Da última matéria sobre Bocchi The Rock para cá, o hype em animes sobre banda de rock não diminui. Nem o hype em Bocchi The Rock propriamente dito, ainda mais com a comemoração de gol de copa do mundo com o anúncio da segunda temporada. Ajudou muito a manter esse ânimo o sucesso de Girls Band Cry, que, com o perdão da franqueza, só não assisti porque o CGI era pessoalmente intragável, mas não duvido que seja ótimo. Logo logo em abril estreará o Lady The Rock. Claro, o título não é esse, mas é assim que chamo esse charmoso anime sobre uma escola de meninas ricas e elegantes arrebentando com banda.
Ainda nesse assunto de meninas ricas fazendo música, a primeira temporada de 2025 viu a concretização de um fenômeno que já vinha se desenrolando há uns três anos. Ave Mujica é uma subdivisão da franquia Bang Dream, nome que já conhecia há um tempo mas nunca havia parado pra conhecer.
A pegada de Ave Mujica é que uma mistura de boa atuação, com trama original e direção nível Scorcese de C I N E M A. Permite que alguém possa mergulhar de cabeça tranquilamente. Talvez conhecer MyGo!!!!! ajude, é certo, pois te dá algum contexto de personagens que aparecem no anime, mas sua ausência não compromete a experiência.
Do topo à queda
Ave Mujica foi pensado para ser uma contraparte de MyGo!!!!!, que segue a típica vibe de histórias de juventude, com colegiais cheias de sonho e vida. O conceito de Ave Mujica seria mais obscura, envolta em mistérios. E, em mistérios, Ave Mujica definitivamente ficou envolto, pairando num complexo jogo de pistas e campanhas de pontuações em redes sociais até finalmente ser anunciado em 2023.
Em animes como K-On e Bocchi The Rock a banda vemos a banda surgindo do zero e vai crescendo do episódio em episódio. Enquanto isso, Ave Mujica começa pelo caminho oposto. O anime começa com uma banda no seu auge, já no maior dos lugares possíveis para um show, o Nippon Budokan. E dali, o anime conta uma história de queda.
Ele nos conta sobre as tensões típicas de uma banda, o impacto emocional causado nas suas integrantes, lembrando que nem tudo em música são flores. Inclusive, lembra até algo do tipo que se assistiria em um filme como Rock Star, com a diferença de que no lugar do datado “sexo, drogas e rock’n roll”, temos aqui um caso de “lágrimas, crise e metal sete cordas”.
Para dar um peso a mais e se diferenciar de outro grupo do Bang Dream com temática gothic lolita, o Roselia, Ave Mujica conta com um mix de performance teatral e circense estilo freak show que acompanha o anime desde seu começo até seu ápice, misturando realidade e atuação.
As integrantes
Como dito antes, ainda que você nunca tenha ouvido falar de Bang Dream, Ave Mujica é muito bem apresentado para marinheiros de primeira viagem. A banda é composta de cinco integrantes, cada uma com um pseudônimo latino, para “preservar” suas identidades (à moda Clark Kent) e promover a teatralidade do grupo.
Sakiko Togawa (Oblivionis) – Tecladista e líder da banda

A idealizadora da banda e sua principal compositora. Sofre de problemas familiares, desde a perda precoce da mãe até a perda do pai para o alcoolismo, desde que ele perdeu o emprego. De origem rica, Sakiko mantém uma relação distante da família e de seu avô, prezando pelo apego ao pai que um dia já teve. Condizente com seu nome artístico, Ave Mujica é uma tentativa de Sakiko esquecer seu passado e suas circunstâncias mal resolvidas.(oblivisci)
Mutsumi Wakaba (Mortis) – Guitarrista

Guitarrista e filha de uma grande atriz, Mutsumi é a primeira personagem a demonstrar a pegada de suspense psicológico do anime. Seu maior dom é sua maior maldição, sendo tão boa em interpretar desde pequena a ponto da própria noção de Eu ser fragilizada. Então, incapaz de conciliar a música com a atuação, Mutsumi sente pressão para melhorar sua performance nos shows. A carga psicológica dá vida a Mortis, compartilhando o corpo de Mutsumi e sendo a melhor atriz que ela já fora até então.
Umiri Yahata (Timoris) – Baixista

