Um dos momentos mais aguardados da CCXP Tour Nordeste, primeira edição fora de São Paulo da maior comic con do mundo, aconteceu neste sábado (15): atores de Sense8, 3%, Punho de Ferro e 13 Reasons Why, do Netflix, estiveram no Auditório Twitch para contar as novidades e bastidores de gravações. O terceiro dia do evento também contou com painéis sobre o cinema nacional, com Turma da Mônica e lançamentos da Warner Bros. A programação vai até domingo (16), no Centro de Convenções de Pernambuco.
O primeiro a subir ao palco foi Luciano Cunha, designer gráfico e criador do quadrinho O Doutrinador, “um vigilante que mata políticos”, que vai ser adaptado para o cinema em live action. Downtown Filmes, Paris Filmes e Turner International estão envolvidas no projeto, previsto para chegar às telonas em 2018.
O Doutrinador surgiu em 2010 como uma forma de Cunha extravasar no papel a revolta que sentia contra políticos brasileiros. “Quando eu criei, eles [os políticos] não tinham medo de nada, agora pelo menos tem a [investigação] Lava Jato. Eles vivem em outro universo, não têm medo de assalto, não pegam ônibus. Então, queria que tivessem algo a temer pelo menos na ficção”, explicou.
Na época, o quadrinho foi recusado por editoras que recearam processos judiciais. Em março de 2013, Cunha reformulou o personagem, colocando uma máscara, e postou o material no Facebook. “Por coincidência, em junho começaram aquelas manifestações nas ruas. Fui dormir com 500 curtidas e acordei com cinco mil. Hoje, são mais de 52 mil curtidas, 12 milhões de views e ganhou o mundo. Ficou conhecido lá fora como o cavaleiro das trevas versão tupiniquim”, comentou. Além do longa-metragem, o herói também vai virar série em live action e uma animação, ambas com oito episódios, pelo canal Space.
Depois, foi a vez de o público conhecer mais detalhes sobre o novo longa Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral, uma coprodução da ATC e da Glaz, que estreia nos cinemas no segundo semestre de 2017. O diretor Halder Gomes e os atores Edmilson Filho e Falcão conversaram com Marcelo Forlani, editor do Omelete, sobre o filme que tem temperos de ficção científica e elementos sci-fi clássicos.
A sequência de Cine Holliúdy (2013) ganhou o subtítulo de A Chibata Sideral e fala de mais uma tentativa do exibidor Francisgleydisson, vivido por Edsmilson Filho, continuar vivendo de cinema, sustentando mulher e filho com a projeção de filmes de artes marciais, nos anos de 1980. “É uma comédia que mistura os ‘cabras’ mais feios do planeta na disputa da chibata sideral”, resumiu o diretor.
Nomes como Chico Diaz, Samantha Schmütz, Milhem Cortaz e Gorete Milagres fazem participações na continuação. O cantor e ator Falcão permanece no elenco e falou sobre o seu personagem. “Ele agora é um cego e cinéfilo, especializado em sci-fi que virou assistente do diretor, trabalha com a questão do enquadramento”, brincou. Ele ainda pegou o violão para cantar a música Ô povo feio para a alegria da plateia.
O público pode ainda conferir uma sequência inédita de still das filmagens, que vêm sendo feitas na mesma cidade de Pacatuba, no Ceará. Inclusive, Cine Holliudy foi um fenômeno regional de bilheteria, com mais de meio milhão de pagantes, graças ao engajamento dos cinéfilos de Fortaleza e seus arredores. Coincidência ou não, quando lançado, apenas cinco dos 184 municípios cearenses tinham cinema. Agora, o número dobrou. “Muita gente parou para pensar: ‘por que na minha cidade não tem’ e criou-se uma pressão para o aparecimento de novas salas. Isso mostra o poder transformador do filme no estado”, comentou o diretor.
Astros das séries 3%, Sense8, 13 Reasons Why e Punho de Ferro detonam no painel de Netflix
O segundo painel do terceiro dia da CCXP Tour Nordeste começou com os atores Vaneza Oliveira e Rodolfo Valente da brasileira 3%, que foram recebidos de forma calorosa pela plateia. Criada por Pedro Aguilera para a Netflix, esta é a série de língua não inglesa mais assistida nos Estados Unidos, segundo dados recentes divulgados pela própria provedora. Um orgulho para o elenco, produção e direção nacionais.
