No dia 3 de março celebramos o aniversário de morte do autor Kenzaburo Oe, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Considerado um dos principais romancistas contemporâneos do Japão, seus livros tem fortte influênia da literatura e da teoria literária francesa e ocidental de modo geral. Além disso, tratam de questões políticas, sociais, filosóficas, éticas e estéticas.
O auor recebeu os mais importantes prêmios literários do Japão, incluindo o Akutagawa, o Tanizaki e o Yomiuri. Então, em 1994 foi reebeu o Nobel de Literatura. Oe faleceu aos 88 anos no dia 3 de março de 2023.
Recentemente, O menino da triste figura, segundo volume da trilogia do autor, chegou na Editora Estação Liberdade. Além dele, também estão disponíveis A substituição ou As regras do Tagame (vol.1) e Adeus, meu livro! (vol.3).
Trilogia completa de Kenzaburo Oe

- Título: O menino da triste figura
- Autor: Kenzaburo Oe
- Tradutor: Jefferson José Teixeira
- ISBN: 978-65-86068-99-3
- Formato: 16 x 23 cm | 512 pág.
Os mistérios do vale e da floresta; histórias, lendas e mitos contados pelos habitantes do vilarejo ao longo de gerações. Uma incessante busca pela conexão entre este mundo e o outro — e um elemento que conecta todos: a memória.
Em O menino da triste figura, o escritor Kogito Choko, alter ego de Kenzaburo Oe e também protagonista em A substituição ou As regras do Tagame (vol.1) e Adeus, meu livro! (vol.3), retorna a sua terra natal no interior da ilha japonesa de Shikoku.
Junto com seu filho Akari, Kogito toma residência em uma casa da família herdada após a morte recente da idosa mãe. Assim, se vê em uma tentativa de remontar o próprio passado para escrever uma nova obra literária.
Desta vez, contando com a ajuda da espirituosa Rose, uma pesquisadora literária estadunidense, ele deseja escrever sobre o “menino”. Ou seja, uma figura emblemática e intangível que inúmeras vezes ajudou a salvar as pessoas da região. Junto também de alguns conhecidos de longa data, Kogito embarca em uma jornada de descobertas pelo vale e pela floresta, visitando locais e se encontrando com jovens que poderiam dar continuidade às lendas de sua terra natal.
Oe, de pronto, evidencia sua intertextualidade no título com uma alusão ao apelido que Sancho Pança usa para se referir ao dom Quixote: “o Cavaleiro da Triste Figura”.
Se por um lado, da poesia consagrada ao texto religioso, as personagens dão voz a Shakespeare, Yeats, Blake, à Bíblia, a poemas clássicos da literatura japonesa, por outro, notamos autorreferências a obras anteriores escritas por Kogito, cujos títulos são — coincidência ou não — muito próximos aos empregados pelo próprio Oe em suas obras.
Não são raras as vezes em que Rose compara Kogito ao fidalgo de La Mancha, seja pelas peripécias onde acaba machucado ou por demonstrar inclinação à causas aparentemente perdidas. Ao redor dele, com frequência são traçados paralelos que causam menções a outros personagens do romance de Cervantes, como Sancho Pança, Dulcineia, Rocinante e o Cavaleiro da Branca Lua.
Enquanto os aspectos físico e histórico do mundo narrativo descrito pelo autor parecem se encaixar a nossa realidade, o recorte ao qual temos acesso parece mostrar um universo que depende da palavra para poder funcionar.
Curiosidade
No primeiro momento, fazer uma relação entre O menino da triste figura, do autor japonês Kenzaburo Oe, e Dom Quixote, escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, pode parecer improvável, principalmente nos contextos históricos e culturais. Porém, ambas as obras podem ser exploradas por meio da mescla de elementos ficcionais conjugados com peças da realidade, a busca pela identidade, a luta contra a realidade e a complexidade humana, temas recorrentes nas obras de Kenzaburo Oe.
Outra relação pode ser feita através da linguagem narrativa dos autores. Tanto Oe quanto Cervantes utilizam uma linguagem rica em simbolismo, marcada por uma imaginação abundante, reflexões profundamente filosóficas e experiências pessoais, fato que pode ser reforçado com a citação da Academia Sueca na entrega do Prêmio Nobel a Kenzaburo Oe: “um escritor que com força poética cria um mundo imaginado em que a vida e o mito se condensam para formar uma imagem desconcertante da atual condição humana“.
A substituição ou As regras do Tagame (vol.1)

