No meio ao chororô, surge finalmente um filme que eleva o cinema nacional: Kardec, de Wagner de Assis, conhecido por Menina Índigo e Nosso Lar, e distribuído pela Sony Pictures.

O longa conta a história do francês que decodificou o espiritismo, um filme esperado por seu misticismo quanto às histórias sobre o mistério de Alan Kardec, mas que apresentou algo muito melhor do que esse mistério, trouxe a realidade do ser humano perante ao desconhecido, pegando de surpresa o que poderia parecer o óbvio, uma obra espetacular.

Decodificação do espiritismo 

O kardecismo muito bem explorado desde o livro, a decodificação do espiritismo está bem apresentado mas é visto em segundo plano, o que chama atenção na trama é a reviravolta das pessoas, um dia maravilhadas com tudo isso, no outro rotulam como bruxaria, considerando uma afronta a igreja, como é o ser humano alienado não é? Parecem ovelhas, o filme coloca esse conflito de forma sutil, algo de praxe quando se envolve religiões, a intolerância religiosa domina o roteiro, mas pelo conjunto da obra em si apresenta alguns problemas quanto a ritmo e isso pode ser o grande problema que pode fazer esse filme ser esquecido na história do cinema nacional, por ser rico em diálogos, o grande conflito da trama acerta mas não impacta, não por fraqueza e sim pelo estilo de roteiro, em tempos onde o cinema só busca quantidade ao invés de qualidade, pode-se dizer que é ousado, apesar de não ser um absurdo, quem ganha são aqueles que não gostam dos mesmos filmes de sempre.

A fotografia desse filme é algo espetacular e o roteiro é trabalhado de forma redonda, porém é um filme espírita, muito provável que se tornará um cult nacional, além do seu tema, sua linguagem é mais detalhada em desenvolvimento de trama, bem mais complexo que qualquer filme popular, alguém que não tenha a cabeça mais ampla para produções assim, fatalmente dormirá a ponto de babar, e será chamado de chato e ruim por pessoas mais propensas a se divertir com filmes genéricos, normal do mundo cinematográfico, essa obra do cinema nacional não pode cair no esquecimento, Kardec é a prova que o Brasil não é feito de comédia escrachadas, isso é um deleite para qualquer cinéfilo e, nesse caso, espíritas.

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Grande diretor: Wagner de Assis

O diretor Wagner de Assis não é um nome desconhecido no cinema nacional, ele já dirigiu grande obras para o cinema brasileiro, já é possível comparar seus filmes e trazer padrões conhecidos, Kardec trabalha a sutileza de uma trama bem desenvolvida e facilmente absorvida para quem já está acostumado com seus filmes ricos em diálogos e profundo em roteiro, lembrando Menina Índigo, que trás a mesma sutileza e mensagem profunda, mas é muito mais leve e fácil para pessoas com ou sem a visão cinéfila.

Trazendo uma reflexão mística e sobrenatural que faz sentido para aqueles mais crentes na religião, como em Nosso Lar, o diretor já provou que sua mão na direção é certeza de um grande trabalho, mas como a ignorância da massa acha que filme nacional é tudo ruim.

Mais um bom filme nacional

Seja um cult ou não, Kardec é o “cala a boca” aos céticos à capacidade do Brasil fazer grandes filmes, e também se deliciar com uma bela cinebiografia do francês Hypolite Leon sobre o estudo do espiritismo, evoluindo personagem do cético ao convertido, e incrementando com a intolerância religiosa que infelizmente não é uma ficção.

REVIEW
Kardec
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Baraldi
Editor, escritor, gamer e cinéfilo, aquele que troca sombra e água fresca por Netflix e x-burger. De boísta total sobre filmes e quadrinhos, pois nerd que é nerd, não recusa filme ruim. Vida longa e próspera e que a força esteja com vocês.
kardec-reviewLeonardo Medeiros é o protagonista Hyppolite Léon Denizard Rivail - reconhecido depois como Allan Kardec -, o educador francês nascido em 1804 que codificou o espiritismo a partir de 1857. A produção tem ainda no elenco nomes como Sandra Corveloni (Amélie-Gabrielle Boudet), Guilherme Piva (Didier), Leonardo Franco (Sr. Carlotti), Genézio de Barros (Padre Boutin), Guida Vianna (Madame De Plainemaison), Julia Konrad (Ruth-Celine), Charles Fricks (Charles Baudin), Licurgo Espinola (Sr. Babinet), Letícia Braga (Julie), Júlia Svacinna (Caroline), Dalton Vigh (Sr. Dufaux) e Louise D’Tuani (Ermance Dufaux). O roteiro de L.G. Bayão (“Irmã Dulce”, “Heleno” e “Minha Fama de Mau”) e Wagner de Assis acompanha a trajetória de Kardec desde o período em que atuava como educador, passando pela investigação dos fenômenos, pelo processo de codificação da doutrina espírita, até a publicação e repercussão de “O Livro dos Espíritos”.