quarta-feira, abril 2, 2025
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Lazarus | Primeiro Gole

O anúncio de um novo anime de ninguém menos que Shinichiro Watanabe, em julho de 2023, não teria como passar em branco. Quando você é o diretor de clássicos como Cowboy Bebop e Samurai Champloo, atenção com certeza será algo que seus trabalhos terão dali em diante. Space Dandy foi muito bem elogiado à época de sua estreia e, apesar de ter caído em sua reta final, Carole & Tuesday construiu personagens e trama envolventes em seu começo.

De lá pra cá, de painel em painel, detalhes novos da nova obra de Watanabe vinham à tona. Por exemplo, a crença do diretor de que este seria um marco em sua carreira, definindo Lazarus como sua obra-prima, a participação de Chad Stahelski, diretor de John Wick, na coreografia das cenas de ação, tranquilizando Watanabe a gastar o que precisasse pra concluir Lazarus e até uma prévia mais que bem vinda da abertura do anime. De 2023 até 2025, choveram detalhes e mais detalhes em cima de Lazarus, indicando aí as altas expectativas em cima de sua estreia.

Entretanto, detalhes estes que passaram batido por este autor até pouco tempo atrás. 2025 promete tanta estreia boa no mundo dos animes, que fica difícil para quem já não é tão bom assim com memória manter-se à par de cada atualização.

Porém, um convite feliz para assistir os primeiros cinco primeiros episódios de Lazarus nos traz até aqui! O que se segue é uma confirmação em primeira mão de todos esses anúncios e mais um pouco!

O mesmo armário, mas de traje novo

Comparações a Cowboy Bebop serão inevitáveis. Ao encomendar um anime original do diretor Watanabe, o Adult Swim parecia ter uma boa ideia mercadológica do que ela gostaria de vender ao seu público alvo. Leia-se uma experiência atualizada de um dos nomes mais populares da história dos animes no ocidente: Cowboy Bebop.

O elemento futurista é uma constante do diretor. Até mesmo Samurai Champloo põe um pézinho no futuro quando realiza um casamento feliz do rap e o lo-fi (RIP Nujabes) com a estética do samurai ronin, meio arruaceiro. Agora, o protagonista esguio, de jeito malandro? Sua participação num grupo de excêntricos? A fórmula grita: Spike e companhia.

A questão que fica é: isso é necessariamente ruim? Se o guarda-roupa de Lazarus é o mesmo, sua roupagem é nova e genuinamente atualizada. O anime se salva da mesmice com uma inquietação atualíssima e muito pertinente de seu diretor.

A trama de Lazarus nos convida a refletir sobre uma condição muito comum de nossos dias: até que ponto podemos dizer que estamos realmente vivos quando não olhamos nossas dores de frente? Até quando uma vida totalmente isenta de tristezas não pode ser chamada de uma farsa?

Hapuna: a felicidade em um comprimido

O ano é 2052. O Dr. Skinner desenvolve um analgésico milagroso, o Hapuna. Seu nome vem do sueco häpna, que rima com happiness: felicidade. O remédio milagroso retira as dores e as angústias das pessoas, sem efeitos colaterais.

Seu sucesso é instantâneo e o mundo todo, que 65 anos antes vivera o milagre do Prozac, agora vivia o milagre do Hapuna. Nesse meio tempo, Skinner desaparece, um ano depois da estreia de sua invenção, para voltar com um anúncio arrepiante três anos depois.

Quatro anos depois do sucesso comercial da nova droga, o doutor anuncia em todas as telas possíveis que em 30 dias, todos que tomaram a Hapuna morrerão. Seu raciocínio é simples. A morte é a ausência de todas as dores. Logo, uma humanidade que vive para o escapismo, é uma humanidade que já está morta. A menos que alguém consiga o feito de encontrá-lo antes desses trinta dias. Nesse caso, haverá a cura.

Depois do terrorismo psicológico, o mundo entra em caos. E no meio desse caos, começando uma corrida contra o tempo, entra em cena Axel Gilberto e uma gangue em busca do Dr. Skinner: Lazarus.

Assim como a história bíblica, que conta do Lázaro ressuscitado por Jesus Cristo, o grupo Lazarus correrá contra o tempo para que essa humanidade condenada à morte pelo Hapuna possa ser ressuscitada.

A angústia do doutor

Sò assisti o primeiro episódio, por motivos bem particulares. Não é com desprezo que digo isso, mas não abro mão de assistir anime na dublagem original. Dublagem americana chega ao ponto da dor física, mas respeito o trabalho dos profissionais. É questão pessoal, é questão de gosto.

A ressalva feita, o primeiro episódio de Lazarus é extremamente bem-feito! As acrobacias de Gilberto, um protagonista de nome brasileiríssimo e de malandragem brasileiríssima, confirmam a promessa de uma ótima direção de coreografia. Da música então, nem se fala. O Adult Swim sabe que os fãs de Cowboy gostam de Bebop, e de jazz bebop Lazarus é cheio, com uma abertura fantástica!

Cenário atual

Porém! A genialidade de Watanabe, desta vez, mora na sua inquietação expressa pelo doutor Skinner, um personagem seu. O papel da psiquiatria começou tratando os doentes, a custos físicos pesados para aqueles que se medicavam com drogas mais antigas, como o diazepam.

Dos últimos 35 anos mais ou menos para cá, o mundo viu um boom de medicações mais seguras, com os benefícios superando os efeitos colaterais. A psiquiatria começou, desde 1987, a ter pacientes que não estavam doentes, mas que precisavam deixar de se sentirem mal. Deixar de sofrer por amor. Deixar de se frustrar.

O naipe desse sucesso comercial pode ser visto na vida marinha, onde até os peixes ficam afetados pelas substâncias químicas dos medicamentos que tomamos sendo lançadas no esgoto.

A premissa me tomou de surpresa pela coincidência. Não fazia um mês desde que assisti a uma palestra interessantíssima de um psiquiatra no Café Filosófico discutindo o lugar do remédio na nossa sociedade. E não qualquer remédio, evidente, mas o remédio psiquiátrico.

Se de um lado vivemos mais cientes da necessidade de tratar nossas mazelas emocionais, do outro vivemos cada vez mais intolerantes ao sofrimento. E nesse processo, o tratamento terapêutico, a introspecção e a busca do conhecimento de si é posto de lado no lugar de um comprimido que pode simplesmente te deixar melhor, ajustar a química do seu cérebro e vida que segue.

O que esperar?

Este louco por enredo que vos escreve ficará para acompanhar as implicações dessa inquietação do antagonista de Lazarus, suas motivações e o que mais poderemos tirar desse tipo de questionamento, tão importante pra quem convive num mundo muito mais psiquiatricamente medicado e auto-medicado. Esses pensamentos alugam um triplex na cabeça deste autor, ainda mais na condição de professor, já em convívio com crianças medicadas desde a quinta série.

Nerdices à parte, definitivamente ficarei para acompanhar este novo trabalho do mestre. Perdi a conta de quantas vezes vi Cowboy Bebop, sou doido pra rever Samurai Champloo e atualizar as memórias de infância e, mancadas à parte, Carole and Tuesday foi um prazer de ver. Todos os elementos criativos, cinematográficos e musicais que dão o merecido prestígio a Shinichiro Watanabe estão muito bem presentes em Lazarus!

A quem for assistir, bom proveito e parabéns pelo bom uso de seu tempo! A produção tem estreia agendada para o dia 06 de abril na plataforma de streaming MAX.

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Redação
Redaçãohttps://sucodemanga.com.br/
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