Vamos tirar o elefante da sala primeiro. Tecnicamente, o Closed Beta de Anthem foi deplorável. Você espera bugs de algo assim, alguns problemas de conexão, uns comportamentos estranhos dos personagens, mas não ficar preso na tela de loading a maioria do tempo. Funcionou, às vezes, mas não tinha uma vez que o jogo não ia pra tela de loading que eu ficava pensando se ia conseguir continuar jogando ou não. Ok, é uma build razoavelmente antiga. Segundo a Bioware a build é de 6 semanas atrás, mas esse problema do loading infinito pegou a produtora de surpresa. E estamos falando de um jogo que foi encerrada a produção essa semana. É assustador pensar que pode ter problemas assim quando o jogo lançar, em 1 mês.
Tirando isso o jogo tem seus problemas de otimização. No Fort Tarsis sempre havia queda de frames. As opções de customização ou não funcionavam direito, ou faltava informação. Às vezes era necessário reiniciar o jogo para alterar algumas configurações e o jogo não avisava. Outro exemplo é o caso do “motion blur”. Tinha uma opção dedicada pra esse efeito, mas ele somente sumia de vez se você diminuísse a qualidade do pós-processamento (e se você não é retardado como eu pra ficar lendo os posts do Reddit do jogo, as chances são que você não sabia disso).
Superado os problemas técnicos, eu achei o saldo do jogo bem positivo. Eu comecei a jogar na sexta feira (25/01) e basicamente só joguei isso o fim de semana inteiro. Isto porque, apesar da demo se limitar a 3 ou 4 missões, uma pequena parte do mapa no freeplay e um stronghold (a dungeon, ou strike, se você é familiarizado com Destiny, do jogo), o jogo está realmente divertido.
Habilidades e Sistema
A primeira coisa que merece destaque é o tempo de cooldown das habilidades. Os cooldowns no geral são bem baixos, o que deixa você usar usar constantemente as habilidades dos Javelins. E isso é o que faz toda diferença. Toda aquela experiência de Power Fantasy só agrega pra diversão do jogo. Caralho, é muito divertido soltar um raio ou míssil explosivo na cara de um monstro. Tudo isso é amplificado pelo sistema de combos do jogo. Algumas habilidades preparam (primers) os inimigos e outras deflagram (detonators) os combos, gerando efeitos dependendo do Javelin que você está usando. Um exemplo é o Storm usando “frost shards” para congelar os inimigos e o “lighting strike” para ativar o combo e espalhar o status de congelado para os inimigos em volta. É divertido e recompensador (EXXPLOOOSIONSSSSSS).
Outro ponto positivo é que os Javelins podem realmente ser considerados um sistema de classes. Por mais que eu adoraria que eles abraçassem de uma vez os sistema de “roles” dos MMOs, o que acontece apenas parcialmente no Anthem, ainda assim cada Javelin é uma experiência bem diferente do outro. O Colossus é uma versão mais agressiva dos tanks. Ele não tem tem uma barra de escudo que regenera com o tempo, mas em compensação tem mais vida e resistência que os demais Javelins. Os seus componentes únicos dão mais vida e armadura em uma quantidade exagerada, mas por não ter uma barra de escudo, é necessário ir sempre em frente matando os inimigos para dropar itens de recuperação de vida. Ele é o Javelin com menor mobilidade, e não tem um movimento evasivo: ele tem um escudo físico para absorver o dano! Já o Interceptor é o completo oposto do Colossus. Sendo o mais ágil dos Javelins, ele consegue entrar e sair do meio da batalha com uma enorme facilidade. Mas em compensação, sua vida é a mais curta de todos. Suas habilidades são focadas em dano corpo a corpo, então é comum ver o Interceptor pulando pro meio da batalha, cortando tudo que vê pela frente, e saindo correndo pra não morrer. Pessoalmente eu não achava que ele iria ser muito o meu estilo, mas o tanto que eu joguei com ele ontem achei divertidíssimo, virou meu segundo favorito.
