O Ato 1 da temporada 2 de Arcane foi uma obra de arte e um soco no estômago.
AVISO!! ESTE TEXTO CONTÉM UM CAMINHÃO DE SPOILERS!!
Ele nos traz perspectivas interessantes que não foram tão bem exploradas na temporada 1, como a rixa entre as gangues e a relação entre os outros Barões da Química. A passagem de “Sucker”, no segundo episódio mostra bem o cenário atual.
A Subferia mais virada do avesso do que o normal. Crianças sendo raptadas (provavelmente para tráfico humano, prostituição e trabalho forçado), ainda mais viciados em cintila e a Jinx no meio disso tudo, tentando superar seu luto pelo Silco, por sua irmã que definitivamente lhe deu as costas e pela Powder em si.
Junto a ela, Sevika se vê impotente, literalmente com um braço a menos e sem conseguir enfiar juízo na cabeça dos líderes de gangues que estão se matando pra conseguir a cadeira do Silco. Sem nenhum aliado, Sevika se junta à Jinx em busca de (des)ordem e vingança. No entanto, uma nova personagem aparece. Uma criança, espelho do que Jinx já foi um dia.
Crise no paraíso
Por outro lado, Piltover também está imersa em uma total bagunça. Pela primeira, vez o povo está com medo, se vê encurralado por Zaun e está sem metade do seu Conselho governante.
Nesse contexto, Ambessa aparece como uma verdadeira estrategista. Age nas sombras, instigando a revolta do lado baixo e aumentando o medo e a raiva do lado alto. Secretamente, ela mesma está amedrontada por uma ameaça tão perigosa quanto a guerra civil que está por vir: a Rosa Negra.
Inclusive, essa foi uma adição maravilhosa em Arcane, algo imprescindível quando falamos sobre a história de Noxus. Resumindo, Rosa Negra é uma organização que comanda Noxus pelas sombras, tendo como líder uma maga ilusionista que, se tudo der certo, pode aparecer nos próximos capítulos. Na série, ainda não sabemos exatamente o que ela quer, mas com certeza não é a paz entre nações.
Todos estão mudando
Como é sugerido na própria abertura da temporada 2, agora Arcane vai explorar o lado mais cru, sensível e íntimo dos personagens. Todos estão sofrendo alguma coisa.
Caitlyn está perdida, consumida pela raiva e pela dor de ter perdido sua mãe. Sente ódio da Jinx, arrependimento por não ter matado ela quando teve a chance e rancor pela Vi ter intervido — mais de uma vez.
Enquanto isso, Vi só tem Caitlyn para se agarrar. Já não tinha amigos ou família, e ainda perdeu o último vislumbre da sua irmã. Não tem uma casa no lado baixo, não é bem-vinda no lado alto e se encontra vestindo o uniforme que a vida toda enxergou como inimigo. Desesperada, ela faz um pedido quase injusto à Cait: que ela não mude.
Mas como ela poderia não mudar? Assim como a Jinx sofreu as consequências de seu trauma, Cait está passando pelo mesmo processo. A frieza e violência que ela mostra ao lidar com a população de Zaun é totalmente o oposto do que vimos na temporada 1. Antes, ela acolheu aquelas pessoas, se compadeceu de suas dores, lutou pelos seus direitos. Porém, como sustentar essa batalha depois de assassinarem sua mãe e terem feito um atentado no funeral dela?
Além disso, a fatídica e tão esperada cena entre Cait e Vi finalmente acontece, mas no pior dos cenários. Até que ponto uma iria pela outra? Quanto elas estão dispostas a abrir mão para ficarem juntas? Enquanto Vi aceita o seu destino com Jinx, Caitlyn sente o luto fervendo seu sangue.
Esse cenário, em contraste com o primeiro episódio deste arco, dói ainda mais quando lembramos que o único momento que Cait mostrou sua dor foi nos braços de Vi. Agora, elas caminham para caminhos opostos.
Nós ainda somos irmãs?
Apesar de toda a pancadaria em uma das cenas mais maravilhosas e bem-construídas da série, que transborda significado, as irmãs ainda não estão prontas a colocar o ponto final nessa relação.
