Metal Gear Solid Δ: Snake Eater chega com a difícil missão de recontar um dos maiores clássicos já lançados pela Konami. O remake de Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004) carrega o peso de um legado construído por Hideo Kojima, e ainda que ele não esteja mais envolvido diretamente, a proposta foi clara: atualizar este marco da história dos videogames com a Unreal Engine 5, sem mexer em sua essência.
Minha experiência foi a de alguém que não cresceu com a franquia. Meu contato anterior havia sido apenas com Metal Gear Rising e a demo do capítulo V, Ground Zeroes. Ou seja, não trago comigo a nostalgia tão forte que muitos fãs carregam. Mesmo assim, pude compreender por que este jogo é tão aclamado, e posso dizer que este remake cumpre seu papel: entregar uma aventura de espionagem emocionante, visualmente incrível e cheia de mecânicas únicas que não perderam sua força.
O retorno triunfal da selva
Se existe algo que Metal Gear Solid Δ faz de maneira impecável, é nos colocar no coração da floresta. A selva da União Soviética dos anos 60 nunca foi tão bonita, detalhada e vibrante.
Cenários deslumbrantes: os visuais atualizados na Unreal Engine 5 impressionam em cada detalhe. Poucos jogos da atual geração conseguiram criar ambientes naturais tão críveis e densos. A luz atravessando as copas das árvores, a chuva sobre o solo encharcado, os pássaros ao longe e até os insetos que emergem do chão trazem uma imersão sem igual.
Snake vivo no ambiente: a sujeira que gruda nas roupas, marcas de ferimentos e pequenas cicatrizes no corpo do protagonista ajudam a reforçar o senso de jornada e sobrevivência.
Comparado aos cenários artificiais que muitas vezes encontramos em outros jogos de ação, Snake Eater consegue dar a sensação de estar dentro de uma selva real, com seus próprios riscos e oportunidades. Acho que é o mais bonito que já vi nessa atual geração.

Fidelidade acima de tudo
Um dos pontos mais comentados sobre este remake é sua fidelidade quase absoluta ao original de 2004.
Toda a dublagem original foi mantida, incluindo a trilha temática icônica interpretada por Cynthia Harrell, que continua impecável e impactante. Isso significa que, do ponto de vista narrativo e sonoro, estamos praticamente com o mesmo jogo de antes. Há pequenas inserções e atualizações trazendo contexto para a época atual – como do filme do Godzilla.
Isso tem lados positivos e negativos:
Positivo porque a história é atemporal. A jornada de Naked Snake para se tornar o lendário Big Boss continua tão fascinante hoje quanto há 20 anos. É um roteiro de espionagem que rivaliza com James Bond e Missão Impossível, cheio de drama, tensão política, personagens excêntricos e reviravoltas emocionantes.
Negativo porque, em termos criativos, há pouca ousadia. Muitos chamam o jogo de “um remaster de luxo”, por não inovar em nada além do aspecto visual.
Ainda assim, como alguém que não conhecia a história em profundidade, posso garantir que funciona perfeitamente para novos jogadores. É um daqueles roteiros raros no mundo dos games que permanecem interessantes décadas depois.

Jogabilidade entre o clássico e o moderno
O grande diferencial em termos de jogabilidade é a possibilidade de escolher entre dois estilos:
Legacy Mode: mais próximo das mecânicas originais.
Modern Mode: câmera sobre o ombro e controles mais fluidos, lembrando a abordagem de Metal Gear Solid V.
Escolhi a jogabilidade moderna, e sinceramente, foi uma ótima decisão. O sistema é mais acessível, suave e menos confuso, embora ainda tenha momentos em que Snake pareça um pouco “pesado” em sua movimentação.
Entre as principais mecânicas que se destacam estão:
Camuflagem (Camo Index): trocar roupas e pinturas faciais para mesclar-se com o ambiente continua sendo um dos aspectos mais engenhosos do jogo.
Sobrevivência: caçar animais, pescar e tratar manualmente de ferimentos adiciona camadas de realismo que poucos jogos ainda se atrevem a explorar.
CQC (Close Quarters Combat): o sistema de combate corpo a corpo é simples, mas eficiente. Permite interrogar guardas, usá-los como escudo humano ou eliminá-los de forma rápida.
Boss Fights épicas: os membros da Unidade Cobra estão entre os chefes mais criativos e memoráveis já feitos. Cada luta traz uma dinâmica completamente nova. Gostoso demais!

Problemas técnicos
Por mais que a selva seja deslumbrante e a iluminação da Unreal Engine 5 torne cada canto um espetáculo, o desempenho deixa a desejar.
Há relatos (e vivi alguns momentos) de quedas bruscas de FPS, especialmente em situações com muitos efeitos visuais.
Artefatos gráficos aparecem em cabelos e objetos mais complexos.
Em algumas cutscenes, o jogo sofre quedas de performance inexplicáveis.
As transições de cenário ainda são feitas com telas de loading, algo que soa datado em pleno 2025 – mas também não sei uma melhor forma de resolver sem desagradar os mais puristas.

O dilema do remake
O coração desta discussão é simples: até onde deve ir um remake?
Metal Gear Solid Δ se manteve seguro. Ele atualiza a parte técnica e visual, mas não ousa redesenhar cenas, missões ou sistemas. Para fãs veteranos, isso é ótimo: o respeito ao clássico é total. Para novatos, significa também encontrar uma obra-prima com algumas rugas expostas – sistemas que já soam rígidos, transições datadas e algumas escolhas narrativas “cringe” para padrões atuais.
O jogo não destrói o legado. Pelo contrário, ele o preserva. Mas também não o expande, deixando uma sensação de que poderia ter oferecido mais em termos criativos. Pessoalmente, gosto de remakes mais fiéis aos originais, como foi o que aconteceu por aqui.

Vale a pena jogar?
Se você é fã da série, a resposta é um sonoro “sim”. Este é provavelmente o remake mais fiel que você poderia pedir: é o mesmo clássico, só que agora com um visual deslumbrante.
Se você nunca jogou como eu, a recomendação é mais cautelosa: sim, vale conhecer, porque esta é uma das histórias mais icônicas já escritas para videogames. Mas esteja ciente de que alguns aspectos da jogabilidade e estrutura ainda pertencem a outra época.
E para todos, fica o alerta: talvez seja sensato esperar por patches de otimização e uma futura queda de preço antes de mergulhar de vez na selva.