As autoras best-sellers Rachael Lippincott e Mikky Daughtry, co-autoras do famoso livro ‘A Cinco Passos de Você‘, agora nos contam a trágica e encantadora história de Kyle e Marley, duas pessoas que se encontram (seria pelo destino?) e aprendem juntas a lidar com a morte de alguém querido. Carregado de dor, desespero e, ao mesmo tempo, esperança e amor, Todo Esse Tempo pode ser capaz de levar seu leitor das lágrimas ao choque com uma facilidade desmesurada. 

Uma viagem perigosa pelas emoções

As narrativas em primeira pessoa sempre são arriscadas demais para o emocional do leitor, principalmente para o caso daqueles que se identificam de alguma maneira, seja com o acontecimento, seja com os sentimentos. 

Como sempre costumo pensar, uma história deve sempre tocar em algo do nosso íntimo, seja positiva ou negativamente. Uma leitura apática não é uma boa leitura. E, dito isto, nos convém dizer que Todo Esse Tempo não peca. 

Logo e principalmente no início, nós leitores embarcamos na mesma espiral de dor e sofrimento a que Kyle se submete. Primeiro, o já esperado choque do personagem, depois, a derrocada:

“[…] Eu sinto meu mundo inteiro se partir, a dor na minha cabeça crescendo cada vez mais, até que meu corpo inteiro explode em um milhão de pedaços, pedaços que nunca vão se juntar de novo.”

– Kyle. 

À priori, à medida que a narrativa se desenrola, o leitor é guiado através da trilha de emoções pela qual viajam os personagens: primeiro a dor, depois a culpa, e então um vislumbre de esperança, a curiosidade, o desconforto, o amor. Sentimentos nunca são simples e, ainda que não sejam nossos, são sempre capazes de nos contaminar de alguma forma. 

Como registro pessoal, sou obrigada a confessar que chorei por uns três capítulos seguidos, no começo. Parecia até que quem tinha perdido alguém fui eu. Nesse momento, como dizemos por aí, “criança chorou e mãe não viu”. Por incrível que pareça, a sensação de ser tocada de tamanha forma foi muito gratificante, apesar de que até parar um pouco para me recompor e voltar à leitura, eu precisei. Imagine só?! 

Todo Esse Tempo
Divulgação: Editora Alt

O encantamento

Uma sensação extremamente incomum para livros de romance, mesmo para aqueles que se passam em universos mais fantásticos, como na trilogia Não pare!, de FML Pepper, é a sensação de encantamento, de magia. 

A obviedade dessa sensação, considerando que o livro pertence aos gêneros ficção e romance, tornaria a asserção de que a história é encantada mais do que evidente. No entanto, surpreendentemente, essa sensação não é tão inegável quanto parece ser, porque para o leitor que embarca na história apenas pela sinopse, a realidade e relação fantásticas do livro só são descobertas no fim.

Mesmo nos momentos de crise e dor, a relação de Kyle e Marley parecia sempre estar envolta em uma neblina de magia, irrealidade. Essa sensação de encantamento, provavelmente, é proveniente da protagonista, que por si só já tem uma aura meio encantada, o que nos leva ao próximo ponto: a “grande” reviravolta da história. 

Um plost twist quase óbvio?

A sensação de encantamento que persegue o leitor durante a leitura é um enorme indicativo do que pode vir a seguir, principalmente se tratando de Marley, uma personagem cuja alma parece sempre estar em outro plano e que tem uma presença quase fantasmagórica no livro. Ela nunca interage com ninguém a não ser Kyle, fora alguns raríssimos momentos, além de não ter família, sobrenome ou quase sequer uma história.

Um leitor atento, realmente vigilante, é capaz de perceber tais nuances. Pessoalmente falando, eu passei muito tempo acreditando que Marley era uma alucinação, pelo menos até os momentos em que Sam a viu e que ela salvou a criança. Até então, a ideia de que Kyle estava alucinando era minha obsessão e, mesmo depois das interações, nada era capaz de me tirar da mente que algo estava errado. Que aquilo não era normal. 

E, bom, realmente algo estava errado. Marley podia não ser uma alucinação, mas também não era tão real quanto todos acreditávamos. Então, toda a aura “extra-realidade”, digamos assim, que a circundava, passou a ser explicada. 

É claro, não posso negar que a escolha para o plot me surpreendeu de alguma forma, apesar de tudo. Ele em coma? Ela como contadora de histórias? Para não ser injusta, mesmo não gostando do livro, preciso admitir que foi interessante. 

Todo Esse Tempo
Divulgação: Editora Alt

Eu amo o amor… mas esse não me ganhou

Apesar de todo o encantamento, todas as lágrimas e todo o caminho trilhado pelas emoções dos personagens, o casal não é capaz de fascinar ou agradar. 

