Confesso que Monster Hunter sempre foi aquela série que eu observava de longe. Sabia da existência, via os fãs fervorosos discutindo sobre “builds” e monstros (o sucolino do SOKET, por exemplo), mas nunca tinha me aventurado nesse universo. Com o lançamento de Monster Hunter Wilds em 28 de fevereiro para PlayStation 5, Xbox Series S/X e PC, finalmente decidi que era hora de descobrir o que essa franquia tem de tão especial.
E agora, depois de horas desbravando esse mundo, posso dizer: entendi o hype, e ele é mais que justificado.
O Que Diabos é Monster Hunter?
Para os não-iniciados como eu era, Monster Hunter Wilds é um jogo onde você, bem… caça monstros. Mas dizer apenas isso é como descrever futebol como “chutar uma bola” – tecnicamente correto, mas perdendo toda a profundidade.
A premissa é simples: você é um caçador enviado para explorar terras desconhecidas, investigar fenômenos misteriosos e, principalmente, caçar criaturas gigantes impressionantes. Essas caçadas fornecem materiais que você usa para criar armas e armaduras melhores, permitindo enfrentar monstros ainda mais poderosos. É um ciclo de progressão viciante que nunca me cansou.
Um Mundo Que Respira
Wilds apresenta um vasto mundo aberto totalmente conectado, sem telas de carregamento entre áreas. A sensação de explorar esse ecossistema vivo é incrível – há fauna menor correndo pelo ambiente, vegetação reagindo à sua passagem, e claro, os monstros gigantes que dominam a cadeia alimentar.
A exploração é facilitada pelo Seikret, uma montaria que basicamente pilota a si mesma enquanto você coleta recursos, prepara itens ou simplesmente aprecia a paisagem. Esse automatismo me salvou como novato, permitindo me familiarizar com o mundo sem a frustração de ficar perdido ou morrer constantemente tentando navegar terrenos perigosos. Permite também rushar algumas áreas quando você simplesmente quer chegar ao objetivo principal.
O clima dinâmico adiciona outra camada de imprevisibilidade. Tempestades podem aparecer subitamente, mudando drasticamente a paisagem e as condições de combate. Numa das minhas caçadas, o que começou como uma perseguição tranquila se transformou numa batalha frenética em meio a uma tempestade de areia que limitava minha visibilidade e criava uma tensão palpável.

Combate: Muito Mais Que Apertar Botões
Como iniciante, minha primeira impressão do combate foi de que ele era “pesado” e “lento” comparado a outros jogos de ação. Logo percebi que essa era exatamente a intenção. Monster Hunter não é sobre combos infinitos ou ataques frenéticos; é sobre timing, posicionamento e conhecimento.
O jogo oferece 14 tipos de armas, cada uma funcionando como uma classe de personagem diferente. Eu comecei com a Espada e Escudo, recomendada para novatos, mas logo me aventurei com o Espadão e mais tarde o Arco. Cada arma tem sua própria mecânica, moveset e estilo de jogo, ao ponto de parecerem jogos completamente diferentes.
O novo sistema de “golpes de foco” e feridas nos monstros adiciona outra camada de profundidade. Agora você pode se concentrar em pontos específicos do monstro, causando feridas que não só aumentam seu dano como garantem materiais específicos quando explorados corretamente. Ver um pedaço da armadura de um monstro rachar após vários golpes bem posicionados traz uma boa dose de satisfação.
O mais impressionante para mim foi descobrir que posso carregar duas armas simultaneamente e alternar entre elas durante a caçada. Isso abriu um mundo de possibilidades táticas que nunca imaginei em um jogo desse tipo. Começar com uma arma à distância para enfraquecer o monstro e depois trocar para uma arma corpo a corpo quando ele cansa se tornou minha estratégia favorita.

Uma História Simples, Mas Que Surpreende
Eu não esperava muito da narrativa – afinal, o foco parecia ser nas caçadas. Para minha surpresa, Monster Hunter Wilds tem uma história bem trabalhada, contada através de cutscenes dubladas (em português brasileiro, o que foi um alívio para mim).
A história gira em torno da sua jornada para encontrar Nata e investigar o misterioso Espectro Branco. Os personagens são carismáticos, especialmente Nata e sua equipe, que recebem desenvolvimento considerável ao longo da aventura. A narrativa também toca em temas como conservação ambiental e o equilíbrio entre humanos e natureza de uma forma que não parece forçada.
O protagonista (seu personagem) agora tem voz e personalidade própria, o que me ajudou a me conectar mais com o mundo e os eventos. As cutscenes são frequentes, principalmente no primeiro capítulo, mas geralmente interessantes o suficiente para não se tornarem um fardo. Para alguém como eu, que precisava entender esse novo universo, essas pausas na ação para contextualização foram bem-vindas.

