A franquia Ninja Gaiden retorna com sangue novo em Ragebound, uma nova entrada que une passado e futuro com precisão cirúrgica. Com Ryu Hayabusa longe de casa, cumprindo uma missão nos EUA após a morte de seu pai, cabe a Kenji Mozu, seu aprendiz, proteger a Vila Hayabusa contra uma ameaça demoníaca devastadora. Diante de um colapso entre os mundos, Kenji se vê forçado a uma improvável aliança com Kumori, uma kunoichi do temido Clã Black Spider.
Um novo duo assume o protagonismo, e com ele, a promessa de um jogo que respeita as raízes da série, mas sem medo de experimentar. A pergunta é: será que Ragebound honra esse legado ninja?
Texto por Richard.
Jogabilidade, Customização e Mecânicas de Progresso
Ninja Gaiden: Ragebound é um jogo de ação 2D com arte em pixel art, mas não se engane pelo estilo retrô — este é um título moderno, ágil e preciso. A jogabilidade é o coração da experiência: cortes secos, esquivas cirúrgicas e lutas intensas em ritmo acelerado.
A customização é um dos maiores acertos. Em vez de dinheiro tradicional, o jogo premia a exploração com colecionáveis secretos, que desbloqueiam melhorias, equipamentos e modificadores de gameplay. Essas mudanças não são meramente cosméticas: elas redefinem o estilo de combate e oferecem desafios adicionais com multiplicadores de pontuação. É um sistema inteligente que incentiva a rejogabilidade de forma significativa.
Além disso, há segmentos de veículos que, embora curtos, quebram a linearidade com bom ritmo. E para os que buscam desafio máximo, o jogo oferece às Secret Ops, fases extras extremamente difíceis desbloqueadas com pergaminhos ocultos. Essas fases são difíceis — mas justas. A curva de dificuldade é bem construída e o modo Hard, liberado após terminar a campanha, apresenta versões alternativas dos chefes.
Acessibilidade e Maturidade no Design
Um destaque inesperado é o amadurecimento da The Game Kitchen no design de progressão. Enquanto Blasphemous flertava com a frustração como parte da experiência, Ragebound mostra equilíbrio e respeito ao jogador.
Checkpoints são frequentes, a ressurreição é rápida e sempre há pontos de descanso antes de encontros difíceis. O jogo também oferece excelentes opções de acessibilidade: você pode ajustar timers, controlar a velocidade do jogo e até ativar invencibilidade total — ideal para jogadores que querem curtir a história sem sofrer com a dificuldade.
Um detalhe técnico curioso: é possível desativar o “pulo para trás ao ser atingido”, uma mecânica clássica dos Ninja Gaiden 8-bit que causava irritação em muitos. Pequenos toques como esse mostram que o jogo foi feito com carinho tanto para fãs antigos quanto para novos jogadores.
Dois Estilos, Dois Caminhos: Kenji & Kumori
O combate se aprofunda com a alternância entre os dois protagonistas. Kenji Mozu traz a brutalidade corpo a corpo, com ataques rápidos de espada e chutes. Já Kumori domina à distância com kunais e técnicas mais calculadas. Jogar com ambos cria dinâmicas únicas em cada fase — e nos chefes, essa alternância pode ser a chave entre vitória e derrota.
O ápice da experiência está nos chefes. Cada luta é bem construída, com padrões de ataque claros, arenas estratégicas e momentos de pura adrenalina. É aqui que Ragebound mais se aproxima da essência clássica de Ninja Gaiden: precisão, reflexo e técnica.
Tudo isso vem embalado numa apresentação pixel art refinada, com clareza visual impecável. Os efeitos de impacto são fortes, as animações são fluidas e a trilha sonora é espetacular. Algumas faixas são tão memoráveis que já podem figurar entre os melhores temas da franquia. A ambientação sonora completa a experiência com peso e identidade. Infelizmente, o jogo não escapa ileso. Na versão do Nintendo Switch original, Ragebound roda a 30 FPS, contra os 60 FPS fluidos em outras plataformas.
Conclusão
Ninja Gaiden: Ragebound é mais que uma homenagem — é um recomeço corajoso e muito bem executado. Com dois protagonistas carismáticos, combate afiado, customização profunda e acessibilidade inteligente, o jogo acerta ao respeitar o legado de Hayabusa sem depender dele.
Mesmo com as limitações técnicas no Switch 1, é difícil não recomendar Ragebound. O jogo está completamente localizado em português do Brasil, removendo a barreira de idioma e facilitando o acesso para um público ainda maior.
