O Livro dos Prazeres, filme inspirado no livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector, traz uma reflexão sobre o “ser” feminino. O longa foi dirigido por Marcela Lordy e está sendo exibido nos cinemas desde o dia 22 de setembro.
Protagonizado por Simone Spoladore, O Livro dos Prazeres conta a história de Lóri, uma professora do ensino fundamental que se esconde do mundo e de si mesma. Após ter herdado um apartamento de frente para o mar em decorrência da morte de sua mãe, a protagonista tenta preencher o vazio de sua solidão auto imposta com encontros casuais.
No entanto, cada vez mais vazia e calada dentro das suas muralhas internas, Lóri se envolve com Ulisses, um professor universitário e filósofo. Egocêntrico e sem papas na língua, Ulisses confronta a protagonista sobre seu estilo de vida, fazendo ela sair de sua desconfortável zona de conforto.

O Silêncio da Morte ou o Silêncio de Ser
Primeiramente, como esperado de uma adaptação da obra de Clarice Lispector, O Livro dos Prazeres é um filme que exige atenção do expectador. Afinal, esse é o tipo de história que esconde suas mensagens nas sutilezas, nos olhares, no fluxo da água e até mesmo nos diferentes tipos de silêncio.
Inclusive, algo marcante e significativo para o longa é justamente isso: o silêncio. Seja o silêncio da negação, silêncio do luto, da solidão ou o silêncio confortável, todos eles são expressos nas pequenas nuances em torno de Lóri ao longo do filme.
Nesse contexto, ressalto que O Livro dos Prazeres é riquíssimo em alegorias, fazendo o expectador prestar atenção em cada detalhe para desvendar os sentimentos da personagem.
Lóri é uma mulher que escolheu se fechar para o mundo, se esconder dentro de si mesma para fugir da dor. Porém, estando sempre em fuga, ela fica inalcançável para as pessoas que a amam e até mesmo para si própria. Então, nessa corrida interminável, ela busca no prazer um preenchimento, uma saciedade externa que só conseguiria conquistar ao preencher-se internamente.

Uma Reflexão Feminina
Creio que o maior pensamento que trago com esse filme é a autossuficiência. Não no sentido de não precisar de outras pessoas, mas de ser completa consigo mesma.
Apesar de Ulisses ter sido uma das forças motriz para Lóri repensar a muralha que estava construindo, fica claro que o momento de virada dela acontece quando estava sozinha. Quando ela decide tirar as máscaras e maquiagens que a escondiam e encarar seu próprio rosto no reflexo do seu mar.
Ou seja, nossa força vem de dentro, vem do cavalo selvagem que existe em todas nós, mas que constantemente tentamos domá-lo e silenciá-lo.
Portanto, recomendo separar mais ou menos duas horinhas do seu dia para assistir O Livro dos Prazeres. Com representatividade, questionamentos e muito simbolismo, esse filme com certeza vai fazer você pensar se o seu silêncio te ensina ou te consome.