O que nos leva ao meu favorito, o Storm (esse da foto 😀 ) Ele é a versão de um mago, ou spellcaster, dos Javelins. Ele pode ficar planando mais tempo que todos os outros Javelins e quando está planando, seus escudos são reforçados. Suas habilidades são baseadas em danos elementais (fogo, gelo e eletricidade) e ele é bem mais focado no uso de habilidades e combos do que as armas. Por fim tem o Ranger, que é mais padrão dos Javelins. Confesso que ainda não entendi qual é a pegada dele. Ele me lembra o War Machine. Suas habilidades são focadas em granas e mísseis. No começo achei bem “meh”, mas depois de jogar um pouco mais com ele, até que achei divertidinho, mas ainda fica atrás dos outros, mas eu posso mudar de opinião depois de jogar um pouco mais com ele.
História
Em relação à história, o que eu vi no alpha (que eu não posso falar ¬¬) e na demo não foi muito para ter uma opinião, mas foi o suficiente para despertar a minha curiosidade. O mundo parece bem construído e o que eu vi de história me fez querer jogar mais pra saber mais (acho que o alpha mostrou um pouco mais que a demo). Alguns vídeos que vi na internet mostraram cutscenes que eu não sabia que tinha e a escala parece ser bem grande. É um jogo da Bioware afinal das contas e confesso que ver a existência dessas cutscenes deu um ânimo nesse quesito.
Na demo tinha poucos personagens que podia conversar, mas eles existem e parece algo bem algo da Bioware. Aos poucos eles mostram um pouco da personalidade e das suas motivações. Mas as suas escolhas nos diálogos (sim, ainda tem escolhas de diálogos) são só bilaterais e servem apenas para ajudar a construir a personalidade do seu personagem, não influenciando na história (fica difícil fazer isso num shared world, afinal das contas).
As missões que eu vi seguem o padrão do gênero. Vai pra um lugar, escaneia algo, mata uns mobs, as vezes tem um chefe, e assim vai. Uma delas tinha um mini puzzle no final. Nada groundbreaking. Mas funcionou na demo. Eu me vi repetindo as missões algumas vezes para evoluir o personagem e pegar uns itens. As missões não são repetíveis, mas você pode colocar no modo quickplay e escolher missões e o jogo vai te colocar em uma missão aleatória, o que eu imagino que seja onde falta players para preencher o esquadrão.
O stronghold foi o ponto alto. A dungeon foi bem divertida e desafiadora. Seguiu com umas mecânicas simples de pegar alguns itens e levar para outro lugar, enquanto é cercado de inimigos, culminando numa boss battle contra um chefe gigante. Aparentemente os strongholds são repetíveis. Eu joguei várias vezes durante o fim de semana, especialmente domingo com o Stephano, usei Javelins diferentes e no geral foi uma experiência bem legal. Assim como as raids do Destiny, o stronghold tem dois pontos que recompensam o jogador com um baú com loot (mais os eventuais drop dos mobs) e o boss final, que não tem um baú (triste 🙁 ) mas que dá loot após o encerramento da dungeon.
Crafting e Customização
Por fim, duas coisas que merecem destaque também. O sistema de craft, que é ligado à desafios que o jogador pode fazer (mate x inimigos com uma arma para conseguir a blueprint básica dela, mate x elites com essa arma para liberar a blueprint rara e assim por diante) para liberar o craft das armas e componentes. É interessante que as habilidades dos Javelins são drops também, então se você quiser congelar os mobs com frost shards, se primeiro tem que dropar a habilidade, e elas tem nível e raridade, assim como as armas.
E é claro, não da pra deixar de falar do sistema de customização dos Javelins, que é extremamente robusto. Cada Javelin tem cerca de 8 (ou 7? não lembro exatamente) áreas que podem ter as cores alteradas. Não só as cores, mas como o tipo de material também! O Storm da foto, por exemplo, os braços e pernas são plástico duro em preto, as partes metálicas são ouro (os metais não são 100% customizáveis, eles são baseados nos metais reais, ouro, prata, cobre, etc) e a capa e as tiras são em látex. Na demo todos os materiais e as cores estavam liberadas, mas não sei se vai ser assim na versão final. Além das cores, você pode alterar o estado do Javelins (novo, velho, sujo, etc) que altera drasticamente a aparência. Os sistema é realmente incrível.
Além das cores, você pode aplicar vinis sobre a armadura, que funcionam como adesivos que vão por cima da pintura e alterar as partes do corpo com skins. No Storm se podia alterar as pernas, peitoral, braços e capacete. Esse da foto está com os quatro aplicados, nos comentários posto uma foto da versão original para comparação. Na demo, tanto as partes do corpo, quanto os vinis (e os emotes também) precisavam ser comprados.
