André Vianco é um escritor brasileiro de terror, famoso pelo lançamento de Os Sete. Além disso, é um dos principais nome da fantasia nacional.

Recentemente, ele lançou À Deriva, segundo livro de As Crônicas do Fim do Mundo. Essa série é escrita em formato de prequel de O Vampiro-Rei, ou seja, anterior aos acontecimentos da obra.

Suco de Mangá teve a oportunidade de conversar com o autor sobre a vida dele, a sua relação com a literatura, carreira e o último lançamento. Confira agora.

Conta para o público que acompanha o Suco de Mangá quem é o André Vianco?

O André Vianco é um cara apaixonado por contar histórias, muito mesmo. Desde a adolescência. No lado profissional, sempre investiga muito como melhorar essa entrega de histórias de ficção.

Meu lugar é ficção, não trabalho com não ficção, é imaginar e criar, não tenho fronteiras não, nem preconceitos. Eu entro em qualquer gênero da ficção e eu gosto de entender daquilo. Na vida, o que eu acho que me levou para esse lugar foi amar as palavras. Eu não sei explicar, eu sou um apaixonado por palavras.

Um cara muito caseiro, troco tudo para ficar em casa. Gosto de ficar lá criando os meus mundinhos, de ficar com a minha família, com a minha esposa. Tenho três filhas, lindas. Minha casa é das mulheres, né? A esposa, as três meninas e a Pandora, a cadela.

É isso.

Como começou a sua relação com a literatura?

Os meus pais sempre deixaram a literatura muito acessível e a minha escola também. Como o meu pai era bancário, eu estudei na Fundação Bradesco e lá tinha um biblioteca imensa e eu, pequeninho, achava enorme e depois de grande fui lá palestrar para os alunos e ela estava maior ainda.

Eles (professores) sempre estimulavam muito que os alunos levassem os livros para casa. O que era uma penúria para muitos no começo, no ensino fundamental, o dia que era para ir à biblioteca parecia que estavam indo para a masmorra. Eu já estava ansiosíssimo para chegar lá e pegar um mundo diferente para conhecer no final de semana.

E os meus pais eram sócios do clube do livro, então todo mês chegava livro novo em casa. Depois me tornei um fanático por HQs, lia de tudo, de tudo.

Quais as principais influências na sua escrita?

A minha influência na literatura começa com uma paixão pelos dramáticos. Henry James,  Victor Hugo, Alexandre Dumas. Dos contemporâneos vários também: Stephen King tem uma influência grande no meu imaginário.

E o folhetim foi uma coisa que gravou forte em mim, fazer uma tradução do folhetim para o contemporâneo. É uma das razões de conseguir fidelizar tanto os meus leitores e leitoras. Depois vieram os seriados também. Elo Perdido, eu ficava fascinado pelos dinossauros. CHiPS, eu tinha até uniforme dos chips. Vi de tudo, cara.

Acho que o meu contato com mangá, e paixão da adolescência, que estourou a minha mente para outros lugares, foi Akira do Katsuhiro. Nossa, Akira foi um divisor de águas na minha mente. Do Studio Ghibli também, sou fã de tudo o que sai da mente do Miyazaki. É isso, cara.

Você é um escritor que foca muito no terror. Por que esse gênero atrai tanto as pessoas, mesmo que cause medo?

O humano se amarra muito pelo melancólico. Eu corto muito para esse viés, não sou muito do gore. Tripas e sangue voando não é muito o meu lugar. Existe, tem na minha obra, mas eu vou muito na especulação.

E se fosse assim, e se, depois que a gente fecha os olhos, a gente abre os olhos em outro lugar? Como é esse lugar? Eu vou muito nessa viagem transcendental que está em cada um de nós, mas que está na ficção, na especulação.

As pessoas gostam demais, cara! Desse sombrio, desse terrível. Eu acho que o medo foca no nosso encontro inexorável com o fim da nossa experiência humana. Mas, é posto de uma forma tão fantástica e maravilhosa que rompe esse tecido do medo e a pessoa quer transitar por ali por esse lugar que estou criando, por essa oferta que estou dando. Uma outra possibilidade.

É um terror muito menos do grotesco, mais do especulativo, do suspense, do mistério. Bicho, como o suspense e o mistério atraem as pessoas, todas querem saber mais um pouquinho. Se você arma bem essa arapuca de pegar leitor, pronto, já era.

Você lançou em 2021 “Ao Meu Redor“, exclusivo como audiobook. Como foi a experiência de escrever pensando em uma mídia sonora

Eu acho fabulosa essa plataforma, o áudio, né? Eu acho que, assim como a literatura, o áudio mantém a imaginação muito ativa. O que você precisa é dar insumos para o leitor se afundar mais no sensorial.

A experiência foi maravilhosa. A Storytel é uma empresa de áudio fantástica.

Você pensa em voltar a explorar esse formato?

Eu quero subir um degrau no meu próximo passo dentro do áudio, fazer audiodrama. Não só audiobook, que é uma leitura daquele livro, né? Agora do audiodrama, eu estou preparando uma primeira temporada de um produto original que eu nem posso falar muito dele porque é secreto, bem secreto (risos).

Existe alguma outra mídia que você ainda não trabalhou, mas que gostaria?

O teatro, por exemplo, é uma coisa que eu gostaria muito de fazer. Muito mesmo. Mas o tempo é escasso, eu preciso reservar um tempo para me exercitar no teatro. É muito desafiador para o roteirista, dramaturgo, então, para você criar uma peça dramatúrgica para o teatro. Mais do que para a TV, o streaming, outras mídias audiovisuais.