“Eu estou tremendo aqui, é a nossa segunda comic con, mas a tensão é a mesma”, disse Vaneza emocionada com o carinho. Os artistas falaram dos seus personagens, Joana e Rafael, com Aline Diniz, do Omelete, sobre curiosidades das gravações, amizade do elenco e de como está repercutindo internacionalmente. “Eu fico muito feliz que nosso trabalho está chegando a tanta gente, que nossa cultura está sendo mostrada, nossa língua, que é tão pouco conhecida mundo afora”, afirmou Rodolfo Valente.
Logo em seguida, foi a vez de falar sobre Sense8, com o ator Miguel Angel Silvestre, intérprete do personagem Lito Rodriguez. Antes de o artista subir ao palco, foram exibidos os três primeiros minutos da nova temporada da série. Miguel, sempre muito simpático, entrou cantando um trecho da música What’s up, de 4 Non Blondes, trilha sonora do seriado, sendo acompanhado pelo público. “Prazer em estar aqui com vocês, eu vejo o Brasil como minha casa”, falou.
Miguel gravou cena recente para Sense8 na Parada Gay de São Paulo, quando Lito, que escondia a sua sexualidade, revela ser homossexual em cima de um trio elétrico, convida o namorado Hernando ao palco e assume seu relacionamento. O ator, que ainda não havia visto a cena, a assistiu na íntegra junto com a plateia do Auditório Twitch. “Eu tinha uma estratégia antes de gravar a cena, mas, diante de tanta gente, a perdi completamente. A experiência foi incrível. Eu tenho muito orgulho dessa cena, eu espero que encoraje muita gente”, comentou.
O ator espanhol citou o escritor conterrâneo Frederico García Lorca como referência na construção do personagem. Lorca foi assassinado durante a Guerra Civil Espanhola e acreditam que sua orientação sexual foi a razão. “Quando o amor vem de dentro, nós não podemos mudar. A natureza de alguém não pode ser mudada, eu não julgo a chuva, o ar, nem a natureza de ninguém. Tenho admiração pelas pessoas que respeitam sua própria essência”, finalizou. Sense8 é criação das irmãs Lilly e Lana Wachowski (Matrix), e o seriado conta a história de oito pessoas ao redor do mundo que compartilham uma profunda conexão entre si. A segunda temporada chega em 5 de maio.
Na sequência, subiram ao palco os atores Brandon Flynn, Alisha Boe e Christian Navarro que interpretam Justin, Jessica e Tony, respectivamente, em 13 Reasons Why, o mais recente sucesso original Netflix. A série acompanha Clay Jensen (Dylan Minnette), adolescente que recebe uma caixa com 13 fitas de áudio gravadas por Hannah Baker (Katherine Langford), antiga paixão de escola que cometeu suicídio duas semanas antes, após ser vítima recorrente de bullying e abusos.
O trio foi recebido por Aline Diniz, do Omelete, sob muitos aplausos, e comentou que não esperava uma receptividade tão positiva dos brasileiros, já demonstrada quando desembarcaram no aeroporto do Recife. O programa é baseado no livro homônimo de Jay Asher e atualmente é exibido em 190 países. “Estamos muito felizes com o alcance porque trata de um assunto universal [o bullying], que deve ser espalhado. O ensino médio pode ser um período muito solitário e a série nos conscientiza sobre a forma que estamos tratando os outros”, disse Alisha. “Você acaba repensando o que fez no passado e fica mais aberto para ouvir os outros”, complementou Christian.
Brandon dividiu com a plateia que sofreu bullying no colégio por ser gordo e não gostar de atividades esportivas. Por isso, ficou feliz ao saber que o número de ligações para linhas de prevenção de suicídio aumentou significativamente. “São pessoas que não se sentem seguros e estão pedindo ajuda por causa da nossa série. Todos nós devemos nos sentir amados, cada um aqui importa”, disse.
O roteirista e criador do programa é Brian Yorkey. A produção executiva é de Tom McCarthy (Spotlight), Kristel Laiblin (Filhos da Esperança) e Selena Gomez. As gravações duraram seis meses e o elenco vivia junto em um apartamento, o que gerou laços mais fortes de amizade e histórias engraçadas expostas ao público. Eles ainda contaram como entraram no projeto, quais características têm em comum com seus personagens e que receberam ajuda de psicólogos e terapeutas durante as filmagens.