A Curva de Aprendizado
Não vou mentir: existe uma montanha de sistemas, mecânicas e terminologias para aprender em Monster Hunter Wilds. Das 14 armas diferentes às dezenas de itens, passando por crafting, comidas, habilidades… é muita coisa. Felizmente, o jogo faz um trabalho decente em introduzir esses elementos gradualmente durante a campanha principal.
O jogo também oferece diversas melhorias de qualidade de vida que, pelo que pesquisei, não existiam em títulos anteriores – corrijam-me se eu estiver equivocado. Você pode cozinhar refeições (que dão buffs importantes) de qualquer lugar, seu inventário é reabastecido automaticamente durante as caçadas, e há opção de chamar NPCs para ajudar quando você não tem amigos online – o que não me fez desistir nas primeiras horas.

O Visual: Beleza com Alguns Comprometimentos
O aspecto visual de Wilds me impressionou principalmente pelo design dos monstros. Essas criaturas são fantásticas – desde os menores herbívoros até os predadores apicais, cada um tem personalidade, animações detalhadas e comportamentos distintos. Ver um Rathalos (um dos monstros icônicos da série) voando majestosamente pela primeira vez foi um momento memorável.
A direção de arte é o que me ganhou, com ambientes diversos e criativos. No entanto, há diversos problemas técnicos: texturas que demoram a carregar completamente, pop-ins frequentes e ocasionalmente qualidade visual abaixo do esperado para um jogo de nova geração.
A performance, mesmo sendo um jogo extremamente pesado, por outro lado, é geralmente estável, com algumas quedas de framerate mesmo em situações caóticas. Para um jogo de ação onde precisão e timing são cruciais, essa priorização faz sentido, mas poderia ser uns 30% mais otimizado. Mesmo com minha RTX 4060, i5 10400f, gerador de quadros e tudo mais, tive que colocar o jogo em 1080p para ter uma boa jogatina acima dos 60 quadros por segundo.

A Comunidade: Um Mundo à Parte
Uma descoberta inesperada para mim foi a incrível comunidade de Monster Hunter. O jogo facilita imensamente jogar com outros caçadores, seja em missões específicas ou simplesmente explorando o mundo aberto.
Caçar em grupo transforma completamente a experiência. Cada jogador traz sua arma e estilo de jogo único, criando dinâmicas interessantes. Um jogador pode focar em atordoar o monstro, outro em cortar sua cauda, enquanto um terceiro oferece suporte com buffs. É uma dança coordenada que, quando funciona, é extremamente satisfatória.
Os veteranos que encontrei foram geralmente acolhedores e pacientes com meus erros de novato. Muitos até paravam para me explicar mecânicas que eu claramente não entendia. Essa comunidade colaborativa certamente contribuiu para minha transformação de iniciante confuso a caçador dedicado.

O Veredicto de um Ex-Novato
Agora entendo por que esta série tem uma base de fãs tão apaixonada. A profundidade dos sistemas de combate, a variedade de builds possíveis, o ciclo de caça-craft-caça, e a satisfação de melhorar gradualmente suas habilidades criam uma experiência que vai muito além da simplicidade que eu esperava.
Para outros novatos como eu, Wilds parece ser o ponto de entrada perfeito. É mais acessível que os títulos anteriores (pelo que pesquisei), oferece uma introdução gradual às mecânicas, e ainda assim mantém a profundidade que os veteranos apreciam, especialmente no conteúdo pós-campanha.
Não é um jogo para todos – a curva de aprendizado ainda é íngreme, os menus continuam complicados, um hud exagerado e cheio de informações, e a natureza repetitiva do loop de gameplay pode não agradar quem busca experiências mais variadas. Mas para quem estiver disposto a investir o tempo necessário para dominar suas mecânicas, Monster Hunter Wilds oferece uma experiência incrivelmente recompensadora.
Chave cedida gentilmente pela Capcom.