Eu lembro com clareza da primeira POC CON, lá em 2019, que rolou numa época pré-pandemia. O evento organizado pelo Mário César e Rafael Bastos tinha como objetivo ser a primeira feira de quadrinhos do Brasil com o foco na comunidade LGBTQIA+. Ou seja, um ambiente para artistas divulgarem seus trabalhos, mas também para incentivarem novas gerações.
O evento, completamente gratuito, foi um completo sucesso. Eu — rata de artista brasileiro — fui para aumentar minha coleção de quadrinhos BR. Nunca me esqueço da fila que se formou, e como a pessoa responsável por nos dar as credenciais pediu educadamente que as devolvêssemos quando estivéssemos de saída, já que – segundo ele – eles jamais tinham pensado que viriam tantas pessoas.
A pandemia veio, rolou uma grande parada em eventos, e quando as medidas de segurança baixaram o evento voltou com tudo. Assim, teve uma edição pocket e outras edições maiores, tornando a POC CON cada vez maior, mais rica e mais incrível.
POC CON 2024
A edição de 2024 aconteceu no Centro Cultural São Paulo (CCSP), e claro, tive ver mais uma vez o evento que tanto me encantou desde 2019. Eu observei que cada ano a POC CON tenta ir para um lugar maior. Mesmo assim, nunca é o bastante. Sexta — dia 31 — não importa o quão cedo você tenha chegado, uma fila já se formava em frente ao local.
O evento, que mantém a ideia de ser gratuito desde sua primeira edição, atraiu uma multidão. Entáo, mesmo com o controle rigoroso da quantidade de pessoas (com o objetivo de garantir a segurança de todo mundo) não mudou o fato de que estava LOTADO lá dentro, com todo o tipo de pessoa.
Com palco para competição de cosplay, palestras, flash tattoo, estande de jogo de tabuleiro, ativações com fotos instantâneas, comidinhas e MUITOS artistas fantásticos, o evento sempre vai além do que eu esperava.
É impossível não o comparar com outros que rolam. Assim, pensar o quanto a POC CON cresceu e continua sendo tão irreverente em tudo que se propõe.
Diversidade no mundo geek
Quando falamos dos membros da comunidade LGBTQIA+, não há como negar que nós sempre estivemos no meio geek. Ainda assim, também não há como negar que continuamos a ser inviabilizados em muitas vertentes, sofrendo de comentários pejorativos e de exclusão. Não só isso, mas é curioso como um meio que tinha a ideia de abraçar os “losers” é o mesmo que agora adora julgar os outros pela “lacração”.
As histórias em quadrinhos sempre trouxeram debates incrivelmente políticos sobre as diferenças entre nós e sobre a opressão que certos grupos recebem. Afinal, X-men está ai há décadas contando essa história. Porém, parece que há um movimento que prefere se fazer de cego e dizer que estamos querendo invadir um espaço que, historicamente, sempre foi nosso.
Então, nesses momentos percebemos o quanto eventos como a POC CON são necessários. Tanto para garantir um ambiente seguro e de representatividade, quanto para mostrar que o sucesso sempre foi certo, quando nós somos um dos pilares que garantiu a expansão das histórias em quadrinhos.
Com mais uma edição encerrada, fico à espera do ano que vem, para ver ainda mais coisas maravilhosas que só a POC CON consegue trazer.