Marley, a protagonista, estranhamente assumiu uma postura quase decorativa no livro. Uma personagem emocionalmente amorfa, cuja única importância se deu pelo fato de compartilhar uma mesma dor com o protagonista Kyle, um garoto egocêntrico e teimoso, que torna tudo sempre sobre si. 

Desse modo, o amor do casal não é capaz de aquecer corações, não há momentos memoráveis ou qualquer identificação. Para que toda história de romance convença, é sempre necessário que o enredo e, principalmente, os personagens, nos tornem suscetíveis às emoções do relacionamento.

Individualmente, é claro, as emoções dos personagens chegam a nós, afinal, como não se sentir tocado quando se é guiado através do escuro caminho da culpa, da dor e da perda? No entanto, a parte emocional que deveria contrabalancear todos esses momentos tristes vivenciados até então, não envolve, não cativa.

A história do casal real é pouquíssimo desenvolvida e, apesar de implicitamente explicada, deixa diversas falhas na construção da narrativa. No fim das contas, é frustrante. As expectativas não se cumprem. 

Entrando em queda livre

Por mais que estejamos sempre impelidos a nos sentirmos como os personagens se sentem, é chegada a hora do tédio. A história parece não evoluir, os personagens estão sempre em círculos, emocional e fisicamente. 

Sempre as mesmas expressões, diálogos, lugares e dores. Sempre de volta ao lago, ao parque, à casa de Kyle e depois ao hospital. Quando você menos espera, olha o parque de novo? Olha o lago de novo? É sofrida a trajetória do leitor espacialmente falando, porque a sensação de que não se sai do lugar é inconveniente e incômoda. 

Além disso, os próprios diálogos são pouco criativos e desgastantes. É inegável que falar sobre amor é algo capaz de render incontáveis metáforas e evocar inúmeras sensações. Saudade. Felicidade. Tristeza. Desejo. Porém, todas essas possibilidades são cortadas pela falta de versatilidade das autoras também nesse quesito. No final, a história se arrasta e nós somos tomados por uma necessidade desesperada de terminar o livro de vez, dar fim ao tormento. 

Em geral, os momentos de dor são os únicos capazes de gerar alguma conexão com a história. Os bons momentos são pouco sedutores e o foco da história, que é, basicamente, a importância dos amores (sim, no plural) na superação de um momento difícil é um tanto… letárgico. 

Por fim…

Todo Esse Tempo é uma espécie de yin-yang da literatura: é capaz de unir tédio e emoção, coisas totalmente opostas, numa mesma história. Em um momento, você chora e se entristece, no outro, é tomado por uma apatia desgastante. 

Assim, fazendo Kyle e, portanto, o leitor, “morrer e renascer duas vezes”, a história cansa, reinicia um percurso pelo qual já passamos, sem querer explorar novos caminhos, sem se aprofundar. Se arrasta e nos leva juntos.

No entanto, para não dizer que não falei das flores, Todo Esse Tempo carrega uma importante lição sobre amadurecimento, sobre o luto, sobre a verdade. O quanto é importante que nós nunca nos permitamos parar e nos afundarmos na dor e no desespero. O quanto é importante estarmos “sempre para frente. Nunca para trás”. 

Todo Esse Tempo
Divulgação: Editora Alt

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REVIEW
Todo Esse Tempo
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Ive Pitanga
"Tenha coragem e seja gentil". Uma frase simples, que depois de assistir "Cinderela", ganhou meu coração. Todo santo dia e todo dia santo, levanto disposta a enfrentar o mundo, sendo a melhor que posso na medida em que consigo. Uma amante de livros, sorvete, flores e artes com estilo vangoghiano. Uma mulher disposta a viver mil vidas, conhecer mil pessoas e ver mil lugares diferentes: é essa a beleza literária que tanto me encanta.
todo-esse-tempo-rachael-lippincott-e-mikki-daughtry-reviewKyle e Kimberly são o casal perfeito. Pelo menos, é o que Kyle acha. Por isso, quando Kimberly termina com ele na noite da festa de formatura, o mundo inteiro do garoto vira de cabeça para baixo - literalmente. O carro deles capota após sofrerem um acidente e, quando Kyle acorda no hospital, descobre que teve uma lesão cerebral. Kimberly está morta. E ninguém consegue entender a sua dor. Até ele conhecer Marley. Marley também sofreu uma perda, uma perda que ela acredita ter sido culpa dela. Quando seus caminhos se cruzam, Kyle vê nela um espelho de tudo o que está sentindo. Conforme Kyle e Marley curam suas feridas, seus sentimentos um pelo outro ficam mais fortes. De uma tragédia, nasce um amor que parece predestinado. Ainda assim, Kyle não consegue se livrar da sensação de que está caminhando rumo a outro desastre que vai explodir sua vida assim que ele começar a se recompor. E ele está certo.