Eu devo ter ficado mal-acostumada com as incríveis leituras que tenho tido nos últimos tempos, sejam de obras completas ou ainda em publicação. Talvez por isso Hayaku Shitai Futari tenha me decepcionado tanto. Não sei se por simplesmente não atingir minhas expectativas, ou então por não conseguir entregar o mesmo nível de qualidade do que ando lendo ultimamente.
Sob o livro das regras de família
Yuuri é uma gyaru que acaba se apaixonando por um rapaz que pega o mesmo trem que ela todos os dias, Keiichirou. Assim, os dois estudam em escolas uma do lado da outra. Enquanto Yuuri é de uma escola só para garotas mega liberal, Keiichirou é de um colégio só para meninos que é considerado um dos mais rígidos da cidade.
Apesar de muito diferentes, ambos possuem sentimentos recíprocos. Porém, o que poderia ser uma bela história de amor acaba esbarrando num empecilho logo no início: as tradições da família de Keiichirou.
Afinal, o rapaz vem de uma tradicional linhagem de políticos, e eles possuem um livro de regras muito rígido. Entre elas, uma especialmente difícil “nada de qualquer contato sexual com o sexo oposto antes dos 18 anos”. Porém, esse contato inclui abraços, beijos e até mesmo segurar de mãos.
Agora, Yuuri tem que esperar um ano e meio até poder fazer qualquer tipo de coisa com seu amado. Mas será que ela pode aguentar tanto tempo, ainda mais quando toda a sua vida ela não viveu sob regra alguma?
De autoria de Kusaka Aki, Hayaku Shitai Futari está na lista de mangás shoujos mais lidos no site que eu acompanho o vai e vem dos títulos. A obra, serializada entre 2020 e 2022 e completa em nove volumes, supostamente era para ser um “slow burn”. Porém, acaba tendo tudo que eu mais odeio em mangás da demografia.
Ame ou odeie
Chega até ser engraçado, pois quando eu fui aos fóruns ver a opinião geral, é tipo 8 ou 80. Ou as pessoas odiaram com toda sua fúria, ou amaram com todo o seu coração. Eu não digo que odiei a obra em si, até porque eu li até o final. Mesmo assim, confesso que ela é tão irritante em certos pontos, que eu fiz uma coisa que não faço jamais: contei os minutos para terminar logo e me livrar dessa trama.
Pontos importantes
Pela sinopse você já percebe que ambos os protagonistas possuem personalidades muito diferentes, e é nessas diferenças que está a construção do drama entre os dois. Lendo os comentários negativos, percebo que muitas pessoas odiaram a obra porque acham que Yuuri se esforça muito mais do que Keiichirou para que os dois tenham uma boa relação.
Contudo, eu discordo. O que acontece aqui é ambos possuem criações e visões distintas, e também possuem maneiras de demonstrar sua afeição de forma diferente. Então, para mim faz muito sentido que Keiichirou queira esperar esse um ano e meio para ter qualquer coisa com Yuuri. Ele se esforçou quase 17 anos sendo o filho perfeito sob as regras, o que é mais um ano e meio para se ter liberdade em comparação a isso tudo?
Se eu tivesse que apontar alguém que não concordo, com certeza seria a Yuuri. Afinal, ela não consegue respeitar as decisões do Keiichirou, mas também não quer abrir mão dele.
Ao invés disso, ela continua se esforçando em níveis não solicitados apenas para ficar mais perto dele, mas ao mesmo constantemente cruzando a linha das regras. E não é que eu não entenda o lado dela, eu entendo. Contudo, se ela não consegue respeitar os limites que Keiichirou estabeleceu, por que ela quer ter uma relação com ele?
Pouco carisma
Ainda assim, eu acho que isso não seria um problema para a trama, já que tem que haver um conflito para que a história se desenvolva, mas é como o roteiro é construído que me irrita.
Parece que os personagens são muito bidimensionais, sem qualquer tipo de profundidade. Além disso, eles não conseguem se desenvolver se não for por extremos, o que os torna pouquíssimo carismáticos, e mais irritantes a maior parte do tempo.
A trama gira 100% em torno dos dois protagonistas, não há espaço para se apegar a qualquer outro tipo de personagem, e no fim, não é uma história ruim, apenas… sem graça, sem nada que a torne marcante além da arte que é muito bonita.
Hayaku Shitai Futari consegue entregar uma premissa interessante, mas não se desenvolve do mesmo jeito, tendo um roteiro insosso, com personagens sem sal e completamente planos. Mesmo que os capítulos finais sejam uma mudança positiva, nem isso dura por muito tempo, e acabam entregando um final igual ao seu resto: frustrante.