Em “Future Days”, primeiro episódio da aguardada segunda temporada de The Last of Us, HBO nos reintroduz ao universo pós-apocalíptico com uma narrativa mais sombria e emocionalmente complexa que sua antecessora.
Retomando cinco anos após os eventos marcantes da primeira temporada, o episódio mergulha nas profundas consequências da decisão de Joel (Pedro Pascal) no hospital dos Vaga-lumes, enquanto apresenta novos personagens e ameaças que prometem transformar a dinâmica da série.
Um Reencontro Marcado pela Tensão
A nova temporada não perde tempo ao estabelecer seu tom melancólico. Abrindo com um prólogo que revisita o final da temporada anterior, somos imediatamente confrontados com uma perspectiva alternativa: o luto e a fúria dos sobreviventes Vaga-lumes após o massacre causado por Joel. Esta inversão de perspectiva não só enriquece a narrativa, como também introduz Abby (Kaitlyn Dever), personagem cuja busca por vingança contra Joel promete ser o conflito central desta temporada.
O salto temporal nos leva a Jackson, Wyoming, uma impressionante comunidade fortificada onde Joel e Ellie encontraram relativa estabilidade. Contudo, sob a aparente normalidade, pulsa uma ferida aberta entre os protagonistas.

Relacionamentos Fraturados e Novas Conexões
Ellie (Bella Ramsey), agora com 19 anos, carrega um ressentimento visível em relação a Joel. Sua desconfiança sobre a verdade do hospital a levou a um distanciamento que se expressa em sua constante necessidade de provar sua independência e força. A cena da festa comunitária expõe cruamente essa fratura quando Ellie rejeita publicamente a proteção de Joel após um insulto homofóbico.
Pedro Pascal entrega uma performance notável como um Joel envelhecido e visivelmente desgastado pelo afastamento de Ellie. Suas sessões de terapia revelam camadas adicionais de culpa e complexidade, especialmente quando descobrimos que uma de suas vítimas era o marido de sua terapeuta, vivida brilhantemente por Catherine O’Hara. A metáfora do violão quebrado que tenta consertar simboliza perfeitamente seus esforços em reparar um relacionamento aparentemente irreparável.
O episódio também introduz personagens fundamentais como Dina (Isabela Merced) e Jesse (Young Mazino). A química entre Ellie e Dina é imediatamente cativante, sugerindo um romance nascente que promete trazer momentos de esperança em meio à crescente tensão.

Novas Ameaças em um Mundo Implacável
“Future Days” reafirma que, mesmo após cinco anos de relativa segurança, o mundo exterior continua mortal. A introdução dos Stalkers, infectados mais inteligentes e furtivos, adiciona uma nova dimensão de perigo. A cena do supermercado abandonado, onde Ellie e Dina enfrentam estes novos infectados, serve como um lembrete eficaz de que ninguém está verdadeiramente a salvo neste universo.
O episódio culmina com dois presságios ominosos: a descoberta de raízes de Cordyceps em uma tubulação, sugerindo uma possível ameaça interna, e a chegada de Abby e seu grupo nas montanhas com vista para Jackson. Esta convergência de perigos internos e externos promete uma temporada repleta de tensão e confrontos inevitáveis.

Uma Produção Visualmente Impressionante
Tecnicamente, a segunda temporada mantém o alto padrão de produção HBO estabelecido anteriormente. A direção primorosa captura tanto os momentos íntimos de conflito emocional quanto as cenas de ação tensa. A fotografia contrasta belamente os ambientes seguros e acolhedores de Jackson com as paisagens desoladas e perigosas do mundo exterior.
A trilha sonora continua sendo um elemento narrativo poderoso, utilizando a mesma música que embalou momentos de conexão entre Joel e Ellie agora como pano de fundo para as cenas de Abby, criando uma ligação subliminar entre personagens que ainda não se encontraram.
Adaptação e Fidelidade
Embora alguns fãs do jogo apontem certas diferenças na adaptação, “Future Days” demonstra como a série busca expandir a narrativa original em vez de apenas replicá-la. As pequenas alterações servem para enriquecer o universo e aprofundar os personagens, mantendo a essência emocional que tornou o jogo tão aclamado.
O primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us estabelece eficazmente as bases para uma narrativa centrada nas consequências de escolhas passadas e no peso da verdade. A frase mencionada durante a terapia de Joel – “A cura só vem quando todos têm coragem de colocar para fora” – ecoa como um tema central que promete guiar os arcos dos personagens.
Com performances excepcionais, produção de alta qualidade e uma narrativa emocionalmente rica, “Future Days” reafirma The Last of Us como uma das adaptações de videogame mais bem-sucedidas da televisão. O episódio serve como uma calmaria tensa antes da tempestade, deixando os espectadores ansiosos para descobrir como as decisões do passado e as ameaças do presente moldarão o futuro de Joel e Ellie nesta temporada que promete ser ainda mais devastadora que sua antecessora.