Em 1986, um teste de segurança ao início da madrugada simulava uma falta de energia na usina de Chernobyl, localizada na Ucrânia, porém um acidente causou uma das maiores catástrofes ambientais que o mundo já conheceu e serviu de exemplo do poder destrutivo que um reator nuclear possui.
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Após 33 anos do acidente, uma minissérie da HBO estréia e supera as produções mais hypadas do mundo como a mais assistida de todas; cinco episódios foram necessários para as pessoas verem como o governo consegue omitir segredos os quais não são divulgados pela mídia e como o ser humano gosta de brincar com aquilo que ele acha que têm controle.
Produção Impecável
Uma série biográfica que foi adaptada para conquistar um público maior prova que é possível educar e entreter com uma produção impecável, resumir o suficiente para não se tornar um documentário e dramatizar nos pontos certos para a série te conquistar, te joga no meio do teste de segurança na madrugada dando errado e trilhando a história que todos conhecem, do início ao fim é expectativa aumentando e terror dominando a cada episódio.
Incrível como a série soube trazer o maior número de informações que envolveu o acidente de Chernobyl, mantendo um limite que mantenha em nível mais popular, pois um conhecedor sobre o assunto sabe que faltou alguns detalhes, mas isso é uma série e não um documentário, entregar uma trama focada nos pontos mais marcantes dessa história é o que mantém a trama bem amarrada e bem relacionada com os fatos divulgados na época.
Dois pontos em paralelo mantém Chernobyl como uma excelente série forte e educativa no nível mais alto, a ciência envolvendo todo o acidente e a omissão do mesmo por parte dos governantes naquela data, resultando no quanto o ser humano é convencido o suficiente por achar que tudo está em seu controle, no momento em que a ficha cai, a desilusão toma conta do físico nuclear e o choque sobre tudo isso escala para todos os céticos de plantão em cena, sendo que você telespectador só assiste roendo unha com inúmeros pensamentos e reflexões que rodeia tudo sobre o acidente, não só os físicos nucleares ou os políticos, os civis presentes no momento vivenciando o que parecia uma aurora boreal ou neve caindo, era radiação chovendo na cabeça deles, e saber que todos eles tinham morrido te joga para aquele terror invisível que domina por completo, pois você sabe que morreram se nem saber o que aconteceu, essa essência que liga a história real com uma série dramatizada faz com que ela se torne uma incrível experiência que só eleva a qualidade da série.
E a “suspensão de descrença”?
Não existe série ou filme biográfico bom sem uma suspensão de descrença, lógico que cientistas e historiadores terão uma visão mais engajada sobre tais assuntos, como se fosse um leitor de quadrinho julgando filmes de heróis ou otakus criticando live action sem se quer serem lançados, às vezes as adaptações pedem uma descrença maior.
No caso de Chernobyl, os furos destacados pelos historiadores não atrapalhou na experiência dos mesmos, imagina então quem era leigo sobre o assunto, apenas vantagens e mais uma série favoritada pelo público.
Poucos episódios e extrema qualidade de produção fez essa série ultrapassar as idolatradas Breaking Bad e Game of Thrones como a série mais assistida de todas, e não parou por aí; a Rússia se sentiu atingida negativamente sobre todos os problemas burocráticos que envolveram o acidente, colocando os russos na roda, fez com que os mesmos divulgassem uma nota que farão a sua versão da série Chernobyl. Provavelmente se ofenderam com seu país fazendo parte da omissão do maior acidente radioativo da história da humanidade, a verdade é que a curiosidade de todos os telespectadores bate por ver o lado deles da história, pois na visão deles, eles estavam certos na omissão, e bem provável que terá um grande destaque para os bombeiros, aqueles mesmo que no início da série pegaram um pedaço de grafite e começou a sofrer pela radiação, o famoso “não foi bem assim” deveria ser contado, mas a verdade é: Precisa? Acho que não.
O Terror em Pripyat
A série Chernobyl mostrou para a nova geração e aos leigos o nível de terror e agonia que a cidade de Pripyat passou desde aquele terrível acidente na madrugada de abril de 1986, um marco histórico que matou uma parte da civilização da Ucrânia e têm níveis de radiação até hoje, os quais baixaram a ponto de acontecer ensaios de nudismo, influencers buscando curtidas e qualquer outro tipo de turista que ignora o terror que foi aquele lugar em prol do crescimento egocêntrico, no mínimo um desrespeito aos civis que sofreram em Pripyat.
Isso traz a reflexão do arco político e a semente da dúvida em muitos casos parecidos, como talvez Brumadinho, o qual até hoje foi divulgado todo o acidente, as mortes e o resgate dos que sobraram, mas omitem a parte política da história, eis aí uma ideia para HBO, séries baseadas em acidentes assim serão pico de audiência e explicarão muitas coisas que pareceram ser engavetadas por governos que se dizem “certos” em sua escolha.