Uma das séries mais aguardadas e ao mesmo tempo temidas deste ano finalmente fez sua estreia na Netflix. “One Piece” chegou à plataforma com grande estilo, conquistando tanto a crítica quanto o público.

Sem o privilégio de um acesso antecipado, mergulhei de cabeça na série assim que ela ficou disponível. O ritmo frenético da trama me inspirou a escrever esta crítica assim que concluí a primeira temporada.

“One Piece”, uma das franquias mais amadas e desafiadoras do mundo dos mangás e animes japoneses, é uma criação de Eiichiro Oda. Adaptações desse calibre costumam ser uma tarefa árdua, especialmente quando se trata de satisfazer fãs apaixonados com mais de duas décadas de história. No entanto, a Netflix e a Tomorrow Studios, com os produtores Matt Owens e Steven Maeda à frente, não recuaram diante do desafio. O resultado é uma homenagem fiel à obra original.

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Imagem Divulgação | Netflix

Expectativas: do Ceticismo ao Hype

Após a decepção com a adaptação de “Cowboy Bebop”, que teve um elenco interessante, mas sofreu com problemas no roteiro, minha reação inicial ao anúncio do elenco principal de “One Piece” foi de ceticismo. Pensei que enfrentaríamos problemas semelhantes aos vivenciados pela tripulação dos cowboys espaciais.

No entanto, à medida que os trailers eram divulgados, ficou claro que a produção estava investindo em efeitos especiais impressionantes, algo essencial para uma obra tão extravagante e repleta de batalhas épicas. Isso me encheu de confiança e, com o tempo, o entusiasmo cresceu, tornando minha mente mais receptiva quando finalmente assisti à série.

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Primeiras Impressões de Estranheza

Mesmo para quem está familiarizado com o universo de Oda, a estranheza inicial causada pelo design dos personagens é inegável. A princípio, parece que um grupo de cosplayers está atuando. Isso ocupou meus pensamentos nos dois ou três primeiros episódios, enquanto eu observava perucas, roupas e como os personagens eram retratados.

Confesso que isso me incomodou, mas, na segunda metade da temporada, já havia me acostumado com a ideia do estilo “ridículo” que a produção escolheu adotar, mantendo a fidelidade aos personagens, suas cores, roupas e cabelos. Isso me fez lembrar como “Scott Pilgrim Contra o Mundo” se apropriou do estilo exagerado e como ninguém se importou, apenas aproveitou o filme. Outro exemplo que me veio à mente foi “Star Wars”, com suas séries recentes, como “Ahsoka” e “O Mandaloriano”, repletas de criaturas alienígenas de cores e aparências diversas. A verdade é que, na maioria das vezes, isso é divertido!

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Compreendendo o Elenco de “One Piece”

Na minha opinião, o grande atrativo da série é o funcionamento dos núcleos de personagens. Acredito que séries longas e complexas necessitam de núcleos bem construídos e conexões inteligentes.

“One Piece” fez isso muito bem, entrelaçando a narrativa do presente com flashbacks. Além disso, a caracterização dos personagens é excelente, e os protagonistas interpretam seus papéis de forma brilhante. Cada arco da jornada do herói é bem definido e satisfatoriamente concluído, mesmo que a trama tenha uma estrutura episódica e deixe os fãs ansiosos com cliffhangers para a próxima temporada.

Começando pelo brasileiro de coração, Luffy, interpretado por Iñaki Godoy. Desde sua chegada ao Brasil, ficou claro que ele abraçou o espírito do Chapéu de Palha. Suas atuações são sólidas, seu carisma é contagiante e ele retrata com maestria a dualidade entre ser ingênuo e cômico. Seu brilho nos olhos é tão cativante quanto o do personagem original e serve como um motivador natural para o restante do elenco.

Entre os cinco protagonistas, destaco a atuação de Emily Rudd como Nami, que, na minha opinião, emocionalmente se destacou. Ela conseguiu transmitir com autenticidade as inseguranças de sua personagem, revelando uma complexidade de personalidade convincente. Sua evolução ao longo da temporada é notável, do primeiro ao último episódio.

