Okinawa é um mangá sensível e histórico sobre os impactos sociais, econômicos e culturais da guerra nessa província japonesa. O autor da obra é Susumu Higa, natural de Okinawa e ganhador de diversas premiações.
No Brasil, a Editora Conrad publicou o mangá em uma edição, no mínimo, maravilhosa. Ela possui capa dura, 544 páginas com algumas coloridas e reúne em um só volume as duas edições lançadas separadamente no Japão.
Assim, estre grande compilado reúne as histórias de Espada de Areia e Mabui, que retratam como foi a guerra e os reflexos deixados por ela até os dias de hoje.
Okinawa: lugar sagrado, regado com sangue
Em suas narrativas, Susumu Higa apresenta o vínculo entre os okinawanos e sua terra, trabalhado de diferentes perspectivas.

Primeiro, nos capítulos de Espada de Areia, as histórias nos levam para o passado, durante os confrontos. Seja do ponto de vista de civis, soldados japoneses ou até mesmo soldados americanos, a mensagem é clara: não há crueldade maior do que uma guerra.
Sentimos o medo, a dor e a desesperança de famílias presas entre o fogo cruzado. Idosos obrigados a lutarem com nada mais do que um pedaço de madeira, crianças escondidas em túmulos e famílias completamente desfalcadas com as mortes.
Inclusive, Higa conta até mesmo a história de sua própria mãe, que protegeu os filhos diante de tropas japonesas, americanas, da fome e do desespero.

Vemos bosques sagrados sendo destruídos para que o exército tenha suprimentos. Enfim, vemos um lugar pacífico e afastado ser inundado com o sangue de uma guerra que nada diz respeito a eles.
As consequências do passado
Em seguida, as histórias de Mabui acontecem em tempos mais recentes, trazendo a realidade de Okinawa décadas após o fim do confronto.
Terras sagradas são ocupadas por bases estadunidenses, centros de treinamento militar causam acidentes e atrapalham a rotina dos habitantes. No fim, mesmo que a guerra tenha terminado, Okinawa continua à mercê do exército norte-americano.

Por outro lado, também vemos narrativas de amizade e de respeito entre pessoas de diferentes nações. A consciência de tamanho destruição causada, mas o reconhecimento pelos atos de redenção.
Mesmo assim, todos aqueles que vivem ali, de uma forma ou de outra, sofrerão com as consequências da guerra.
Riqueza cultural
Para além disso, Higa traz, com muito orgulho, tradições e crenças de Okinawa que são preservadas há gerações.

Por exemplo, a forte cultura das yutas e das noros, como sacerdotisas e benzedeiras. A relação dos nativos pela sua terra, compreendendo a conexão entre a natureza e a sociedade. Também, o profundo respeito pelos mortos e pelos espíritos, que causam uma série de maldições quando desrespeitados.
Enfim, Okinawa é uma leitura rica, encantadora e pesada. Não possui cenas viscerais ou excessivamente violentas, mas o principal sofrimento está no sentimento das suas personagens. Principalmente sabendo que as histórias são reais ou, pelo menos, muito próximas de acontecimentos verídicos.