A mais normal do grupo, aparentemente. Umiri tem o estereótipo de baixista calada e quieta e pouco participa do drama emocional que gira em torno da banda, salvo certo medo de parecer não-confiável. E só. De seu nome, “medo” (timoris) podemos tirar ou isso ou sua postura séria e levemente intimidante.
Nyamu Yuutenji (Amoris) – Baterista

Baterista, youtuber, influencer, idol, o que for preciso para sobreviver nesse mundo cão chamado entretenimento, Nyamu é uma das personagens mais interessantes de Ave Mujica. Isso não quer dizer que você vá gostar dela. Altas chances de que aconteça justamente o oposto.
Afinal, Amoris é altamente odiável, não poucas vezes se prova fútil e completamente cheia de si. Condizente com a crença popular de que amor e ódio são duas facetas de uma mesma moeda, uma vez que o oposto do amor seja a indiferença, a última coisa que Nyamu deseja.
Nyamu é uma das primeiras sementes do mal a criar discórdia na banda. Como boa parte das profissionais que habitam a selva do entretenimento, ela sabe que tempo é um recurso crítico e, no caso das mulheres, escasso. Cada segundo vale e o que for preciso para causar engajamento, será feito.
A vida imita a arte?
Além disso, outro ponto que merece muita atenção no caso da personagem, é que ela reflete algo muito real na produção não só de Ave Mujica, mas de Bang Dream como um todo. O aperfeiçoamente de habilidades tão distintas numa única pessoa só.
O que faz Ave Mujica ser algo tão impressionante é o fato das dubladoras também serem todas excelentes musicistas. Várias vezes ao longo do anime Nyamu dá bastante de si, entre entrevistas, programas de TV, lives e longas práticas de bateria no seu quarto. É o retrato de alguém que quer fazer valer a sua chance de dar certo na vida.
Porém, muitas vezes isso acaba afetando seu trato e sua sensibilidade com as pessoas (ou a falta delas). Falhas de personalidade à parte, é importante notar que por trás de cada dubladora em Ave Mujica, há um pouco da Nyamu, alternando entre estúdios de dublagem a estúdios musicais e shows ao vivo extremamente bem trabalhados.
Só pelo vídeo linkado em cima, é impossível não notar o talento de Akane Yonezawa, um espetáculo na bateria!
Uika Misumi (Doloris) – Vocalista e guitarrista

A pessoa que dá voz às letras e amiga próxima de Sakiko, Uika é o elo final que dá ao anime o último toque de sua genialidade. Ela passa boa parte do anime fora de foco, quase dando a impressão de que ela não possui tanta relevância na trama quanto os transtornos de múltipla personalidade da Musumi ou o drama familiar de Sakiko.
Essa impressão cai por terra no episódio 11, um espetáculo de atuação, de direção, de cinematografia, enfim, de C I N E M A com direito a uma bem merecida aclamação da Rico Sakaki pelo alto nível de performance. Mais detalhes nesta review seriam o cúmulo do spoiler. Então, fica o apelo para assistirem e verem por si mesmos!
Conclusão

A produção em volta de Ave Mujica superou o nicho já estabelecido de Bang Dream. A banda é um dos assuntos mais comentados no Japão e sua popularidade fora do país não pode ser subestimada.
O anime traz novidades ao usar elementos de suspenses psicológicos de forma inteligente e consegue alimentar a tensão que pretende levar ao expectador! Acabou sendo o primeiro contato deste autor com a franquia e no momento bate daqueles sentimento do tipo: “Nasci cedo demais para a exploração espacial e tarde demais para as grandes navegações, mas no tempo certo para assistir Ave Mujica”. É daqueles animes que o tempo passa rápido e os episódios duram cinco minutos.
Independente de como o anime for acabar no seu último episódio, são sólidos 4 Suquinhos!