O painel do Netflix encerrou em bate-papo com Finn Jones e Tom Pelphrey, Daniel Rand e Ward Meachum em Punho de Ferro. Os 13 episódios da primeira temporada chegaram ao serviço em 17 de março. Nas histórias em quadrinhos da Marvel, Daniel é um órfão iniciado por monges místicos do Himalaia nas técnicas de luta corporal. Dentro do uniforme, Danny canaliza toda a sua energia espiritual no punho – daí o seu nome de guerra. Os atores disseram que valeu a pena conhecer a inspiração do programa, mas preferiram explorar o roteiro e criar o próprio caminho para os seus personagens. Três clipes do show foram exibidos no telão e eles comentaram os bastidores de gravação.
Punho de Ferro foi anunciada junto de suas companheiras Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage, que mostram as origens da equipe que se formará a seguir, em Defensores, cuja filmagem acabou há três semanas. “Ele [Daniel Rand] termina a primeira temporada se sentindo culpado e agora quer se firmar, tomar a responsabilidade de forma mais séria. Ele é um menino que virou homem, identificou a escuridão, mas está perseguindo a luz, tentando se descobrir”, disse Finn. Já Tom agradeceu a chance de estar na CCXP: “É muito bom poder estar numa sala com pessoas que são a razão do que a gente faz todo dia”.
Cenas inéditas de Mulher-Maravilha e outras produções da Warner levantaram o Auditório Twitch
Para o início do painel da Warner, Érico Borgo, do Omelete, convidou Danilo Gentili para conversar sobre o filme Como se tornar o pior aluno da escola, baseado em livro homônimo de autoria do próprio Gentili, publicado em 2009. “O manual é a reunião de algumas anotações minhas da época da escola. O Fabrício Bittar teve a ideia de transformar em filme e eu disse que eu só deixava se pudesse participar”, comentou.
O longa que gira em torno de dois garotos, Bernardo e Pedro, que tiram boas notas e tentam sempre cumprir as regras politicamente corretas do diretor Ademar (Carlos Villagrán). Até que um deles acha um diário com dicas para transformar a escola em um caos, sem ser notado. Algumas cenas foram exibidas para o público. Carlos Villagrán, o vilão do filme, também participou do painel e fez muitos elogios a Gentili.
Uma das maiores apostas da Warner para 2017 é Rei Arthur – A lenda da Espada, que estreia em maio. Dirigido por Guy Ritchie (Sherlock Holmes) e estrelado por Charlie Hunnam, o longa teve exibição de cenas e trailer, além de mensagem do diretor e do ator principal. “Eu sinto muito por não poder estar com vocês em Recife, mas espero que vocês se divirtam. Em maio, estarei no Brasil para a pré-estreia”, disse Hunnam em vídeo.
Na sequência, a plateia acompanhou o trailer do novo filme da franquia Lego, Lego Ninjago – O Filme, que conta com Jackie Chan no elenco. Além do nacional Divórcio, com os atores Camila Morgado e Murilo Benício. Após as duas comédias, foi a vez do terror no auditório Twitch. Annabelle 2 – A criação do mal conta a história de um fabricante de bonecas e sua esposa que, 20 anos depois da trágica morte de sua filha, recebem em sua casa uma freira e várias meninas de um orfanato. Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um amedrontador demônio do passado: Annabelle, criação do artesão. Inclusive, a boneca que foi usada nas gravações do filme está exposta no estande da Warner na CCXP Tour Nordeste.
Outra aposta do gênero para este ano é It – A Coisa, remake do filme dos anos 1990, baseado no livro homônimo de Stephen King. O longa It começa com o assassinato de uma criança, George Denbrough, no bueiro local, em uma pequena cidade. No verão de 1989 (31 anos mais tarde do que a configuração original), o irmão mais velho de Georgie e seu grupo de amigos começam uma busca pelo assassino, eventualmente, descobrindo que o assassinato foi cometido por uma entidade do mal; Pennywise, um palhaço assassino que está caçando e devorando crianças. O trailer foi muito aplaudido.
Para finalizar o painel, mas não menos importante, Mulher-Maravilha levou o público ao êxtase. A exibição começou com recado da diretora do filme, Patty Jenkins, e dos atores Gal Gadot, que estrela o longa, e Chris Pine, seu par romântico. Duas cenas foram mostradas ao público, já deixando o gostinho de que o filme promete muita ação e protagonismo feminino. A produção conta a história da maior super-heroína de todos os tempos. Diana Prince foi treinada desde cedo para ser uma guerreira imbatível, mas nunca saiu da ilha em que é reconhecida como princesa das Amazonas. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine) se acidenta e cai numa praia do local, ela descobre sobre a guerra que está acontecendo no mundo e se habilita para acabar com todas as lutas, descobrindo sua verdadeira missão na Terra.
