida. Ou então a forma como eu me recusava a escutar Nightwish, apenas porque era muito popular com o pessoal e o rebeldão aqui sempre quis questionar a popularidade das coisas, até o dia em que ouvi aquele maravilhoso riff de introdução em Dark Chest of Wonders e as coisas mudaram para sempre.

Ao meio de todas essas trocas, uma banda que estranhamente fez muita parte da nossa história foi o Swallow The Sun. Pode parecer um pouco estranho que uns jovens do interior paulista em meados de 2005 estivessem conectados o suficiente com o cenário do metal mundial para conhecer uma banda de death/doom finlandesa cujo som é, digamos, não muito acessível. Mas aquele primeiro disco do Swallow the Sun, o formidável The Morning Never Came, de 2003, por algum motivo estranho apeteceu a todos os jovens Sucolinos naquela época de adolescência, sua pegada igualmente melancólica e brutal se tornando constante em nossos discmans.

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CD que adquirimos da gravadora URUBUZ Records, presente no show em São Paulo!

Agora, 20 anos depois…

Com toda a bagagem de conhecimento metálico que acumulamos ao longo da vida, veio o momento certo para que o Swallow The Sun retornasse ao Brasil graças a Vênus Concert, e fizesse um show único em São Paulo, o qual nós PRECISARÍAMOS comparecer na última terça de carnaval (21). E deixem-me dizer uma coisa, amigos: é uma pena que a banda ainda não seja conhecida por um público grande em nosso país.

A casa de shows Fabrique Club não ficou lotada, e enquanto o Swallow The Sun nos emocionava com suas pedradas soturnas, apenas olhávamos ao redor e falávamos “que pena!”, pois foi um show absolutamente sublime.

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Merchandising Warshipper | Foto: @sucodm / @brunobellan
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Merchandising do Swallow The Sun | Foto: @sucodm / @brunobellan

Também foi uma boa para a banda de abertura, os sorocabanos do Warshipper, que nós estivemos presentes num show agora e não 20 anos atrás. Seria possível que nós, sem a bagagem de metal que possuímos agora, iríamos descartar a mistura de death/thrash do Warshipper como barulheira antigamente, mas hoje nós conseguimos observar marretadas como Glowworm Dragon, Axiom, e Religious Metastasis, e identificar todas as influências da banda.

Entre o bater de cabeças, pegamos uns riffs do Slayer, umas linhas vocais do Dissection, uma pegada de bateria vinda direto do Beneath the Remains do Sepultura, e nas músicas mais novas até mesmo um pouco do metal moderno do Gojira, sem contar os breakdowns lentos que o próprio Swallow The Sun apreciaria bastante. Inclusive, foi justamente isso que o vocalista Renan Roveran comentou com a gente após o show: “É isso aí, a gente pegou um pouco de cada coisa, fez uma mistura ali e já era!” Assim, foi uma ótima surpresa para a gente e uma nova banda pra colocar na rotação do nosso Spotify.

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Warshipper | Foto: @sucodm / @brunobellan

“Ó os cara aí!”

Mas, claro, estávamos lá para ver a banda da nossa adolescência. “Ó os cara aí!” foi o grito do Bellan pra mim ao ver o Swallow The Sun subir ao palco e iniciar sua introdução antes do riff majestoso de Enemy encher as paredes do Fabrique Club. Conforme as próximas músicas, a longa e misteriosa Rooms and Shadows, a clássica Falling World, e a linda e assombrosa Cathedral Walls, foram sendo performadas, também ficou clara a qualidade do som do Fabrique Club, mantendo a clareza e concisão das performances muito bem para um local tão pequeno, especialmente com o necessário playback da cantora Anette Olzon em Cathedral Walls.

Depois disso, vieram alguns dos momentos mais emocionantes do show para nós, pessoalmente. O guitarrista e compositor principal da banda, Juha Raivio, costuma escrever a maior parte das letras e melodias da banda, mas em especial o disco When a Shadow is Forced Into the Light, de 2019, é significativo por ser inteiramente trabalhado no luto por sua esposa, Aleah Stanbridge, que faleceu em 2016 por decorrência de um câncer. E nós, também, perdemos um amigo para esta doença maldita, o nosso querido Diego Bertanha, que também era um enorme fã de Swallow the Sun, e este disco foi o último que ele teve oportunidade de ouvir. As maravilhosas músicas Firelights e Stone Wings, advindas deste álbum, foram pontos altos do show, e pontos emocionais para todos nós, tanto que fui obrigado a comprar a camiseta com a letra de Firelights pra mim.

