Não demoraria para eu #BELLAN ver Junketsu no Maria (Maria the Virgin Witch) e te explico algumas das motivações.
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A primeira é que tento acompanhar tudo que sai do Production I.G. e não seria diferente aqui. Segundo que, por se tratar de temática fantástica-histórica e terceiro por conter bruxas.
Já te convenci a ver? Não? Então vamos aprofundar um pouquinho mais no universo de Maria.
Desvirginando
A animação é baseada nos mangás de Masayuki Ishikawa e lançados em revistas seinen, só que com o roteiro adaptado de Hideyuki Kurata, que trabalhou recentemente com Grisaia no Kaijutsu e Tokyo Ravens.
De fato, se julgarmos pela “capa” e com as artes de divulgação, Junketsu se passa por um apelo com temática mais “jovial”, mas a trama não é nada infantil e conta com temas pesados como pedofilia, profanação e estupro.
A Hora das Bruxas
Já adianto por aqui que o roteiro central da série é bem enxuto e amarradinho; Pra quem achou que faltou explicar isso e aquilo, ao meu ver foram pontos que se auto-explicam e mais, quem está mais habituado com contextos históricos e religiosos da época, com toda certeza irá usufruir melhor das questões tomadas na obra de Ishikawa.
O enredo trata basicamente da luta entre Maria com o poder religioso da França. Como pano de fundo – mas bem presente durante toda a série – temos a Guerra dos Cem Anos, em especial com os Ingleses tentando invadir a região próxima onde a bruxa loira mora, esta a mais poderosa de sua geração. Com estas ferramentas, a série trabalha com um pouco de comédia, batalhas e com o ideal da protagonista.
Não é o que parece…
Lendo sinopses ou assistindo os primeiros episódios, temos uma ideia do que o anime será. Mas aí é que tá, lá pelo meio da série temos algumas surpresas e sacamos que o plot principal não é somente esta luta de bruxas vs cristãos.
A série é de fato sobre Maria e de seu ponto de vista sobre o mundo e de como ela quer fazer o bem – a partir de seu ideal – para a sociedade em torno dela.
Por ser uma bruxa de grandes poderes e querendo a paz em sua região, ela acaba interferindo em leis e batalhas. O que para ela está tudo de acordo, para as “leis do mundo celestial” não, pois ela está interferindo no andar natural do mundo. É aí que Deus envia Miguel – e a jovem Ezekiel – para conter os poderes da bruxa, mesmo que custe com sua vida.
Para quem achava ser um anime recheado de fan-service ou ecchi, nada disso! Há insinuações sexuais, nudismo e piadas de baixo calão, porém nada que saia do que a proposta e época da série pede. Qual o problema de Maria ter o hábito de dormir nua? Onde mais ela tomaria banho, se não num rio próximo a sua casa na floresta? Então quanto a isso, se um problema, não se preocupe!
Bruxaria
A primeira quadra de episódios servem como uma introdução de cada um dos mundinhos. Temos um tratamento com a Igreja, mostrando os pontos favoráveis e não favoráveis, como casos de pedofilia e abusos infantis por parte dos padres.
Temos uma abordagem da sociedade e de como as famílias reagem diante de uma guerra que parece ser “eterna”, já que não bastasse a morte dos soldados, a fome, miséria e doenças também acaba atingindo os moradores.
Temos uma abordagem mínima de cada mitologia e cultura, com bruxas – pra quem curte temática Wicca, há vários pontos tratados por aqui – e criaturas sobrenaturais, mesmo que muitas vezes elas apareçam por meios mágicos.
Os já citados em nosso Primeiro Gole, é com relação a Sucubo, que é uma das fontes da bruxa obter energia vital para fortalecer a sua magia.
Iluminismo
O que mais chamou a atenção em Junketsu no Maria é que, no meio de toda a fantasia e comédia, diversos pontos histórico-culturais que são tratados e que não se resume a guerra e a época de inquisição, apenas.
O que mais pode lhe intrigar, principalmente nos quatro últimos episódios é com relação ao Iluminismo, movimento filosófico-cultural que surgiu na França no século XVIII, período pós o da animação.
O que quero dizer e sem spoilers é que os acontecimentos com a Igreja e seus asseclas no fim da série, reflete bem o que aconteceu para surgir o tal movimento em questão e o mais legal, por influência e ideal de uma bruxa.
Qual o papel de Deus na sociedade?
Junketsu no Maria aborda este tema sob diversos aspectos, a fim de deixar o telespectador refletir no que pode representar a fé para si.
Pontos como “esperar que tudo caia do céu” ou “depender somente e exclusivamente de uma pessoa/entidade”, são alguns dos pontos que vale ressaltar que a animação trata, e é aí que Maria a “rebelde” a que “protege os oprimidos” entra e arrebenta com tudo, pois caminha contra a Lei do Divino e contra a maré daquela época. *Preste muita atenção no episódio 9*
Hoje é Dia de Maria
A série também virgem Maria, funcionou muito bem em seu propósito e passou de forma coerente para o seu receptor as ideias que o diretor Gorou Taniguchi (Space Dandy) quis explorar.
Apesar de não ser considerado um destaque da temporada de inverno e não ter “hypado” como deveria, encaro um anime subestimado pela galera. É fácil gostar de Junketsu no Maria, apesar dos pesares – principalmente com cenas mais fortes.
Quanto a dinâmica e fluxo de roteiro, ela se mantém num bom patamar na extensão de seus 12 episódios, sem baixas e com algumas altas, principalmente na reta final.
Por não ter muitos personagens, acabou até que explorando bem suas histórias e motivações, mas como já dito, a história é de Maria e sinceramente, não dá pra ver um co-protagonismo aí não.
Na questão de animação, não é o melhor do estúdio Production I.G. e isso pode ser dito para o mix de áudio também, mas não há nada que atrapalha. Já na questão de trilha sonora, a ambientação para os moldes da música medieval foram bem trabalhadas e temos trilhas ora dançantes, ora rebuscadas por toda animação.
Há quem diga que pode haver uma segunda temporada e sim, é possível mas não necessário. Lembrando que a soma dos mangás não bate os 4, ou seja, tem muita coisa pra queimar e virar animação novamente. Quem sabe um OVA?