Se ajustando ao formato das novelas tailandesas para poder ser exibido em TV aberta e no horário nobre, The Miracle of Teddy Bear se tornou um ponto fora da curva em meio a tantos BLs vindos da Tailândia nos últimos anos.
Com dezesseis episódios, ultrapassando os mais de noventa minutos cada, a história do ursinho de pelúcia mais extraordinário do mundo consegue conquistar excelentes pontos por se sobressair às demasiadas expectativas do público.
E antes mesmo de ir ao ar pela CH3, um dos maiores canais do país, o drama causou uma verdadeira guerra nas redes sociais. Isso porque recebeu uma enxurrada de críticas por parte de conservadores que provocaram uma onda de ataques recheados de LGBTfobia. Por este motivo, grande parte dos temas abordados ao longo da série provam de vez a importância dos BLs, incluindo aqueles cuja representatividade não seja o foco principal.
Para quem vê de fora, a premissa de The Miracle of Teddy Bear parece ser tosca demais ou, até mesmo, ridícula: um ursinho de pelúcia que ganha vida e passa a enfrentar dilemas de um humano envolto de problemas familiares. Apesar de soar um tanto quanto bobo, o roteiro, encarregado pelos principais destaques aqui, se mostra o fator decisivo para fazer com que a história seja aproveitada da melhor maneira possível.
Os personagens Tofu (In Sarin) e Nut (Job Thuchapon) são encarregados de causar as mais diferentes impressões em quem assiste. Por ser um ursinho que se transformou em ser humano, Tofu traz consigo a inocência e o carinho pelo seu dono Nut, um jovem que vive de cabeça quente devido aos traumas de infância proporcionados pelo seu pai agressivo e extremamente homofóbico.
A mãe de Nut, Mathana (Um Papasiri), desempenha um papel importante na história, sendo ela a chave que liga o passado com o presente em que tudo acontece. Por também carregar certos traumas, Na, como carinhosamente é chamada, acaba tendo que lidar com os problemas de si mesma e do seu filho. O que não dá muito certo, pois não existe diálogo entre eles. Diante deste cenário, Tofu surge como um grande conciliador da relação entre mãe e filho.
Ao conhecer os personagens e os seus papéis dentro da história, podemos então ter noção do quão complexo os arcos roteirísticos são. Primeiro, em cada episódio é explorado uma trama diversa, isso graças a duração de em média 1h30, que permite o aprofundamento de várias camadas ao mesmo tempo. Com diversas reviravoltas e diferentes choques, o BL rende mais enredo que qualquer série da Netflix. Aliás, o que é feito aqui em 16 episódios, uma produção ocidental levaria no mínimo cinco temporadas para fazer o mesmo.
Outro ponto positivo, além do ótimo domínio do roteiro, são as questões sociais abordadas, principalmente no que diz respeito à comunidade LGBT+. Pelo espaço conquistado para ser exibido em um dos maiores canais de TV aberta, o BL parece desafiar as normas do entretenimento tailandês, justamente por tocar na ferida do conservadorismo e da ausência de direitos em um país onde ainda existem muitas limitações para pessoas que se encontram dentro da sigla.
Já as atuações são bastante expressivas e correspondem muito bem ao que é esperado de um lakorn. Destaque para Um Papasiri no papel de Mathana, a experiente atriz conseguiu catalisar todas as emoções e sentimentos da sua personagem. Sem dúvidas uma das melhores atuações em BLs do ano até então.
A direção, fotografia e outros aspectos técnicos também se encontram na linha do previsto. Porém com uma notória dedicação a mais, pois o drama consegue se sustentar de forma satisfatória com os seus recursos próprios. Outra coisa que se mantém excelente é o casal secundário formado por Kensit (First Parada) e Song (Tee Thanapon), dois atores carismáticos e que exalam química quando estão juntos.
Apesar de conter vários pontos positivos, The Miracle of Teddy Bear parece se distanciar deles quando falamos sobre os rumos tomados pelo BL em seus últimos episódios. Utilizando os flashbacks de maneira exagerada, tudo que foi apresentado no início da série parece ser exprimido para que então os acontecimentos do passado passem a ter mais importância que os do presente. Esse erro acaba condenando de vez a história que perde o ritmo e, logo depois, se apressa para terminar dentro do tempo previsto.
E quanto termina, infelizmente, não é da melhor maneira. O final de The Miracle of Teddy Bear além de previsível é aterrorizante e, por vezes, traumatizante. Claro que o drama tinha que seguir o seu material de origem, mas nem sempre essa é uma escolha assertiva quando se trata da versão adaptada. Pois como tivemos exemplos antes — as mudanças excelentes do diretor no último episódio de Bad Buddy —, há sempre uma maneira de contornar o fim sem jogar todo o desenvolvimento dos personagens no lixo, como foi feito com Tofu aqui.
Entre erros e acertos, a única certeza que podemos ter sobre The Miracle of Teddy Bear, é que o BL, mesmo diante de um ambiente não muito propício para esse tipo de produção, conseguiu se sair muito bem. Com personagens marcantes e uma história emocionante, a transmissão deste pode facilmente ser tida como uma experiência com excepcionais resultados para o mercado de adaptação BL na Tailândia. Um verdadeiro marco na indústria.