Isso nos dá o gancho para falar sobre microtransações. A Bioware já falou que o jogo VAI ter microtransações e provavelmente vão ser sobre esses itens descritos acima. Mas por outro lado, não vão haver lootboxes. Se quer algo, se compra aquilo. É bem provável que os itens da loja de cosméticos tenham uma rotação periódica para dar aquela sensação de urgência e levar as pessoas a gastarem dinheiro.
Mas por outro lado, acredito que há esperança no modelo adotado por eles. A Bioware também deixou claro que todos os cosméticos também vão poder ser comprados com dinheiro do jogo. Alguns vão ser liberados exclusivamente por conquistas.Naturalmente, espero que você dê pra comprar todos, mesmo com tempo intensivo de jogo, mas essa possibilidade também pode ser algo que sirva de motivo para o jogador continuar jogando. Outro ponto positivo é que também foi anunciado que não vai haver season pass. A Bioware disse que não quer dividir a playerbase e os conteúdos de história vão ser fornecidos gratuitamente! Mas também falaram da possibilidade de vender novos Javelins. Eu acredito que os conteúdos gratuitos sejam algo na linha dos conteúdos trimestrais do FFXIV, ou dos DLCs que se compra com crows no ESO ou ainda algo na linha dos conteúdos do seasson ou annual pass do Destiny, mas que grandes expansões (nos moldes do Forsaken ou The Taken King, ou Summerset, ou ainda Stormblood) vão existir e serão vendidas separadamente. Mas isso é algo que ainda vamos ver. O que foi confirmado é, os conteúdos de história serão gratuitos e os cosméticos e novos Javelins serão pagos.
Gosta de Destiny?
Para concluir, eu sou um cara que gosta muito de Destiny e do modelo de jogos como Destiny. Joguei os dois e, apesar da minha decepção com a Bungie depois do Curse of Osiris, este é um jogo que eu ainda guardo com muito carinho. Só não tenho mais vontade de gastar dinheiro com ele (¯\_(?)_/¯). Joguei (por menos tempo, mas joguei) e gostei de The Division e Warframe também. Nenhum dos dois eu gostei tanto quanto Destiny. The Division, a ambientação e os skills são muito pé no chão, falta aquela sensação de power fantasy que eu citei no começo do texto (o que parece que foi a uma eternidade agora, não?). Já o Warframe eu acho o design aleatório de levels e falta de conteúdo endgame um tanto broxante. Estas minhas reclamações não se aplicam ao Anthem, o que me faz ficar muito empolgado com esse jogo.
Nem tudo são flores, há algumas preocupações. Tem a parte técnica da demo que PRECISA ser resolvida. Alguns outros problemas, entre bugs e QOF que eu gostaria que fossem endereçados durante a vida do jogo (alguns já foram sanados, segundo o report da Bioware sobre o fim de semana) e falta saber se o jogo vai ter um endgame robusto (alguém ai disse RAID?). Mas eu acredito que há bastante esperança pela frente. Os devs estão em comunicação constante com os jogadores no Reddit. Sério eu nunca vi algo nesse nível. Eles são muito ativos no subreddit (/r/AnthemTheGame) e estão sempre ouvindo o nosso feedback e nos informando sobre o que está sendo considerado (hello Bungie, aprende ai). Tanto que, na reta final de desenvolvimento, eles adicionaram uma área social compartilhada a pedido dos jogadores! Não estava nos planos, eles ouviram e fizeram. Isso é o tipo de atitude que me faz acreditar que vai ser um bom jogo. E foi isso (e ter jogado o alpha 😀 ) que me fez decidir pela pre order.
Agora, vale a pena comprar o Anthem? Sei lá! Você é fã de looter shooter? As chances são que você vá gostar do jogo, pelo menos em algum nível. Não é? Esquece, o jogo não vai te fazer gostar de algo que se não gosta. (nenhum vai, para de ser chato). Você quer uma experiência single player? Não acho que esse jogo é pra você. Acredito que muito da diversão vai vir em jogar com os amigos (assim como o tempo solo que joguei Destiny foi frustrante e me levou a largar o jogo). Lembre-se, o jogo foi criado com o conceito de mundo compartilhado. Ele pode ter uma história, mas as missões são feitas para jogar em conjunto. Só não vale reclamar de algo que o jogo não é/pretende ser.
Anthem será lançado em 22 de fevereiro para PlayStation 4, Xbox One e PC.
Por Kronny