Quando estreou, Heartstopper estabeleceu algumas referências interessantes para as produções da Netflix. Mesmo não sendo a série com temática LGBTQ+ mais inovadora de todos os tempos, vimos como a abordagem solar das questões envolvendo a comunidade funcionou no modelo adotado pela produção.
Além disso, a direção temática de Euros Lyn também deu certa substância à obra, assim como a presença irredutível de Olivia Colman. Embora esses aspectos também se repitam na segunda temporada, as coisas soam com menor intensidade do que no passado. Portanto, isso nos faz questionar o motivo dessa continuação.
Explicando a fórmula
Quando terminou no ano passado, Heartstopper tentou criar um gancho a partir de certas aberturas na conclusão dos arcos. Porém, eles poderiam ser facilmente resolvidos na primeira temporada. Por exemplo, o fato envolvendo o relacionamento de Tao e Elle, e o desejo de Nick de assumir seu relacionamento com Charlie.
Assim, temos oito novos episódios completos para tratar desses temas, que claramente merecem maior aprofundamento em sua abordagem. No entanto, Heartstopper não é uma série que se aprofunda em seus temas, essa é exatamente a graça de tudo.
A representatividade e outras questões que envolvem um elenco diverso não tiveram, materialmente, um desenvolvimento justo e adequado. Até porque, como todos sabemos, a injustiça e o ódio impediriam que a série — composta por uma atmosfera solar — abordasse os preconceitos causados na vida real.
Desse modo, a única justificativa para essa continuação estaria na divulgação dos fatos citados e, também, nos acontecimentos programados pela história em quadrinhos que soa quase interminável.
Outro problema surge disso: repetição de formato. Não é novidade que Heartstopper é uma série que segue fórmulas, então não deveria ser novidade que essas fórmulas, em um momento ou outro, teriam o efeito contrário do que se esperava. Infelizmente, isso acontece aqui.
Faltou cuidado
Se na primeira temporada o texto acertava em trazer questões da comunidade LGBTQ+ para um olhar acessível, sem muito aprofundamento e imposto a jovens que sabiam trabalhar bem com tais perspectivas, na segunda temporada isso acaba sendo pouco visto. Primeiro, as questões já estavam estabelecidas e, supostamente, não precisam ser abordadas novamente — como a confusão envolvendo o personagem Ben.
No entanto, Heartstopper ainda tenta adicionar algo novo. Desta vez, envolvendo a assexualidade de Isaac (Tobie Donovan). Nas redes sociais, a problematização de impor a assexualidade para um personagem gordo faz sentido, já que parece ser uma solução intrinsecamente fácil, seja por Alice Oseman, seja pela Netflix.
Acontece que o personagem, de forma tão boba e rasa — até para os padrões gerais de superficialidade da série — se torna aquele menino diferente que luta para se encaixar em seu grupo de amigos constantemente envolvidos em paixões. Isso é tão irrisório quanto desproporcional. Resta a ele andar pelos cantos com qualquer livro fingindo que está lendo.
Conclusão
Então, Heartstopper em sua segunda temporada acaba sendo vítima do próprio processo estabelecido em sua fundação. Entre cenas fofas e momentos doces, como a viagem da turma para Paris, ou a companhia de Nick e Charlie, pouco acaba sendo o suficiente. Ou seja, é uma repetição de pequenas questões já estabelecidas.
Além disso, precisamos entender que o produto audiovisual é diferente do que está escrito no material de origem, no caso, a história em quadrinhos. Por isso que seria mais lucrativo manter a excelente impressão que a primeira temporada estabeleceu em vez de seguir os eventos adaptados que, cada vez mais, soarão repetitivos e redundantes graças ao formato já estabelecido.