Swallow The Sun é uma banda finlandesa de death/doom metal formada em 2000. Com uma sonoridade que varia entre a melancolia e a brutalidade, a banda conquistou fãs ao redor do mundo e tornou-se referência no cenário do metal. Neste mês de fevereiro de 2023 e próximo da passagem da banda pelo Brasil (leia AQUI), o Suco de Mangá teve a oportunidade de entrevistar o vocalista Mikko Kotamäki, que falou sobre a trajetória da banda, o processo de composição do último álbum “Moonflowers”, da relação entre as letras e a vida cotidiana.
Durante a entrevista, Kotamäki abordou diversos temas, desde a inspiração por trás das letras da banda até as dificuldades que enfrentaram durante a pandemia de COVID-19. Ele também compartilhou algumas histórias curiosas, como o episódio em que a banda foi confundida com outra em um show no Rio de Janeiro.
Com mais de 20 anos de carreira e vários álbuns aclamados pela crítica, Swallow The Sun continua a conquistar novos fãs e a se reinventar a cada lançamento, mantendo-se como um dos principais expoentes do metal contemporâneo. Para complementar este bate-papo, trabalhei a matéria de forma corrida e dividida em 4 temas, trazendo minhas experiências sonoras e curiosidades extras sobre a banda. Vamos lá?
Mais de 20 anos de horror
Completando 20 anos de seu lançamento, o álbum “The Morning Never Came” é um marco na história do metal extremo e do doom metal. Com sua sonoridade melancólica e atmosférica, a obra trouxe uma nova perspectiva para o gênero, combinando elementos do death metal com influências de gothic rock e música clássica. O álbum é considerado um clássico e uma referência para bandas que surgiram posteriormente, consolidando a reputação do Swallow The Sun como uma das principais bandas do estilo.
Entre as músicas que se destacam no álbum, na minha opinião, estão “Through Her Silvery Body”, abrindo a obra com seu clima sombrio e melancólico, a impactante “Silence of the Womb”, que apresenta uma atmosfera claustrofóbica e tensa, e “Swallow (Horror I)”, que traz uma abordagem mais pesada e agressiva, com seu riff grudendo e um vocal gutural intenso, que por sinal, ainda presente no repertório da banda, o que mostra a força e a relevância que o álbum ainda possui, mesmo após duas décadas de seu lançamento.
Trazendo ainda mais para o lado pessoal ‘The Morning Never Came’ foi o primeiro álbum do Swallow the Sun que eu ouvi, por volta de 2004, ainda no colegial da escola. Por conta do impacto que tive com o estilo, pois não havia ouvido nada parecido antes, tenho um carinho nostálgico imenso por esta obra e posso garantir que também foi marcante para todos meus amigos quando a apresentei. Minha primeira pergunta para Kotamäki foi referente a se fariam uma turnê comemorativa de 20 anos, que respondeu:
Caramba, o tempo voa. Já se passaram 20 anos. Não temos nenhum plano. Estamos ocupados demais este ano para qualquer trabalho extra. A Covid19 realmente atrapalhou nossas turnês de lançamento do álbum Moonflowers, então ainda estamos em turnê com esse álbum. E além disso, nós realmente fizemos a turnê de 10 anos do The Morning Never Came na Europa há 10 anos. Eu meio que prometi a mim mesmo que nunca mais cantaria Through Her Silvery Body de novo.
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[SOBRE A FOTO ACIMA] No ano passado, junto de mais três amigos, fizemos uma audição sob o pôr do sol com ‘The Morning Never Came’ em uma região rural de minha cidade. Acredito que bandas assim, atmosféricas, doom e similares, dependem de uma ambiência especial para melhor “degustação” de seu trabalho, como ocorre com Swallow The Sun.
Twin Peaks e Ghost of Laura Palmer
A música “Ghost of Laura Palmer” é uma das faixas mais icônicas do álbum “Ghosts of Loss”, lançado em 2005. Quando questionado sobre a origem da música, Mikko Kotamäki, explicou que a inspiração vem da atmosfera e do clima geral da série “Twin Peaks”, do diretor David Lynch, da qual a personagem Laura Palmer é uma das mais importantes.
No entanto, Mikko ressaltou que a letra da música não é uma referência direta aos eventos da série, ou ao caso real envolvendo Hazel Drew, que teria sido uma das inspirações para o enredo de “Twin Peaks”. Ao invés disso, a música capta a mesma sensação de mistério e estranheza que permeia a série, combinada com a característica melancolia e intensidade emocional que são marca registrada do Swallow The Sun.
Mesmo sem ser uma referência literal aos acontecimentos da série ou do caso real que inspirou a trama, “Ghost of Laura Palmer” é uma faixa que encanta os fãs tanto de “Twin Peaks” quanto da banda. Com uma melodia envolvente, um clima sombrio e uma letra que evoca imagens de dor e sofrimento, a música é um exemplo perfeito da habilidade da banda em criar uma atmosfera única e emocionalmente poderosa.
