Eu conheci Helter Skelter pelo filme japonês. Ele havia sido citado em uma lista de filmes de terror psicológico, e eu fui atraída pelo fato dele ter sido inspirado em uma mangá de mesmo título. Após uma busca rápida, foi fácil descobrir que Helter Skelter não era só um mangá amplamente premiado, mas também já havia sido publicado no Brasil pela NewPop!
Esgotado durante algum tempo, finalmente ele teve uma nova reimpressão, e eu não pensei duas vezes em adquirir o volume único da famosa história.
A trama tem como foco principal Lilico, uma famosa modelo que está no auge de sua carreira. O que ninguém sabe é que Lilico tem uma personalidade distorcida e uma obsessão por sua aparência, fazendo com que ela faça procedimentos cirúrgicos extremamente invasivos. Um dia Lilico nota que uma ferida surgiu em sua pele, e esse é só o início de uma série de consequências devido as alterações corporais, alterações que mudaram também o psicológico de Lilico que não suporta a ideia de perder sua beleza.

Helter Skelter traz uma crítica social escancarada a várias coisas: o mercado da beleza, a necessidade das mulheres de permanecerem jovens, os padrões estabelecidos pela sociedade, a cobrança pessoal excessiva, e até mesmo aos distúrbios psicológicos. A obra foi publicada em 1995, mas poderia muito bem ter sido ontem, já que ela demonstra o que vivemos todos os dias, ainda mais com redes sociais.
A personagem Lilico é a protagonista e antagonista da própria história. Ela é complexa, e isso é o que deixa o gosto amargo após a leitura. Kyoko Okazaki, a autora da obra, fez um excelente trabalho na elaboração das personagens, deixando-as longe das extremidades branca (bondade absoluta) e preta (maldade absoluta). Por mais que Lilico seja abominável e tenha atitudes detestáveis, nós – de certa forma – não queremos que ela tenha um final trágico.
Helter Skelter é um soco no estômago porque nós conseguimos enxergar a monstruosa Lilico em nós mesmos, e nos faz questionar sobre muitos aspectos, principalmente quando a imagem pessoal vira um produto.

Forte, profundo e aterrorizante, Helter Skelter é uma obra que carrega com força todos os elogios e prêmios que recebeu, sendo muito mais do que merecidos. Não envelhecendo após mais de 25 anos, o título é atemporal, e se aplica melhor do que nunca a nossa realidade, criando ainda mais questionamentos.
Para terminar deixo a primeira frase do mangá, que achei extremamente apropriada tendo em vista o teor da obra:
“Risadas e gritos são muito parecidos”.