Para esta estreia da Temporada de Primavera 2023, temos mais um meta-anime. Ou seja, um anime que se baseia na cultura de fãs e comunidades criadas ao longo da história da cultura otaku, que já tem mais de meio século. Também, o gosto pela opção psicodélica faz de Mahou Shoujo Magical Destroyers, antes de tudo, uma experiência visual. Sendo assim, confira mais do anime neste Primeiro Gole!

Guerra ao Otaku

Boas notícias, tá criminalizado o otaku! Ou ao menos é isso o que acontece num fatídico dia, quando a SSC toma as ruas e fiscaliza toda e qualquer coisa relacionada à cultura otaku. Com isso, seus fãs são presos e “reeducados”, restando apenas um núcleo de resistência. Este grupo luta para reclamar para si um mundo onde todos possam “dizer do que gostam, sobre o que gostam e o quanto gostam”. O plot até aqui lembra Shimoneta? Pois é, não gratuitamente.

Na realidade, se para muita gente aqui ser um fã assíduo de anime e de garotas 2D foi ou ainda é motivo de estigma, no Japão não é nada diferente. Afinal, no Brasil a palavra “otaku” tem um significado um pouco mais demarcado (um fã de anime). No entanto, o anime otaku do Japão traz uma imagem desdenhosa, de um “homem fracassado”, ou de uma “garota apodrecida” (fuhai joushi em bom japonês, ou fujoshi para nós).

mahou shoujo magical destroyers
Divulgação: Crunchyroll

Referências Históricas

Quem defende essa informação é o antropólogo Patrick Galbraith, a quem tenho como uma referência querida no assunto, em seu artigo “Otaku Reseach and Anxiety About Failed Men” (algo como, “Otaku Research e Anseios Sobres Homens Fracassados). Nesse artigo, Galbraith está interessado em nos mostrar como um dos primeiros usos da palavra “otaku” (Japão, 1983), já começa a ser propagada em tons pejorativos. Ou seja, descreve rapazes que, dito de forma direta, preferem suas waifus do que arrumar uma namoradinha.

Além disso, desse histórico pouco positivo à noção de “otaku” no Japão, somam-se dois episódios traumáticos na história recente do Japão. O primeiro, os assassinatos em série cometidos por Tsutomo Miyazaki em 1989, e os atropelamentos e esfaqueamentos de 2008 em Akihabara, cometidos por Tomohiro Kato.

Ambos os criminosos foram divulgados na mídia como sendo otakus, o que criou de vez um pânico japonês contra fãs de mangá e anime. Então, depois do crime de Tomohiro, o governo japonês restringiu os acessos às ruas movimentadas de Akihabara, que desde o início dos anos 2000 virou a atual mecca dos otakus.

Nesse contexto, se você já assistiu o primeiro episódio de Magical Destroyers, alguma coisa aqui já deve ter clicado na cabeça. O Ermi Anime recapitulou muito bem o plano de fundo da paródia que o anime pretende ser.

Violência Psicodélica, Crime do Visual Shock

De qualquer forma, tirando essa paródia que acabamos de contextualizar, resta de Magical Destroyers pouca coisa, mas ainda assim interessante: sua tendência ao absurdo psicodélico. Primeiramente, a abertura, uma das melhores da temporada (o que é dizer muito, já que essa temporada está um espetáculo de aberturas). Ela mais parece ter saído de um YouTube Poop.

Também, o absurdo da trama. Otakus reunidos como uma Resistência combatendo um exército fiscalizador de cultura otaku é também um exagero conveniente.

Ainda mais, é claro que não podemos deixar de dar destaque ao trio de garotas mágicas que ilustram o anime. Capturando com maestria o padrão do dia a dia, temos a combinação do visual moe com as personalidades mais doidas possíveis, quando não depravadas.

mahou shoujo magical destroyers
Divulgação: Crunchyroll

Por exemplo, Anarchy é o rosto do grupo, liderado por Otaku Hero. Então, com o passar dos três primeiros episódios, conhecemos também a Blue, uma tarada ninfomaníaca e Pink, uma literal drogada. Literal mesmo, com agulhas, rave e bad trips, o pacote completo. Esse último dado me deixou pasmo, porque quem conhece sabe como o Japão é completamente rígido até mesmo com a menção a drogas.

Portanto, isso quer dizer que jamais veremos o final de Last Girl Tour animado. Afinal, como permitir na TV duas meninas puxando uma diamba? Jamais, né?

Enfim, tudo até agora tem sido uma surpresa atrás da outra. Magical Destroyers é imprevisível, ganhando muitos pontos pela originalidade. Por isso mesmo que o anime é uma forte indicação nossa para a nova temporada!

mahou shoujo magical destroyers
Divulgação: Crunchyroll

ASSISTA AGORA NA CRUNCHYROLL