Um livro que mostra na sua forma mais escancarada o que é e quais são as consequências da meritocracia. Da editora nVersos, O Limite do Céu é o primeiro da série Acima das Nuvens.
Lançada em janeiro de 2024 e escrita por Marc J. Gregson, a obra é um best-seller nos Estados Unidos, França e Espanha. Ela tem 448 páginas e ilustrações na parte interna da capa. Além disso, irá ganhar adaptação para os cinemas.
Enredo
Em O Limite do Céu, acompanhamos o protagonista Conrad, um garoto de 16 anos que foi deserdado da sua família — a mais poderosa da sua ilha — pelo seu tio.
Agora vivendo como um Baixo, o pior nível social das Terras Celestes, sobrevive do dinheiro que consegue em lutas clandestinas e pequenos bicos. Assim, Conrad enfrenta o frio e a fome para salvar sua mãe e tentar recuperar sua irmã.
Porém, gorgântuos, criaturas gigantescas com escamas de aço e dentes do tamanho de um homem atacam sua ilha. Perdendo o pouco que ainda lhe restava, Conrad se agarra em seu último objetivo: resgatar sua irmã mais nova das garras de seu tio. Para isso, ele aceita a proposta de ascender até se tornar um Superior, provando que ainda é digno do sangue que corre em suas veias.
Então, Conrad é selecionado pela Caça, um dos doze Ofícios que mantém a ordem nas Terras Celestes. Aqui, ele recebe o treinamento para fazer parte do grupo de pessoas mais duronas e fortes desse mundo, os Caçadores. A missão deste Ofício? Matar as monstruosidades que destruiram sua ilha.
Assim, vemos a jornada de um garoto tentando ascender na meritocracia para recuperar sua irmã, enquanto precisa cuidar com intrigas internas, traidores e os prenúncios de uma guerra.
Universo de O Limite do Céu
Pela sinopse já dá pra perceber que a história tem um sistema muito parecido com Jogos Vorazes e até mesmo Divergente. As classes sociais são bem definidas, sendo os Baixos, Médios e Superiores. Aqui, é possível ascender até os Superiores por meio de duelos ou conseguindo um cargo de destaque nos Ofícios.
Estes, inclusive, me lembraram totalmente a dinâmica existente Divergente. Uma vez que você tenha sido selecionado para um Ofício, não pode se livrar dele, tendo que fazer aquilo para o resto de sua vida.
Além disso, O Limite do Céu se passa em um período meio pós-destruição da Terra, se eu entendi bem. Eles possuem várias tecnologias diferentes, como globos de calor, carruagens que flutuam e remédios super avançados, por exemplo.
Também, existem esses animais diferentões com pele de aço, verdadeiros monstros que nunca nem imaginamos existir. De maneira geral, gostei muito do universo do livro.
Personagens
Agora, falando sobre Conrad, eu tive sentimentos conflitantes com ele. Me lembrou muito, assim como outros elementos do livro, O Nome do Vento. Porém, eu senti que Conrad é uma versão “menos polida” de Kvothe.
Ele é um rapaz fechado e muito desconfiado, já passou por bastante problemas, mas mesmo assim tem um bom coração. É muito inteligente e extremamente habilidoso em quase tudo o que faz. Porém, senti que isso foi mostrado de um jeito que simplesmente nos faz acreditar, sem realmente mostrar essas qualidades dele.
Além disso, o tio, que deveria ser um homem tenebroso, cruel, horrível, era mais ponderado, misericordioso e passivo do que o pai de Conrad.
Acredito que o desenvolvimento dos personagens faria mais sentido se tivesse tido mais tempo pra isso acontecer. Me deu a impressão de acontecer às pressas pra dar continuidade à trama principal, o que acabou ficando forçado.
Meritocracia
Agora, algo que eu realmente gostei do livro foi ter abordado de forma tão escancarada a questão da meritocracia.
Saber que as classes sociais praticamente definem o seu valor, mudam a forma que você trata e é tratado coincide muito com a nossa realidade. No livro também existe um jeito de ascender, como os duelos. Porém, conseguimos imaginar a diferença de alguém que cresceu estudando essa arte e de outra pessoa que aprendeu isso nas ruas.
Ou como os Superiores possuem globos de calor para aquecê-los, tecnologia de ponta, remédios revolucionários e uma abundância de comida, enquanto os Baixos servem de isca para monstros, lutando por um prato de comida e sofrendo com remédios ineficientes.
Imaginem, então, como seria a vida se existissem os Abaixos… Pois é.
Por isso, quando o Conrad fala que sofreu tanto sendo um Baixo, eu penso que sim, sofreu, mas ele conhece os privilégios da vida. Sabe que conseguirá ascender novamente. Mas e aqueles que nem mesmo sonham com essa possibilidade, esmagados pela meritocracia?
Enfim, não preciso descrever muito esse cenário do livro, pois é algo que vivenciamos todos os dias.
Médio
Sendo assim, a história é boa, eu me entreti muito lendo, precisava sempre ver o que ia acontecer no próximo capítulo. A parte da Provação, da caçada, foi muito legal, com personagens cativante.
Por outro lado, a crítica social poderia ter ido ainda mais além. Também, poderia ter explorado ainda mais a Caça, os personagens secundários e até mesmo ter descrito mais algumas coisas, pois às vezes eu não sabia o que precisava imaginar.
Enfim, é um livro bom, mas tem suas falhas. Neste mundo, ele seria um médio. Mesmo assim, pra quem gosta de fantasia, ação e briga política, é um bom entretenimento. Então, se está buscando por uma aventura sangrenta e cativante, conheça O Limite do Céu.