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Mikko Kotamäki exibindo sua camiseta do álbum Bloody Kisses (Type O Negative) | Foto: @sucodm / @brunobellan

Claro que não parou por aí. A última leva de músicas, começando com os teclados fúnebres em Don’t Fall Asleep (Horror Pt. 2), um clássico do disco Hope de 2007, nos levou de volta à adolescência. Encerrando o setlist principal, uma das mais belas músicas do disco da turnê, o Moonflowers, de 2021, This House Has no Home, com seus blast beats e guturais rasgados quase levando o lugar abaixo. A banda retornou ao palco com a também violenta Moonflowers Bloom in Misery, deste disco escrito inteiramente no período de pandemia, e nos levou de volta também aos períodos de desespero em que estávamos presos dentro de casa por tanto tempo.

Mas o final é que guardava a parte mais emocionante desta jornada para nós. A penúltima música, Descending Winters, uma das favoritas do segundo disco da banda, o Ghosts of Loss, de 2005, levou os fãs mais antigos ao delírio, provando o peso que o Swallow the Sun é capaz de transmitir. Por fim, a cereja do bolo, Swallow (Horror Pt. 1), a única música do The Morning Never Came que os finlandeses ainda tocam ao vivo, terminando de emocionar todos os velhos jovens de 2003 que repassaram seus CDs queimados com “Swallow the Sun” escrito em caneta marca texto.

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Swallow The Sun no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan

Depois do fim

Estávamos preparados para partir ao fim desta música, mas não estávamos preparados para que a banda saísse do camarim e viesse à frente do palco para autografar discos, conversar e tirar fotos com os fãs. Quem ficou teve a oportunidade de ter uma foto com cada um dos integrantes da banda. Eu e o Bellan, no entanto, tínhamos uma coisa em mente: conversar com Juha Raivio a respeito de nosso amigo Bertanha. Conversamos também sobre outras coisas, claro. O homem infelizmente confirmou pra gente que não está pensando em outros projetos além do Swallow The Sun para o futuro próximo, e que também não há planos para uma turnê comemorativa de 20 anos do The Morning Never Came (o que seria nosso sonho de adolescência, mas como disse o vocalista na nossa entrevista, ele espera nunca mais tocar Through Her Silvery Body de novo. Que tristeza!).

Mas Juha nos ouviu com enorme atenção ao contarmos sobre nosso amigo, o quanto ele era fã da banda, sobre como ele até cantava as músicas Swallow e Silence of the Womb na antiga banda da galera, a Opus Nocturne, e nos abraçou e tirou uma foto histórica com a gente!

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Renatão, Juha Raivio, Bellan | Foto: Gabi

Saímos deste show emocionados e com uma sensação de dever cumprido para com o nosso amigo. Esperamos que ele esteja contente, onde quer que esteja, que seu ídolo agora o conhece por nossa ação. E fica uma pequena esperança de, quem sabe, o Juha se inspirar e escrever uma musiquinha num próximo álbum para seus fãs brasileiros que o acompanham há tanto tempo. Por fim, esperamos que com esta matéria, mais pessoas conheçam a banda e menos pessoas percam o próximo show!

Texto por Renatão / Fotografia: BELLAN


Warshipper

  1. Barren Black
  2. Glowworm Dragon
  3. Numb
  4. Axion
  5. Religious Metastasis
  6. Respect
  7. Warshipper

Swallow The Sun

  1. Enemy
  2. Rooms and Shadows
  3. Falling World
  4. Cathedral Walls
  5. Firelights
  6. Woven Into Sorrow
  7. Stone Wings
  8. New Moon
  9. Don’t Fall Asleep (Horror Pt. 2)
  10. This House Has No Home
  11. Moonflowers Bloom in Misery
  12. Descending Winters
  13. Swallow (Horror, Part 1)

DESTAQUES WARSHIPPER + SWALLOW THE SUN

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Warshipper no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan
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Swallow The Sun no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan
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Swallow The Sun no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan
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Swallow The Sun no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan
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Swallow The Sun no Fabrique Club | Foto: @sucodm / @brunobellan

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