GYLT, jogo desenvolvido pela Tequila Works, usa o gênero de stealth para abordar um tema importante: o bullying. O jogo se destaca pelos quebra-cabeças, atmosfera opressiva e a simbologia da luz e escuridão — confira agora o review do Suco de Mangá.
Enredo de GYLT
Sally, protagonista do título, caminha pela rua de sua cidade colando cartazes sobre o desaparecimento de Emily, sua prima. Logo, o game distorce a realidade e o jogador está em uma versão arruinada da cidade em busca de sua prima.
A viagem até essa realidade é o caminho para entender o sofrimento que Emily passou por sofrer bullying de outros colegas de escola. Por isso, grande parte da história se passa onde ela e Sally estudavam.
É uma temática importante para os games abordarem e o visual, gradativamente mais opressivo, é parte importante do enredo. Não é um jogo fácil de digerir, mas através da relação íntima entre jogador e obra, é importante experenciar.
GYLT é um lugar de pesadelos
Dinâmicas sociais são complexas e isso é retratado pelo cenário onde grande parte da narrativa se desenrola, a escola. Para alguns, esse é um ambiente de aprendizado, amizades e desenvolvimento, mas para outros pode se tornar um ambiente exaustivo.
Infelizmente, é o que acontece com Sally, que é vítima de bullying pelos colegas. Os manequins espalhados pelos corredores, imitando práticas como xingar, bater e menosprezar de diversas formas, enfatizam isso — o famoso “show don’t tell.”
Além disso, diversos dizeres escritos nas paredes enfatizam a temática e aumentam a sensação de inferioridade sentida por vítimas de bullying.

O design de nível está intimamente ligado ao visual do jogo: corredores bloqueados por cadeiras e mesas amontoadas, eletricidade e portas trancadas impedem o avanço do jogador, assim como demonstram como é difícil escapar de um ambiente negativo.
Por fim, os inimigos do cenário aplicam mais uma camada na atmosfera opressiva. Eles não são difíceis de despistar usando dutos de ar ou latas para distraí-los, além de poder derrotá-los com um feixe de luz, e complementam esse lugar de pesadelos pelo qual o jogador precisa sair.

É importante dizer que o jogo não busca traumatizar, mas sim conscientizar. A atmosfera é tensa, sim, mas apenas o necessário para fazer pensar. Entretanto, caso você esteja passando por um período difícil, a atmosfera pode causar gatilhos e o próprio jogo não recomenda a experiência.
Que haja luz
A iluminação é parte importante da experiência, assim como a ausência dela. Usar uma lanterna como ferramenta para combater a escuridão é interessante e representa o conforto nos tempos difíceis.

É de uma sensibilidade ímpar a escolha da Tequila Games ao evitar combates espalhafatosos e grandiosos e armar o jogador com apenas o necessário para mostrar que violência não se combate com mais violência.
Gameplay de GYLT é boa, mas não se destaca
Com tantos elogios ao visual e construção dos cenários, parece que não há defeitos em GYLT, mas não é verdade. A jogabilidade do jogo é interessante, assim como o gradual aumento de dificuldade, no entanto não existe algo na experiência que destaque o título.
Evitar inimigos, distraí-los com objetos e resolver puzzles são características recicladas em diversos gêneros. Aqui, elas funcionam, mas de vez em quando parecem mais uma tentativa de aumentar o tempo de jogo e quebram um pouco o ritmo do jogo.
Veredito
Mesmo com uma jogabilidade sem grandes destaques, GYLT levanta discussões importantes. Tal qual Life’s Strange ou Hellblade: Senua’s Sacrifice, GYLT busca conscientizar e mostrar como os games são, assim como outras formas de arte, plataformas de temas importantes.