Este é o primeiro livro da grande trilogia da maturidade de Kenzaburo Oe. Em romance fortemente autobiográfico, o autor faz um balanço de décadas de criação literária, revisitando tanto personagens que lhe são próximos quanto episódios marcantes de sua carreira.
Mesclando elementos ficcionais com peças da vida real, A substituição ou As regras do Tagame leva os leitores ao sublime por meio de diálogos, memórias e acontecimentos perturbadores.
LANÇAMENTO: O menino da triste figura (vol.2)

No livro, o escritor Kogito Choko, alter ego de Kenzaburo Oe, retorna à sua terra natal nos confins da ilha de Shikoku para tentar escrever uma nova obra literária. Junto com seu filho Akari, Kogito vai residir em uma casa da família herdada após a morte recente da mãe e se vê em uma tentativa de remontar o próprio passado para escrever uma nova obra literária.
Desta vez, contando com a ajuda da espirituosa Rose, uma pesquisadora literária estadunidense, ele deseja escrever sobre o “menino”, uma figura emblemática e intangível que inúmeras vezes ajudou a salvar as pessoas da região. Acompanhado também por alguns conhecidos de longa data, Kogito embarca em uma jornada de descobertas pelo vale e pela floresta, visitando locais e se encontrando com jovens que poderiam dar continuidade às lendas de sua terra natal.
Adeus, meu livro! (vol.3)

Em Adeus, meu livro!, o ganhador do Nobel de Literatura 1994 reúne todas as suas “assombrações”, dando voz mais uma vez ao romancista Kogito Choko, agora mais velho e acamado em um quarto de hospital devido a um grave ferimento. Em diálogo com Shigeru Tsubaki, um amigo de infância que volta a conviver com ele, Kogito relembra o que já escreveu, repensa como continuar escrevendo e tem que decidir como manter seu pacifismo perante um mundo tão mudado e violento. Traduz aqui em romance de maturidade seu engajamento público contra o afastamento do Japão de sua constituição antimilitarista.
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Sobre o autor
Kenzaburo Oe nasceu em 1935, em Ose, vilarejo de Shikoku, a menor das quatro principais ilhas do Japão. Oe tinha seis anos quando estourou a Segunda Guerra Mundial, durante a qual seu pai morreria. Uma de suas avós era contadora de histórias e carregava assim os mitos e as tradições do clã Oe, impactando o jovem Kenzaburo.
Com a derrota do Japão na guerra, ocorreram enormes mudanças no país, inclusive onde cresceu Oe. Os alunos nas escolas passaram a receber uma educação diferente, aprendendo princípios ocidentalizados, ao que Oe manifestaria reservas. Aos dezoito anos, pegou pela primeira vez o trem até a capital do país e, um ano depois, estudava literatura francesa na Universidade de Tóquio. Através da influência do realismo grotesco de Rabelais, passou a reinterpretar a história de seu povoado e a sua própria.
Começou a escrever em 1957. Compôs um poderoso ensaio sobre o bombardeio atômico de Hiroshima e o terrível legado da catástrofe, além de uma extensa lista de ficção que se utiliza bastante do Japão pós-guerra para retratar uma geração marcada por tanta tragédia. Assume então uma posição pacifista e antimilitarista que marcaria fortemente sua atuação cívica.
A vida e a carreira literária de Oe entraram em crise com o nascimento de seu primeiro filho, Hikari, portador de uma deformidade craniana que lhe resultou em comprometimento cognitivo. Apesar disso e mesmo por causa disso, Oe adquiriu novo fôlego e nova perspectiva sobre a existência e a escrita, em que Hikari tomaria uma posição central.

Recebeu os mais importantes prêmios literários do Japão, incluindo o Akutagawa, o Tanizaki e o Yomiuri; em 1994 foi o segundo japonês a ser laureado com o Nobel de Literatura, após Yasunari Kawabata em 1968. Faleceu em 2023, aos 88 anos.