Confira agora o nosso REVIEW de The Innocent, mangá lançado pela Editora JBC e que conta com apenas um único volume.
Cinzas
Existe todo aquele conceito na igreja cristã em que as cinzas significam a penitência, a morte. Ora viemos do pó e para o pó retornaremos. No conceito mais físico, há a decomposição do tecido, corpo e os ossos; E dos ossos, as cinzas do carbono.
Na obra The Innocent é possível fazer diversos paralelos com este título de capítulo:
1. Trocadilho [Ashes] com o nome do personagem principal, Ash;
2. O protagonista “volta” para resolver um crime que não cometeu como se fosse uma Fênix?;
3. Um dos poderes especiais que Ash possui é o de materializar objetos através das cinzas de seu corpo. Considere essas “cinzas” algo simbólico e espectral.
Quando começamos a leitura, somos apresentados ao ‘Comitê Angelical’, um grupo dedicado a resolver assuntos de pessoas que morreram injustamente – como o caso de Ash – e para que assim não passem adiante, para o ‘Portal do Julgamento’.
E assim somos apresentados aos dois personagens: Ash, um ex-detetive, sentenciado a morte na cadeira elétrica por um crime que não cometeu, e Angel, um agente do ‘Comitê Angelical’, incumbido de vigiar e guiar o servo Ash em sua nova missão: Salvar um inocente que esteja prestes a ser executado!
Adendo: Este começo é bem parecido com o de YuYu Hakusho. De cara a morte do protagonista (Yusuke/Ash), na seguida o aparecimento da Botam/Angel e mais a frente, missões em que Yusuke/Ash deve fazer para “salvar sua alma”.
Anjos e Demônios
Você morre, não vai para o céu e nem pro inferno e se pergunta do porquê ter de fazer uma missão para um anjo.
A reação de Ash é incomum, de acordo com Angel. Ash não esboça reação alguma com a sua morte e sua nova condição de “vida”. Não chora, não grita. No decorrer da história vamos descobrindo um pouco do passado do protagonista e do crime em que se envolveu inocentemente.
O ponto crucial para o entendimento da obra é quanto ao background das personagens. Com ritmo acelerado – leia com muita atenção, pois uma palavra pode fazer falta no contexto – as ações de Ash e Angel no início podem dar a impressão de história jogada, mas não; O sentido vem com o decorrer da leitura da obra.
Quanto a profundidade – pelo menos psicológica – dos personagens principais, os secundários acabam defasados pela falta da mesma (vide Wal, que apesar de ser interessantíssimo, qual sua origem?) e talvez é a única coisa pecaminosa em ‘The Innocent’.
Ritmo e Dinâmica
Como falado acima, o background das personagens é o que dá maior profundidade a história e como é expresso em todo seu decorrer de 224 páginas, vê-se uma urgência em ler.
Não dá para parar em momento algum de seus 6 capítulos e a sua boa disposição de quadro/desenho, o fluxo de leitura se torna agradável e com boa rítmica.
Da mesma forma que o roteiro não dá brecha pra respirar e a história vai se construindo para um grand finale, a urgência em apresentar diversas ideias ao mesmo tempo acaba as vezes não dando sentido a algumas coisas.
A forma ou origem de alguns poderes ou do porquê acontecer (vide Blood Pact). É possível dizer que a dinâmica é boa, mas não apresenta todas as ideias como se deveria – se era essa mesmo a intenção do autor.
Simbologias
A união entre um Israelense, Coreano e Japonês fez com que a obra tivesse uma riqueza de detalhes esotéricos, filosóficos e simbólicos. E isto é muito bom!
Para você que está ligado com o Espiritismo e/ou que curta séries como ‘Evangelion’, ‘Angel Sanctuary’ ou até mesmo um ‘Sandman’ da vida, irá encontrar diversas similaridades de temática religiosa, esotérica, da temática “Vida & Morte” e com o simbolismo de nomes como:
Joshua (Jesus em Hebraico), o personagem que Ash deve salvar da condenação injusta, assim como acreditam que Jesus teve uma condenação injusta.
Wal: O vilão da obra pode ter este nome pelo fato de quê:
- Trocadilho com Wall (Parede), pois é um vilão resistente e “duro de matar”;
- A palavra em Teutônico significa “Descanso dos Guerreiros”, ou seja, é quem pode conter Ash (o guerreiro no caso).
Quanto a Wal, se não ficou claro o que ele seria, deixarei escondido o teorema do que ele possa ser: [só grifar o texto com o mouse para visualizar]
“Wal pode ver Ash, logo não é um humano comum. Ele nem é mesmo queimado pelas mãos de Ash. Em alguns momentos, quando desenhado, a morte está a seu lado – vide a imagem dos pombos. Mas a arte chave para o seu real “ser” é quanto as cenas na casa de Flame: Sentado ao lado de cobras. É quase certo que ele é a chave satânica da obra, o servo do inferno.”
Vida
The Innocent veio ao mundo pela história de Avi Arad (chefão da Marvel e criador da Marvel Studios), pelo roteiro adaptado do japonês Junichi Fujisaku, que já trabalhou com Blood+, Ghost In The Shell e é um dos chefões da Production I.G. e pela excelente arte do coreano Yasung Ko, de Lost Seven, que dá um traço carregado para os olhos – combinando com a obra – e um destaque belíssimo para o cenário.
Indubitavelmente é uma obra que teria tudo para dar certo. E de seu jeito, deu certo sim. Talvez pela distância do time de criação, algumas janelas que ficaram abertas poderiam ser fechadas – até mesmo eliminando a personagem anjo Holly White e dado as páginas para a explicação de um conceito, Blood Pact por exemplo – mas isto de longe, não compromete a obra como um todo.
Outro destaque positivo para a obra, é a questão policial da trama em que Ash deve agir em conjunto com a advogada Rain (que por NÃO ironia do destino, é a responsável por sua morte) para a absolvição do humano inocente. Mas aí é que tá, Ash não pode ser visto/ouvido/tocado pelos humanos. Esse desenrolar de como ele vai conseguindo unir pistas e realizando ações para o desfecho do caso são bem interessantes!
Leia com atenção, desvincule alguns paradigmas e deixe sua imaginação voar por este thriller de investigação, suspense e mistério.
No Brasil, o mangá volume único foi lançado pela Editora JBC.