Drama de velho oeste é um tema muito ultrapassado para a modernidade, ou pelo menos penso isso, mas tramas clássicas podem sofrer mudanças, e o que poderia ser algo muito velho, se torna algo formidável e rico mensagem sobre família quebrada que espirra em uma filha se identificando sexualmente, Cowboys é uma surpresa dupla por não aparentar ser um drama familiar com mensagem LGBTQI+ e por ninguém sequer estar falando desse filme.
De início se torna um filme um tanto complicado de assistir, primeiro porque a todo momento Troy (Steve Zahn) é um pai muito amoroso com sua filha, porém só a leva a lugares errados como bares e encontro com os amigos falando todo o tipo de besteira, parecendo ser um cowboy moderno, cheio de histórias e bem marrento ao estilo pistoleiro do velho oeste, além de ser dependente de remédios para ansiedade, o que parecia um personagem um tanto bagunçado, mostrou ser um dos maiores artifícios de roteiro para a construção (e destruição) de todo o arco familiar do filme, o mesmo moldou a filha Joe (Sasha Knight) e trouxe um “aprendizado” para a ex-esposa Sally (Jillian Bell), mesmo que este foi algo que a consumiu mentalmente demais, de fato podemos dizer que os personagens de Cowboys agregam muito mais que a própria trama, pois a mesma lembra algo genérico do cult, visto por poucos, esquecido por todos.
A desconstrução da linha do tempo no filme, misturando vários flashbacks e construindo o drama familiar faz desse filme algo bem lento de início, muito arrastado a ponto de ser bem sonolento de assisti-lo, o que nos mantém atencioso ao filme é realmente o conflito familiar, aquela família que se enxerga um divórcio se formando e tudo isso aos olhos da criança.
E se o drama familiar não fosse suficiente, o mesmo escalona para outros lados, não só da ansiedade do pai como a filha se descobrindo aos poucos, graças a influência do pai, temos aquele velho elemento de negação dos pais referente a sexualidade do filho, no caso aqui é mais precisamente a mãe de Joe, a forçando ter coisas que “seriam para meninas”, inclusive coisas rosas e toda aquela polêmica do que é para meninos e o que é para meninas, isso levanta uma questão importantíssima desse filme: Por que Cowboys não é uma produção dentro de gênero LGBTQI+? Será que o filme quis abordar isso mesmo ou foi algo secundário, porque se ele tentou deixar em segundo plano, falhou miseravelmente.
Chegou a ser surpreendente um filme nesse nível de importância ao movimento LGBTQI+ estar tão apagado nas grandes mídias, pois não dá para dizer que o filme não tinha o intuito de trabalhar isso, a direção soube trabalhar tudo muito bem, e o drama do pai vai direto para filha e se torna quase um filme de origem sobre a personagem Joe, se descobre sexualmente, vive o drama do divórcio de um pai dependente de remédios e uma mãe conservadora, e todos os grandes problemas e muitas resoluções deles são feitos pela própria Joe, e me assusta Cowboys, que inclusive é de 2020, não ter sido falado por ninguém e muito menos ter algum texto reflexivo sobre o dito cujo, chega a ser deprimente.
Tal obra devia ser mais reconhecida pelo público e mais exaltada, como sai da bolha da cultura pop, é ignorado, e mais ainda impressionante ser um filme que está dentro do gênero LGBTQI+, fica aí então a indicação para alguém que busca um drama fora da bolha do cinema moderno. Cowboys só engana com o nome e trabalha um drama enorme de família e identidade dentro de problemas mentais e ideologias tradicionais que vemos muito ao debater questões LGBTQI+, se mostrando um filme mais que perfeito.