Já passamos da metade da temporada, mas não podemos deixar uma estreia passar batido. Seria um crime fazê-lo, ainda que esse anime com certeza esteja soando um tanto esquisito à primeira vista. De qualquer forma, Hikari no Ou figura certamente como uma das estreias mais originais para 2023; e dizer uma coisa dessas num ano que acabou de começar ou é doideira ou é alguma certeza do que diz.
O Medo do Fogo
Hikari no Ou conta a história de um mundo onde a humanidade teme as chamas. Certo dia, o fogo comum, como o conhecemos, passou a incendiar as pessoas que se aproximavam dele — combustão espontânea ao melhor estilo Makoto Shishio. Então, o fogo, razão de todo o desenvolvimento humano desde os primórdios da civilização, agora retrai e espalha as pessoas em esparsos vilarejos, que sobrevivem de um fogo artificial, feito de uma pedra extraída de bestas selvagens que rondam a terra.
Assim se reestruturam as sociedades, com o suor e por vezes sacrifícios dos caçadores de fogo. Esses caçadores são especializados em exterminar estes monstros e prover os povoados com as pedras necessárias para criar um fogo não letal. Nesse cenário, a história começa quando Touko é salva de um monstro, mas seu salvador morre durante o combate. O cão de caça do salvador, Kanata, passa a acompanhá-la e eles embarcam numa jornada rumo à capital para devolver a foice e o cão para a sua família.
Operando em dois núcleos, Hikari no Ou oferece uma história tanto do ponto de vista da Touko como também do filho do falecido caçador, Koushi. Inclusive, ele é adotado por uma família rica junto com sua irmã, pouco após sua mãe sucumbir a uma doença. Com Koushi, conhecemos um pouco mais sobre os segredos desse mundo construído em volta das chamas artificiais, e mesmo com tantos episódios passados, ainda estamos longe de ter alguma ideia de como essa história irá se desenrolar.
Um Anime Nada Ortodoxo
Hikari no Ou é original em suas decisões criativas. Isso é um eufemismo pra dizer que sua animação é por vezes bem esquisita, ainda mais nas cenas de ação. Mas há rima e razão naquilo tudo… é mais uma questão do quão disposto você está em experimentar algo fora da curva ou se você gosta do que lhe é familiar e funciona. Se a animação de Hikari no Ou te der muita estranheza, principalmente na luta contra o gorilão, bem, será compreensível. Mas até o momento, o conjunto da obra está interessantíssimo de se assistir.
Junji Nishimura, seu diretor, não é exatamente um dos nomes mais conhecidos no ramo da direção, mas é profissional cascudo na indústria. Certas escolhas mais retrô, como o uso de cenas estáticas e estilizadas, à moda Ashita no Joe, tem lá seu charme no susto. Afinal, é uma experiência ter um poster dublado cortando o fluxo da animação. Não consigo me decidir se é bom ou se é ruim; é diferente.
Da trilha sonora, disso posso falar com mais certeza: ela é sem dúvida uma das melhores da temporada. E nada supera a vibe daqueles animes de fantasia de início dos anos 2000 que Hikari no Ou passa. Nesse sentido, temos um genuíno frescor de originalidade e criatividade que muito faz falta numa indústria lotada dos mesmos clichés de isekai baseados em J-RPG. (nada contra, tenho até amigos que curtem).
Pouca gente está falando dessa estreia, mas que este Primeiro Gole te faça dar aquela chancezinha. O anime merece!