Algumas séries de jogos de plataforma são amadas pela criançada de todas as idades. Tenho certeza que os leitores da minha faixa etária mencionariam Super Mario World, Sonic the Hedgehog 2 ou Donkey Kong Country como jogos que marcaram sua infância — e não é pra menos. Todos estes são grandes clássicos dos videogames. Porém, há uma série que marcou particularmente a minha infância e desta não ouço falar com tanta frequência. Como bom jogador de PC que sempre fui, num dos CDs de revista que minha mãe comprava, vieram dois joguinhos muito legais. Foi aí que conheci Prince of Persia 1 e 2, para o longínquo MS-DOS.
Começo de Prince of Persia
Um único par de mãos criou o jogo e ele pertencia ao programador e animador Jordan Mechner. Assim, Prince of Persia era um jogo de plataforma que fugia um pouco dos padrões comuns, pois as animações do personagem principal eram criadas com rotoscopia. Isso dava ao titular Príncipe da Pérsia uma fluidez de movimento incomparável com outros jogos de plataforma em 1989.
Desta forma, era um pouco mais complicado de controlar, mas seu estilo de jogabilidade foi uma enorme inspiração para muitos outros jogos. Inclusive, uns de uma certa arqueóloga aventureira chamada Lara Croft.
Também, era um joguinho muito simples. Você controlava um reles plebeu, por quem a princesa da Pérsia se apaixona e tem um caso. Aproveitando-se da ausência do sultão, o grão-vizir Jafar aprisiona o seu personagem e dá à princesa uma hora para decidir-se: case-se com ele ou morra.
Infelizmente, o senso de autopreservação da princesa é menos agudo do que sua paixão, e você tem uma hora para libertar-se do calabouço e resgatar a princesa. Inclusive, digo uma hora no sentido real da palavra: você tem uma hora em tempo real para completar os doze níveis do labirinto.
O segundo jogo, uma gema perdida na história dos games, é um pouco mais elaborado, mas segue a mesma premissa do limite de tempo.
Uma breve decaída
Então, após uma tentativa frustrada de transferir Prince of Persia para o reino 3D que resultou num clone de Tomb Raider, ironicamente, a Ubisoft comprou a franquia. Foi assim que a consistência dos títulos sofreu um pouco.
Com Jordan Mechner ainda escrevendo a história, o primeiro esforço do estúdio, Prince of Persia: The Sands of Time, ainda figura para mim como um de meus jogos favoritos. Ele tem uma atmosfera inigualável, uma história com personagens muito bem escritos e uma movimentação extremamente fluida e crível.
No entanto, as suas sequências acabaram com o encanto do jogo. Deixaram tudo escuro, botando Godsmack na trilha sonora e fazendo as mulheres andarem sem roupa.
Outro reboot aconteceu em 2008, este um pouco mal recebido por ser visto como fácil demais. Afinal, era impossível morrer no jogo, você sempre era salvo de seus erros pela companheira Elika.
Desde 2010, com o tie-in The Forgotten Sands chegando em conjunto com o filme (sim, aquele do Jake Gyllenhaal, o príncipe da Pérsia mais branco do mundo), a série ficou num limbo em favor da série Assassin’s Creed, que começou desenvolvimento como um Prince of Persia.
Novos tempos
Sendo assim, foi uma surpresa ver o anúncio da Ubisoft de que teríamos mais um Prince of Persia. Desta vez, quem desenvolveu foi a Ubisoft Montpellier, estúdio responsável pelos queridinhos Rayman Origins e Rayman Legends, fazendo parte do time de médio orçamento da empresa.
Então, como o histórico da série é acertar mais nos reboots, fiquei bem animado com o novo jogo. Inclusive, cheguei a dar uma olhadinha nele lá na BGS enquanto o Suco de Mangá estava por lá. Você pode conferir as minhas primeiras impressões clicando abaixo.
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- Leia também: Prince of Persia: The Lost Crown | Primeiro Gole
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Fico feliz em reportar que, com o jogo completo em mãos, este novo reboot é um início bem bacana para que haja mais jogos da série.
Porém, não sem nenhuma ressalva. É preciso apertar o “New Game” sabendo que The Lost Crown é um jogo radicalmente diferente do que conhecíamos sobre a série Prince of Persia. Primeiro, pela sua nova premissa.
Enredo
O personagem principal é Sargon, um dos sete guerreiros imortais da Pérsia, e começamos defendendo nosso território de um ataque de tribos vizinhas.
