Bem-vindos ao Vintage et Underrated, a coluna que une o antigo que não sai de moda e o underground que todo mundo adora, ou deveria. Pra essa semana, vamos voar longe, lá para os anos 70, quando as mangakás tinham uma predileção grande por dramas shakespearianos.
Sobre Rosa de Versalhes
O mangá foi escrito pela cruel (não espere ver UM ÚNICO trabalho dela sem esperar litros de choro) Riyoko Ikeda (Claudine e Orpheus no Mado). Além disso, entrou em circulação em 1972 pela editora Shueisha. O anime, por outro lado, só estreou sete anos mais tarde pelo estúdio TMS (Lupin III e Rayearth).
Não há dúvidas de que Rosa de Versalhes é o trabalho mais famoso da autora. Inclusive, lhe rendeu uma medalha uma condecoração do governo francês em 2008 basicamente por contar a história francesa no Japão.
Falando como pesquisadora acadêmica, a história tem um bocado de furos, principalmente no que tange a retratação da personagem principal que, ao contrário do que muita gente pensa, NÃO É Lady Oscar e sim Maria Antonieta.
Fora isso, é interessante ver no mangá alguns aspectos do início da revolução francesa até a queda da Bastilha. A decadência da monarquia da França e o contraste entre a opulência da corte e a pobreza do povo, e até mesmo as reações dos personagens em relação a essas diferenças.
Enredo e Primeiras Impressões
É simplesmente inegável que a criadora tem um dom para te prender na história. Mais inegável ainda é uma certa fixação dela pelo tema de transição de gênero (que aparece em mais de uma obra da autora).
É importante ressaltar que o mangá retrata duas personagens quase que de forma paralela e sincrônica. Oscar, que entra na guarda real para substituir seu pai e a própria Maria Antonieta, que vive um ardente romance com um nobre estrangeiro (boato esse nunca confirmado na vida real).
A parte interessante do enredo é perceber as mudanças de ambas durante o desenrolar da história e dos acontecimentos da vida de cada uma.
Drama do enredo
Oscar se vê divida entre sua obrigação com a casa real, que é muito mais hereditária que genuína, e a empatia que sente para com o povo sofrido, além do relacionamento secreto com seu amigo de infância, de casta inferior.
Mas para além disso, é mais importante ainda ver o dilema da personagem em relação às obrigações impostas pelo pai (a começar por seu gênero, que ela precisa manter em segredo por grande parte da história, um traço que também aparece em Claudine, outra obra da autora que ganhará com certeza um artigo próprio).
Maria Antonieta, por outro lado, vive uma vida deslumbrada entre os luxos da corte e seu romance extraconjugal, que aos poucos vai minando sua fama.
Quando seu amante se vai para lutar na guerra, vemos uma menina (uma dose, mesmo que pequena, de realidade que a autora permitiu à personagem, dar a ela a aparência da idade que realmente tinha na época) desesperada com a perda do amante fazendo de tudo para poder esquecer a dor da saudade, inclusive tomando decisões ruins como gastar em demasia com jóias e roupas, enquanto o país vive uma crise financeira e está a beira de um colapso social.
Claro que uma boa história coroada com um belo visual ganha muito destaque. Tanto o anime quanto o mangá são finamente ilustrados. Eu particularmente prefiro as artes quando ganham cores. Acho que isso enriquece até mesmo a opulência francesa que a autora faz questão de deixar sempre visível.
Pontos positivos
- Enredo de arrancar lágrimas de todos os lados;
- Personagens super envolventes;
- Artes dignas de botar numa moldura na parede da sala.
Pontos negativos
- Principalmente no anime, a narrativa as vezes corre um pouco;
- Algumas partes da trilha sonora do anime as vezes são meio mal encaixadas;
- As artes do mangá são lindas, mas as cores do anime fatalmente fazem falta SIM.
Sinopse: Oscar, uma jovem de família militar criada como homem, se torna parte da guarda real francesa no lugar de seu pai, onde passa a ver de perto os luxos, intrigas e a realidade da corte de Luis XVI e acompanhar de perto os dramas e desventuras de Maria Antonieta, a quem deve proteger. Ao ganhar consciência sobre as dificuldades do povo, mas ainda atada aos laços hereditários que a mantém no palácio, Oscar precisa tomar uma difícil decisão: proteger o rei e sua corte, ou juntar-se ao povo.