Cenas inéditas de novo terror brasileiro, O Rastro, arrepiam o público
O terror de Hollywood encontrou o cinema nacional em O Rastro, uma coprodução da MGM, Imagem Filmes e Lupa Filmes, que foi debatido em painel no Auditório Twitch da CCXP Tour Nordeste. O público viu uma cena exclusiva e conheceu detalhes do longa-metragem, que vai estrear em 18 de maio, com os atores Alice Wegmann e Rafael Cardoso, J.C. Feyer (diretor), Malu Miranda (produtora) e André Pereira (roteirista).
A história conta a saga do funcionário público de saúde, vivido por Rafael, designado para fechar um hospital com 43 pacientes. O problema começa quando um deles some. A personagem interpretada por Alice é o braço direito nessa busca pelo desaparecido. O diretor contou que o projeto nasceu há oito anos. “A gente resolveu se encontrar para fazer um filme de terror, do tipo O Iluminado, com algo mais brasileiro. Fomos atrás do que temos de pior no Brasil, que no caso é a saúde pública, e fizemos um filme bem pensado em cima desse tema. É um drama-político-denúncia-
As gravações ocorreram em 33 dias, na Beneficência Portuguesa, um hospital carioca que estava sendo desativado, igual ao da ficção. “A gente começou a viver o filme ainda na produção porque ele estava fechando na vida real, na nossa cara, tinha uma vibração nesse local, realmente assustador”, comentou a produtora. O prédio acabou virando um personagem importante na trama. “Acabamos recriando o roteiro pensando nos andares, são cinco, as coisas vão ficando mais sinistras conforme vai subindo”, falou o roteirista.
No bate-papo, Rafael Cardoso acabou revelando que levou sustos de verdade. “Em uma cena específica, a porta de repente abriu sozinha, bem devagar, e eu segui a cena. Eu acho que muita coisa aconteceu ali naquele hospital, por ser de vida e morte, então aquela energia estava ali”, disse.
MSP e time de quadrinistas falam da reinvenção da Turma da Mônica nas graphic novels
Vitor Cafaggi (Laços), Gustavo Duarte (Chico Bento – Pavor Espaciar), Shiko (Piteco – Ingá), Cristina Eiko e Paulo Curumin (Penadinho – Vida), Bianca Pinheiro (Mônica – Força) e Orlandeli (Chico Bento – Arvorada) foram convidados por Sidney Gusman, da Mauricio de Sousa Produções, para contar um pouco sobre o trabalho de reinventar os clássicos personagens da Turma da Mônica, Penadinho, Piteco, entre outros.
“Para minha história, trabalhei com elementos do dia a dia, como abdução e a paz mundial”, brincou Gustavo. Já o paraibano Shiko trouxe um quê nordestino à história de Piteco com a Pedra do Ingá, monumento arqueológico que fica próximo a João Pessoa, capital da Paraíba. Orlandeli, que também trabalhou com Chico Bento, trouxe emoção para a história e o universo da roça. “Também cresci num sítio e já conhecia muito bem o personagem, então foi muito legal criar em cima disso”, afirmou.
Eiko, Curumin e Sidney lembraram que a obra deles será a segunda graphic MSP a ser publicada na França, por uma grande editora do país, a Glénat. Bianca Pinheiro comentou a dificuldade que teve em criar uma história na qual os pais da Mônica estão se separando, mas, apesar disso, a graphic novel foi o quadrinho brasileiro mais vendido de 2016 e ainda apareceu na lista dos livros mais vendidos, em oitava colocação, um sucesso.
Os artistas ainda responderam perguntas do público e Sidney comentou o que acredita ser o grande segredo da Turma da Mônica: “Os gibis do Mauricio sempre falam a linguagem do ano em que são publicados. Nos anos 1970, a Mônica e a Magali eram fãs do Francisco Cuoco, nos anos 2000, a Dona Morte entrou no BBB. Então, para mim, os melhores quadrinhos são os da minha época, mas, para os meus filhos são os de agora”, finalizou.