Eu acho incrível os dramaturgos que conseguem uma sucessão de boas peças, precisa ser muito bem talhado. A incorporação dos atores, é coletivo como audiovisual, é interessantíssimo. É uma plataforma que eu adoraria experimentar.

Outro desafio comentado pelo autor é a criação de conteúdo para redes sociais.

E cara, eu queria entender o Reels, TikTok, eu ainda tô assim: “como eu faço algo interessante aqui em três minutos?” É um desafio.

É um desafio para a ficção porque o TikTok tá ali no real, né? O que engaja é o real, o ingênuo. Não é ruim, o ingênuo engaja na casa dos centenas dos milhares. Um gatinho tentando entrar em uma garrafa pet.

É a vida acontecendo, a vida real. Alguém que cai de uma cadeira e é motivo para gargalhada sem fim. É um lugar de todos, qualquer um pode postar. Basta ter um “Wi-Fizinho” em casa, que pague com muito esforço, mas ele tá ali se transmitindo para o mundo. É fascinante.

Quando a gente quer imitar essa ingenuidade é difícil para caramba. A gente pensa em estrutura, em movimento dramático, e não sei o quê, quando na verdade a gente tem que esvaziar de tudo isso e só ser.

Falando do seu último lançamento, no final de julho: como surgiu a ideia de As Crônicas do Fim do Mundo?

É uma coisa interessante, olha só: estava falando de teatro e começa mais ou menos nisso. Eu fiquei de queixo caído em 2009 quando o Playcenter fez uma Noite do Terror baseada no universo de O Vampiro-Rei.

Eles optaram por narrar a Noite Maldita, com tudo acontecendo, começando, e puseram ali trezentos atores naquele parque. Abria-se e encerrava-se com um musical, um show no palco, era muito poderoso e interessante.

O cuidado que o Playcenter teve em adaptar a minha obra para aquele lugar de atuação. Eles fizeram de uma forma muito decente, sensível e aquilo me provocou a contar o início. De como começou a história de O Vampiro-Rei.

Um aspecto interessante dos dois livros são os locais reais. Diferente de Penumbra, por exemplo, você usa bairros de São Paulo e locais famosos. Qual o diferencial disso para os leitores?

Eu adoro extrapolar no fantástico, são histórias que seriam incríveis, não dariam para acreditar mesmo. Só que quando você traz para o espaço real as pessoas têm uma memória de lugares, momentos e coisas que viveram, isso vai até para uma nostalgia, e tem um suporte, um lugar para se agarrar.

E outra: por que não colocar isso acontecendo nas cidades brasileiras? Não é nenhum demérito. Na verdade, a gente precisa de uma literatura com reconhecimento nacional. Para mim não tem lógica criar uma história de fantasia fora do Brasil.

Eu vejo isso como uma missão minha que é colocar o Brasil no mapa da ficção e ajudar o leitor brasileiro a se reconhecer.

Como está o André Vianco nessa loucura de lançar outro livro?

Eu já sou ansioso naturalmente, mas quando chegam os lançamentos eu fico muito ansioso mesmo. Eu trato cada livro como se fosse o primeiro, gosto de saber o que os leitores estão achando.

Eu escrevo para os leitores, então eu gosto de saber se eu deixei os leitores tocados com o que eles encontraram nas páginas dos meus livros.

Já está pensando no próximo lançamento?

Eu tenho seis ou setes livros para frente que estou cuidando. Sempre com foco no próximo, mas sempre vou alimentando os outros de alguma forma.

Estou trabalhando bastante com o processo Wolfpack que eu criei, a escrita coletiva. Eu ensino os alunos que participam da minha escola de narradores todos os macetes, truques e técnicas que deixem o leitor maluco do começo até o fim.

Conta para os leitores um pouco mais sobre a Wolfpack, por favor.

Na Wolfopack eu provoco esses escritores a participar da construção de outros produtos. O audiodrama está sendo montada por uma sala Wolfpack, nos encontramos uma vez na semana em videochamadas.

Tem escritores e escritoras do Brasil todo e é muito legal, muito fora da caixinha e muito interessante. Então, eu tô sempre em outros mundos, outras histórias e se eu não faço isso começo a passar mal. É para eu fazer isso mesmo.

Como está a sua expectativa para a Bienal do Rio? E poderemos ver você em SP?

É sempre muito legal ir, estarei nos dois finais de semana no Rio e a Bienal de São Paulo sempre, eu sou arroz de festa. Estou em todos os eventos da Bienal de São Paulo.

Qual mensagem você quer deixar para os seus leitores?

A coisa mais importante que eu quero transmitir para os meu leitores e leitoras é gratidão.  Vinte e cinco anos atrás, quando comecei a escrever e publicar, eu pensava: eu quero que um monte de pessoas leiam os meus livros, ter uma carreira de escritor, mas te juro Rodrigo, eu não sonhava que os leitores se converteriam em fãs. É muito doido.

Ontem mesmo, os leitores estavam lá para tirar foto e pegar autógrafos e tinha gente tremendo, chorando. Eu não esperava que os leitores fossem se tornar fãs. A primeira vez que eu trombei com isso foi com um homem imenso, barbudo, que soluçava. Eu fiquei bobo de ver.

Eu queria agradecer demais os meus leitores e leitores porque, onde quer que eu vá, eles aparecem.

Sabe o que eles mais fazem? Lancei agora o livro. Demorei dois, três anos para escrever a “bexiga” do livro e eles vem e falam “eu li em dois dias”. Aí eles perguntam quando sai o próximo.

Esse é o maior tesouro para um escritor.


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