Toda vez que Vi enxerga o mínimo vislumbre da Powder na Jinx, ela vacila (algo que a própria atriz de voz da Vi, Hailee Steinfeld, afirmou). Igualmente, mesmo que ela esteja vestida como Defensora, Jinx ainda vê sua irmã mais velha, aquela que sempre a protegeu.
Então, no meio dessa briga desesperada e afobada, Jinx olha para Vi da mesma forma que Vi olhou para ela no episódio 6 da temporada 1. Uma expressão de “eu não te reconheço mais”.
Afinal, vamos imaginar o peso dos sentimentos delas. Por quanto tempo uma só sobreviveu pela outra? Quantos anos, seja na prisão ou em Zaun, elas se mantiveram firmes por conta das memórias juntas ou pela esperança de se reencontrarem?
Agora, ambas se sentem traídas, sozinhas.
Comunicação primitiva
Algo sensacional e que de jeito nenhum pode passar batido é o quão bem-escrito, animado e pensado foi o episódio 3 da temporada 2.
Vamos por partes.
Primeiro, quando Jayce estava explicando a Ekko o que era a runa selvagem, falou que o suspiro que ele deu como resposta era uma forma de se comunicar. Uma forma natural, que não precisa de palavras para ser entendida, tal como as runas selvagens.
Então, eles descem para o subterrâneo, no coração do funcionamento dos Hexportais. Ali, eles veem, sentem na pele e na mente as runas selvagens, vivenciam aquilo. Ao mesmo tempo, Vi e Jinx estão lutando.
A briga por si só, uma trocação de soco honesta, selvagem, é uma forma de comunicação que não precisa de palavras. De uma forma ou de outra, é um diálogo entre elas, extravasando o que está preso há tanto tempo.
Onde essa luta acontece? No templo da Janna, a deusa dos ventos. Apenas um comentário, para nós jogadores de LOL (ainda mais das fadinhas, como eu), foi sensacional ver mais um campeão ganhando tanto destaque.
Enfim, é um lugar sagrado, místico, o lugar em si é uma forma de entrar em contato com uma entidade, algo que vai além da mera compreensão humana. Inclusive, lugar que está cheio de desenhos do passado delas. Memórias da infância, momentos traumáticos, até a morte do Silco está ali.
Tudo isso acontece ao som da música “To Ashes and Blood”, a única (ou uma das) que possui um cântico religioso de Shurima no refrão. Ou seja, a música tem a forma de linguagem que conhecemos — o inglês —, mas também tem essa parte que nós ouvintes não entendemos, algo desconhecido para nós.
Qualidade inegável
Este é apenas um exemplo do que faz Arcane ser uma obra-prima, uma verdadeira genialidade audiovisual. Não apenas a narrativa, elementos que acontecem na história em si, mas pontos complementares, como a própria música, estão interligados. Inclusive, tudo estar interligado é justamente uma das mensagens desse episódio.
Sinceramente, perfeito.
Dupla Hextec em crise
Em relação a Jayce, ele também está sofrendo. Percebe que sua criação, feita para ajudar o lado baixo e evoluir o lado alto, virou uma força destrutiva que não pode ser controlada e, aparentemente, nem destruída. Na tentativa desesperada de salvar Viktor, o transforma em algo que não é humano, que ultrapassa as compreensões da ciência e talvez até do Hextec em si.
Com isso, o próprio Viktor não se reconhece mais. O que ele é? Ele deveria estar morto, até desejou isso, mas agora encontrou função na sua situação. Se enxerga como um salvador, percebe que pode usar os seus “poderes” para salvar seus irmãos do lado baixo, algo que era sua vontade desde o início.
Conclusão do Ato 1
Enfim, o que vimos no Ato 1 da temporada 2 de Arcane são as consequências, principalmente, da luta entre Piltover e Zaun. Da busca implacável por tecnologia, avanço e soberania do lado alto, em contraste pela luta por dignidade, respeito e justiça do lado baixo.
Absolutamente todos estão machucados. Agora, salvo algumas excessões, eles agem pelos seus sentimentos, seja de medo, redenção, raiva, luto, paz ou vingança. Aconteça o que acontecer, o Ato 1 é um aviso do final: não existe final feliz.
