quarta-feira, maio 28, 2025
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Judas Priest em Carne e Aço no Monsters of Rock 2025

Sob o céu paulistano do Allianz Parque, no último sábado (19), algo próximo de uma experiência religiosa aconteceu. Não houve milagres – apenas técnica impecável, décadas de maestria e uma demonstração visceral do que significa ser uma lenda viva do heavy metal. O Judas Priest, grupo que há 55 anos forja os fundamentos do metal, transformou sua apresentação no Monsters of Rock 2025 em um testamento sonoro de sua imortalidade.

A INFALIBILIDADE DE UM “DEUS”

Aos 73 anos, Rob Halford não pede licença para entrar – ele simplesmente domina o espaço como se o tempo fosse apenas um conceito abstrato para mortais comuns. Seu título de “Metal God” nunca pareceu tão apropriado. Com movimentos precisos, calculados para maximizar o impacto sem desperdiçar energia, Halford prova que envelhecer no rock não é vergonha – é privilégio.

O vocalista abordou faixas tecnicamente desafiadoras como um artesão confiante, moldando notas que desafiam a lógica biológica. Durante “Painkiller”, música que os trouxe pela primeira vez ao Brasil no Rock in Rio de 1991, Halford não fugiu de suas responsabilidades vocais. O momento mais arrebatador, porém, veio com “Victim of Changes”, quando, após uma tocante homenagem visual a Glenn Tipton, ele atingiu agudos que fariam cantores de metade de sua idade tremerem de intimidação.

judas priest monsters of rock 2025
Crédito: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

UMA LEGIÃO DE FERRO

O baixista Ian Hill, aos 74 anos, permanece como a única conexão direta com a formação inicial de 1970, além de Halford. Como guardião silencioso, Hill executa seu papel com uma dignidade estoica – ciente de que seu valor está precisamente em proporcionar a fundação sobre a qual os outros membros podem brilhar.

Os guitarristas representam um fascinante contraste geracional. Richie Faulkner, 45, transformou-se na segunda força motriz da banda desde a saída de K.K. Downing. O músico, que sobreviveu a um aneurisma de aorta em pleno palco em 2021 e posteriormente a múltiplos AVCs que, segundo ele próprio, causaram danos cerebrais, exibe no palco uma resiliência quase sobrenatural. Sua técnica agressiva e presença magnética consolidaram-no como pilar fundamental do Priest contemporâneo.

Andy Sneap, 55, inicialmente trazido como substituto temporário para Glenn Tipton após o diagnóstico de Parkinson do guitarrista original, encontrou seu lugar na formação. Mais reservado que Faulkner, mas igualmente fundamental, o produtor-tornado-guitarrista demonstra crescente confiança a cada tour – expandindo seu repertório de solos, movimentando-se mais pelo palco e até cultivando uma juba na medida do possível.

Nos bastidores da potência sonora, Scott Travis, 63, mantém a máquina em funcionamento com a precisão de um metrônomo humano. O criador da icônica introdução de bateria de “Painkiller” executa seu instrumento com a energia juvenil que contrasta com sua posição veterana na banda.

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Crédito: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

ARSENAL DE CINCO DÉCADAS

O setlist atravessou dez álbuns da discografia, privilegiando o auge criativo das décadas de 70 e 80, mas sem negligenciar o presente. Do novo “Invincible Shield”, a faixa-título e “Crown of Horns” provaram que o Priest de 2025 não é apenas uma banda revival, enquanto “Panic Attack” teve a difícil missão de abrir o show enquanto o público ainda se aclimatava com a imponente estrutura cênica.

A sequência inicial foi avassaladora: “You’ve Got Another Thing Comin'”, “Rapid Fire” e “Breaking the Law” criaram uma tríade explosiva que estabeleceu o tom da noite. O bloco intermediário, com side-tracks menos óbvias como “Riding on the Wind”, “Devil’s Child” e “Sinner”, ofereceu um respiro estratégico que valorizou ainda mais o impacto dos hits que viriam a seguir.

O retorno de Halford em sua icônica Harley Davidson para “Hell Bent for Leather” foi recebido com reverência por uma plateia agradecida, enquanto “Living After Midnight” encerrou a apresentação como uma celebração coletiva do legado imortal da banda.

judas priest monsters of rock 2025
Crédito: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

RESILIENTES POR DESIGN

A trajetória do Judas Priest nunca foi linear. A banda enfrentou uma década inicial de relativa obscuridade até alcançar o reconhecimento merecido; passou por múltiplas formações na bateria antes de encontrar estabilidade; flertou com sonoridades comerciais nos anos 80 que dividiram opiniões; perdeu seu vocalista no auge criativo pós-Painkiller; e até anunciou uma turnê de despedida apenas para voltar atrás posteriormente.

No entanto, em 2025, os britânicos culminam esse caminho tortuoso como possivelmente a banda de heavy metal mais respeitada em atividade. Em um mundo onde ícones do rock continuamente se aposentam, o Judas Priest permanece de pé – não como uma relíquia, mas como um organismo musical ainda capaz de surpresas e momentos transcendentais.

No Monsters of Rock de São Paulo, o grupo não apenas justificou seu lugar no Olimpo do metal, mas também reafirmou que imortalidade no rock não é sobre juventude eterna – é sobre adaptação, resiliência e uma conexão intergeracional que desafia explicações. Por uma noite, os deuses do metal caminharam entre nós, e São Paulo se prostrou diante de sua inegável glória.

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Crédito: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

SETLIST: JUDAS PRIEST NO MONSTERS OF ROCK 2025

  1. Panic Attack
  2. You’ve Got Another Thing Comin’
  3. Rapid Fire
  4. Breaking the Law
  5. Riding on the Wind
  6. Love Bites
  7. Devil’s Child
  8. Crown of Horns
  9. Sinner
  10. Turbo Lover
  11. Invincible Shield
  12. Victim of Changes
  13. The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (cover de Fleetwood Mac)
  14. Painkiller
  15. The Hellion + Electric Eye
  16. Hell Bent for Leather
  17. Living After Midnight

COBERTURA MONSTERS OF ROCK 2025: STRATOVARIUS | OPETH | QUEENSRYCHE | SAVATAGE | EUROPE | SCORPIONS

BELLAN
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O #BELLAN é um nerd assíduo e extremamente sistemático com o que assiste ou lê; ele vai querer terminar mesmo sendo a pior coisa do mundo. Bizarrices, experimentalismo e obras soturnas, é com ele mesmo.

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