O último filme do renomado diretor espanhol Pedro Almodóvar, O Quarto ao Lado, entrou oficialmente no catálogo da MUBI, após ser exibido pela primeira vez no Brasil no Festival do Rio, no início de outubro. Este é também o primeiro longa totalmente em língua inglesa dirigido por ele. As estrelas escolhidas para protagonizar o drama são as atrizes Julianne Moore e Tilda Swinton, que formam uma poderosa dupla em tela.
Este definitivamente é um filme que vai te fazer pensar em várias questões da vida, isso porque sua história principal gira em torno de um tema que aflige todo ser humano, que é a morte. Acompanhamos a jornada de Martha (Tilda Swinton), uma jornalista que está enfrentando uma severa batalha contra um câncer que só avança, a deixando cada vez mais debilitada. Em meio aos tratamentos, ela recebe a visita de uma velha amiga, a escritora Ingrid (Julianne Moore), com quem se reaproxima a ponto de lhe fazer um pedido ousado e importante: que a acompanhe em uma viagem, onde realizará em si mesma uma eutanásia para poupar o sofrimento em seus dias finais.
Contudo, não pense que o tom do filme é sombrio e opaco por se tratar de um drama. Almodóvar traz novamente as marcas registradas de seus trabalhos para esta obra. Nos cenários e figurinos, as cores vibrantes se fazem presentes, como verde, vermelho, amarelo e azul. Além do constante humor irreverente, ácido e depreciativo nas situações e diálogos, que transforma a trama numa “dramédia” e proporciona uma leveza que te deixa mais reflexivo do que triste ao assistir. Todos esses elementos deixam tudo elegante, sutil e sensível. É um filme bonito em todos os sentidos.
Independentemente de qual seja a sua opinião sobre eutanásia, é impossível não sair do cinema impactado de alguma forma, pois apesar do procedimento ser o fio condutor da narrativa, não é o único tema controverso abordado. À medida que vamos conhecendo mais sobre as vidas e personalidades das personagens principais, nos deparamos com relações conflituosas entre mãe e filha, arrependimentos, abandono e negligência parental, convivência em família, moral e princípios, relacionamentos amorosos, posições políticas … Todas as questões que atravessam a vida humana cedo ou tarde, e que aqui pautam a forma como elas lidarão com essa situação, seja racionalmente quanto emocionalmente.
O final pode parecer em aberto e decepcionar algumas pessoas que querem ver mais desdobramentos do caso, mas fica nítido que o diretor alcançou o ponto do debate que quis alcançar. O que importa não são as consequências, afinal, elas estão acima de nós, e sim, o processo.
A conclusão que pude chegar é que, de todas as mensagens passadas, a mais forte é a que ressalta a importância da amizade, principalmente, a amizade entre duas mulheres. A cumplicidade e respeito que elas têm uma pela outra, apesar das diferenças, é o que possibilita que tudo aconteça como acontece. As atuações de Swinton e Moore transpassam naturalidade, e é incrível ver a química entre elas desde a primeira cena que contracenam. Vale a pena ver nas telonas!