Isso foi há tanto tempo. Eu não acho que a letra tenha sido literalmente inspirada nos eventos de Twin Peaks ou Hazel Drew. É mais sobre a sensação geral e a vibe distorcida de toda a série de TV. E provavelmente não é preciso dizer que somos grandes fãs de Twin Peaks e David Lynch.
Tristeza, Beleza e Desespero
Abordando os temas que são recorrentes nas letras do Swallow The Sun, como “horror”, “perda”, “vida” e “morte”, o vocalista explicou que esses tópicos eram mais fáceis de escrever e cantar quando se é jovem e inexperiente, mas que com o passar dos anos e as experiências da vida, eles se tornaram temas dolorosos e pessoais. A perda de entes queridos, amigos e familiares, inclusive a morte da namorada de Juha Raivio, Aleah Stanbridge, em 2016, têm sido fontes de inspiração para as letras da banda.
Bem, no começo eram apenas palavras. É fácil pra caralho escrever e cantar sobre morte e perda quando se é jovem e não tem muita experiência. Depois, fomos envelhecendo, a família começou a morrer, amigos começaram a morrer e em 2016 a namorada do Juha morreu. Então, ultimamente, os temas têm sido dolorosamente retirados da vida cotidiana. Com certeza, há horror suficiente.
Esses temas estão presentes em todo o catálogo da banda, mas foram ainda mais intensificados no álbum “Moonflowers”, que segundo Mikko, foi composto durante a pandemia de COVID-19, quando Juha Raivio, guitarrista e compositor, teve muito tempo para refletir sobre a vida e suas perdas. O álbum é considerado mais sombrio e pesado do que os anteriores, e talvez até mais raivoso. É evidente que esses temas são muito pessoais para a banda, e a emoção é transmitida de forma poderosa e sincera em suas músicas.
Moonflowers foi escrita 100% durante os lockdowns da Covid, quando o Juha simplesmente teve tempo demais para pensar sobre as coisas e a vida. Se você pensar sobre isso, provavelmente entenderá por que é esse tipo de álbum. Se compararmos com o nosso álbum anterior, ele é muito mais sombrio e pesado. Talvez até mais raivoso.
Outra música que eu gostaria de evidenciar, é “April 14th”, uma homenagem ao falecido Peter Steele, vocalista da banda Type O Negative. A letra reflete a dor da perda e a dificuldade de lidar com a ausência, com versos como “Meu coração se contém, sem medo / Pois sei que não há nada além daqui”. A música apresenta um tom melancólico e introspectivo, com uma mistura de vocais limpos, guturais e um instrumental que demonstra a habilidade da banda em abordar assuntos complexos de forma emocionante e impactante.
A música não só homenageia um ícone do metal, mas também ressoa com aqueles que sofreram perdas semelhantes, oferecendo uma sensação de conforto e conexão em meio à dor. A letra e a música como um todo mostram a capacidade do Swallow the Sun de criar uma experiência emocional poderosa através de sua música, levando os ouvintes a uma jornada de reflexão e catarse.
Aqui também presto uma homenagem a Diego Bertanha, que por sinal, foi um ávido fã e ouvinte da banda. Em meados dos anos 2000 tivemos uma banda, a Opus Nocturne, que em seu repertório havia ‘Swallow’ e ‘The Silence of the Womb’, do STS. Descanse em paz, garoto!
Swallow The Sun e Ghost
Nem só de tristeza e melancolia vive o Swallow The Sun. Para exemplificar, quando questionei sobre uma lembrança que gostaria de compartilhar com os fãs, houve um fato inusitado durante sua passagem pelo Rio de Janeiro em 2014. Na ocasião, a banda foi confundida com os membros do Ghost, que ainda não era muito conhecido, e acabou autografando discos da banda para os fãs. Veja só abaixo:
Sim, esta é a nossa segunda vez no Brasil e mal podemos esperar. Da última vez, também tocamos no Rio de Janeiro. Lembro de uma coisa engraçada que aconteceu no Rio. Isso foi em 2014. Chegamos um dia antes e tivemos um dia de folga no Rio antes do nosso show. Então, a banda Ghost estava tocando no Rio na noite anterior e fomos ver o show deles. O Ghost não era uma banda tão grande na época e ninguém sabia como eles eram. Então, quando entramos, as pessoas pensaram que éramos o Ghost. Não tivemos coragem de corrigi-los e, assim, assinamos um monte de álbuns do Ghost. Então, se você viu o Ghost no Rio de Janeiro em 2014 e autografou sua capa de álbum, pode ser que tenha sido assinada pelo Swallow the Sun. Desculpe por isso.
Por fim, a banda está de volta ao Brasil para apresentar seu mais recente álbum “Moonflowers”, que foi composto durante a pandemia da COVID-19. Eles estarão em São Paulo no próximo dia 21 de fevereiro, trazendo toda a sua energia e peso para os fãs de uma música pesada. Então, se você curte um som intenso e cheio de emoção, não perca essa oportunidade única de conferir uma das bandas mais aclamadas do metal atual!
*Agradecimentos: Erick Tedesco pela oportunidade da Entrevista e ao Renatão por me ajudar com as perguntas!