No entanto, durante as celebrações de vitória, uma das imortais, a mentora de Ghassan, o príncipe da Pérsia, o sequestra e o leva até o Monte Qaf. Esta montanha sagrada é onde vive o grande pássaro Simurgh e lá o tempo não se move de maneira linear.
Assim, iniciamos uma aventura de exploração através do tempo para resgatar o príncipe Ghassan, num mapa absolutamente gigantesco, porém explorado no plano 2D, no clássico estilo Metroidvania.
Metroidvania
Esse gênero é um dos muito queridos por mim. Alguns dos meus jogos favoritos possuem essa mesma dinâmica de exploração, que leva a uma nova habilidade que abre mais partes do mapa levando a novas habilidades.
Além disso, essa estrutura significa que o jogo tem um ritmo excelente, começando de maneira lenta e com bastante diálogo explorando os personagens e o cenário e terminando com sequências de plataforma dignas de Celeste, cheias de armadilhas, espinhos em todas as paredes e com muita movimentação frenética utilizando dashes, pulos duplos e até mesmo viagem no espaço-tempo.
A exploração minuciosa do mapa, claro, leva a recompensas na forma de amuletos que dão variadas habilidades a Sargon. Por exemplo, aumentar levemente sua vida, dar a ele mais dano ou maior resistência a dano, até aumentar seus combos e suas sequências de ataque ou adicionar novos ataques a seu repertório.
Lutas
O combate de The Lost Crown também é impecável. Afinal, Sargon possui múltiplos combos de espadadas, dashes que atravessam o oponente, ataques direcionais que lançam os oponentes pro ar e levam a combos maiores e também a maior necessidade num mundo pós-Dark Souls, o parry.
Este parry, inclusive, é crucial para as lutas mais legais do jogo, contra os chefões. Você pode usar ele para gerar mais Athra, a sua barra de especial, e soltar variados poderes dignos de anime, como dar parry em específicos ataques que brilham em amarelo. Isso leva Sargon a uma sequência animada de contra-ataque que causa muito dano.
No entanto, o jogador precisa se manter atento, pois se o ataque brilhar em vermelho, o parry não funciona nele e você ainda perderá Athra junto com sua vida se lhe atingirem. É um sistema simples, porém, bem dinâmico para um Metroidvania, levando a lutas de chefe bem divertidas.
Pontos fracos
Acredito que o jogo peca um pouco em ser, digamos, um pouco genérico quando levamos em consideração especialmente o legado da série Prince of Persia: The Sands of Time. Afinal, é um jogo muito único, que claramente foi feito e escrito com carinho por seus criadores, além de ser belíssimo considerando a época de lançamento, com uma movimentação e utilização de poderes temporais que até hoje me maravilham.
Por outro lado, The Lost Crown é um jogo muito competente no que faz, mas sinto como se perdesse alguma coisa da atmosfera da série ao aventurar-se no meio dos Metroidvanias.
Jogando The Lost Crown, você vai sentir uma pitada de Hollow Knight, de Ori and the Blind Forest, de Axiom Verge, de Bloodstained: Ritual of the Night, ou até mesmo de Metroid Dread. Porém, não vai sentir muito aquele tempero clássico de Prince of Persia.
Bugs
Também não posso deixar de mencionar que na versão de PC, qual joguei até o fim, tive experiência com múltiplos bugs. Em particular, um que não entendo e me deixou boquiaberto com tamanha bizarrice.
Ao atingir mais ou menos uns 40% do jogo, você enfrenta um chefe chamado Jailer, que deixa cair uma chave que abre as portas especiais dos Arquivos Sagrados. No entanto, ao pegar esta chave meu jogo, que até então rodava a lisos 120+ frames por segundo, de repente viu sua performance despencar para 30 frames.
Procurando por soluções na internet, encontrei uma: abrir todas as portas que aquela chave abria no mapa fazia os frames voltarem, de 15 em 15, até voltar ao normal ao terminar de abrir todas as portas do mapa. Eu nunca antes vi um bug de performance associado a possuir um item no inventário deste jeito.
Em outra situação, aceitar uma quest fazia com que meu jogo travasse e eu perdesse completamente o controle de Sargon. Só melhorava dando alt-tab, forçando o fechamento do aplicativo da Ubisoft Connect e aceitando que o jogo rodasse no modo offline.
Prince of Persia: The Lost Crown Veredito
Esses pequenos bugs devem ser corrigidos em breve e não acho que as ressalvas que fiz devem impedir uma olhada em Prince of Persia: The Lost Crown. Afinal, claramente é um Metroidvania feito com muita destreza pela Ubisoft Montpellier, e eu espero que o estúdio continue responsável pela franquia. Vale muito a pena!