Bem-vindos ao Vintage et Underrated, a coluna que une o antigo que não sai de moda e o underground que todo mundo adora, ou deveria. E, olha só se ainda não estamos em fevereiro… Mês do choro de Carnaval, o que significa que continuamos nossa maratona Riyoko Ikeda com Orpheus no Mado.
Sobre Orpheus no Mado
Apesar de não ter toda a popularidade de Rosa de Versalhes, a obra é até hoje considerada uma das mais completas. Não só pela complexidade do enredo, mas também da arte (refinadíssima, ainda que no mesmo estilo de sempre da autora).
Assim, sua primeira publicação foi na revista Margareth (já conhecida por publicar a maioria desses shoujos clássicos). Em seguida, foi compilado em 18 volumes que foram traduzidos para 7 línguas e parcialmente adaptado para um musical ao estilo Broadway. Não é a toa que, até hoje, o mangá é uma das pérolas da editora Shueisha.
Então, como todos os mangás periódicos da época, houve alguma especulação se Orpheus no Mado teria conclusão ou não, dado o fato dos arcos se desencontrarem até o final do roteiro. De qualquer forma, sua conclusão se deu após 6 anos após a primeira publicação (1975 – 1981).
História
Como já é praxe da autora, o mangá retrata períodos históricos como pano de fundo. No caso, a obra retrata a Primeira Guerra Mundial e todas as fases da revolução russa e a queda da casa real dos Romanov. Porém, sempre como pano de fundo para a história dos protagonistas.
A obra é dividia em 3 partes, com a primeira tendo subdivisões que se interligam com as demais, tornando a timeline muitas vezes um pouco complexa de se entender.
Primeiro, a história trata do período da adolescência dos personagens, na Alemanha. Segundo, a história se passa na Áustria, com parte sendo contada durante a Primeira Guerra Mundial e conta a história de apenas um dos personagens. Enquanto a terceira se passa na Rússia, ao final do período Romanov. No epílogo, a história retorna à Alemanha.
De Orfeu à Eurídice através da história
Se a mangaká é Ikeda Riyoko, não tenha dúvidas que haverão lágrimas, como que já deixei claro no começo desse post. A temática da história já é clara logo no título: Orfeu é o músico grego que perde sua amada durante um ataque e desce ao inferno para tentar recuperá-la, sem sucesso, infelizmente.
Dentro da trama, conhecemos inicialmente a lenda de uma misteriosa janela num colégio interno para meninos que carrega consigo a maldição do trágico romance grego. Ainda que não exista de fato um componente de magia ou maldição de forma explícita na história, os fatos que sucedem a interação dos personagens com a janela é capaz de transmitir que a maldição, no fim das contas, era bem real.
Outro tema que a autora explora novamente por aqui é o Gender Bender, que apareceu também nas obras anteriores. Apesar de em Claudine estarmos lidando com um personagem transgênero de fato e não alguém criado com outro gênero a revelia de sua escolha.
Personagens
Nesse caso em específico, Julius é o personagem escolhido para dar vida ao drama. Filha bastarda de uma família nobre, a mãe o cria como homem como forma de vingança. Afinal, o pai da moça tinha apenas filhas mulheres na época de seu nascimento.
É perceptível que toda a vida de Julius sofre uma mudança drástica com esse tratamento, principalmente quando ela começa a se relacionar e eventualmente se apaixonar por um de seus colegas (que também estava na trama da janela).
A partir dai, temos três personagens com histórias complexas.
A própria Julius, com seu passado secreto e questões familiares; Klaus (Alexei) cuja influência do irmã mais velho, que é revolucionário, o faz abandonar a escola e sua amada para se juntar à causa; e Isaak cuja história foi a parte que foi adaptada para o musical, que se torna um pianista habilidoso, mas perde a capacidade de tocar após voltar da guerra.
Sendo assim, a parte da lenda de Orfeu, pode-se dizer, é tratada nos 3 personagens. Ganha uma forma mais óbvia no romance entre Klaus e Julius e uma forma metafórica com Isaak, que perde aquilo que mais amava, que era sua habilidade como pianista, após retornar do campo de batalha.
Além disso, Isaak também tem uma perda amorosa real, apesar de não ter morte envolvido, pois se casa com uma ex-prostituta. Por sua vez, após perceber a desgraça que traz à vida do marido por conta da diferença social entre eles, ela o abandona e ao filho do casal.
Personagens históricos de Orpheus no Mado
Sim! Outro ponto interessantíssimo da obra é que podemos ver personagens históricos bem famosos no arco da revolução russa. Por exemplo, Lênin, Nicolau II, Rasputin, Kerenski e até a imperatriz Alexandra.
Claro que esses personagens não aparecem a todo momento, mas ainda sim é bem interessante o ar que lhes são conferidos.
Kerenski é claramente um idealista, baseado em um dos primeiros líderes do governo provisório que se formou após a queda do czar.
Rasputin como sempre é lido como um vilão bem clássico: ambicioso e sem muito escrúpulo.
A corte russa, principalmente seus líderes Nicolau e Alexandra se transformam em figuras dúbias, mais preocupados com a questão do filho mais jovem e emocionalmente manipuláveis.
Pontos positivos
- Como sempre, uma arte de tirar o fôlego de tão bonita;
- Eventos históricos como background dão um sabor a mais à histórias de época;
- Trama que te prende do começo ao fim.
Pontos negativos
- A linha do tempo às vezes é um pouco confusa;
- Tem muito personagem secundário que desaparece sem explicação no meio do caminho;
- Tem MUITO personagem secundário, isso confunde as vezes.
Sinopse: Três rapazes num colégio interno de elite vêem suas vidas e destinos se cruzarem após dois deles desafiarem uma antiga lenda local sobre a janela mais alta da torre e verem o que julgam ser o terceiro de seu grupo através dela.