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Quanto a Zoro, interpretado por Mackenyu, observei uma leve mudança em sua personalidade em comparação ao que conhecíamos do mangá ou do anime. Não sei se foi para melhor ou pior, mas aprecio a maneira como o personagem atua como um pilar que mantém o grupo unido. Suas cenas de luta são as mais bem coreografadas, possivelmente devido à sua experiência em produções anteriores, como “Rurouni Kenshin” e “Saint Seiya”.

Jacob Romero Gibson, como Usopp, desempenha o papel do amigo da turma e rival direto de Luffy. Senti falta de explorar um pouco mais o lado contador de histórias de Usopp, mas seu arco com Kaya (Celeste Loots) é comovente. Este é um personagem que ainda precisa de mais desenvolvimento, e acredito que veremos isso nas próximas temporadas.

Por fim, temos Sanji. Talvez sua maquiagem seja um pouco exagerada, e a interpretação de Taz Skylar pode ser considerada a mais fraca do elenco – ou nem tão desenvolvida. No entanto, ele entrega uma atuação convincente. A versão infantil de Sanji vive uma das cenas mais emocionantes (e sangrentas) da temporada, em uma ilha de pedra. Essa cena, que está presente apenas no mangá e não foi adaptada no anime, foi uma grata surpresa para os fãs da franquia.

Destaco também as atuações de Peter Gadiot, como Shanks, Morgan Davies, como Koby, Vincent Regan, como Garp, e Craig Fairbrass, como Zeff.

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Dinâmica e Ritmo dos Episódios

Diferentemente do mangá e do anime, que possuem suas próprias linguagens, a Netflix optou por trabalhar vários núcleos de personagens em paralelo para manter um dinamismo e fluidez na narrativa. Além da trama principal no presente e dos flashbacks, há também o núcleo da Marinha, com Garp e Koby desempenhando papéis centrais, bem como o núcleo do “vilão da vez” presente em cada episódio.

Ao abordar quatro ou mais núcleos, a série cria uma trama densa e uma dinâmica ágil, adequada ao formato de plataformas de streaming. Embora não exista uma fórmula perfeita para a estrutura de séries, acho que os produtores acertaram nesse aspecto. No entanto, considero que lançar todos os oito episódios de uma vez talvez não tenha sido a melhor escolha. Lançar os dois ou três primeiros episódios primeiro, seguidos de um por semana, poderia ter gerado mais discussões e expectativa. No formato em como a série foi montada, acho que funcionaria ainda mais!

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Conclusão de uma Adaptação

Agora, você pode estar se perguntando: “Bem, você só falou dos aspectos positivos. E os negativos?” Na verdade, os aspectos negativos são mínimos dentro da proposta adotada pela série. Obviamente, não espere os melhores efeitos especiais ou direção cinematográfica de alto nível. No entanto, tudo funciona bem. É como um prato de arroz e feijão – uma combinação de identidade e respeito, mantendo o início e o fim fiéis ao original, mas adicionando um toque especial no meio do caminho. A mensagem foi entregue!

Concluo esta análise da temporada de forma satisfatória. “One Piece” superou as expectativas em um campo complicado, o das adaptações de mangás e animes, e demonstra um amor genuíno pela obra original. Assim como vimos com Peter Jackson na Trilogia do Anel ou Robert Downey Jr. como Homem de Ferro, “One Piece” é uma grata surpresa, uma joia bruta com suas imperfeições, mas que, com o tempo, pode ser lapidada para uma sequência futura digna do mestre Oda.

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BELLAN
O #BELLAN é um nerd assíduo e extremamente sistemático com o que assiste ou lê; ele vai querer terminar mesmo sendo a pior coisa do mundo. Bizarrices, experimentalismo e obras soturnas, é com ele mesmo.
one-piece-1a-temporada-reviewBaseada na série de mangá mais vendida da história no Japão, escrita por Eiichiro Oda, ONE PIECE - A Série é uma aventura em alto mar como você nunca viu. Monkey D. Luffy é um jovem aventureiro que sonha com uma vida livre desde que se entende por gente. Ele parte de seu vilarejo em uma jornada cheia de perigos para encontrar o lendário tesouro One Piece e se tornar o rei dos piratas. Mas, para cumprir esse desafio e conquistar o tão sonhado título, Luffy terá que reunir a tripulação ideal, encontrar um navio e vasculhar cada pedacinho do vasto oceano, enquanto foge da Marinha e passa a perna em vários rivais pelo caminho.