Nos primeiros segundos de Garra de Ferro já é possível compreender o título do filme; em preto e branco, somos apresentados à manobra que se tornou o principal símbolo dos Von Erich dentro dos ringues de luta: com a mão direita em garra, o lutador pressiona com força o rosto do oponente. Assim que o patriarca da família pisa fora do tablado – depois de torturar o rival com sua marca registrada -, uma nova, e menos violenta, faceta de Jack “Fritz” Von Erich (Holt McCallany) é apresentada ao espectador; seu lado paternal e amoroso, que busca dar o melhor para sua esposa e filhos.
É neste momento que uma passagem de tempo é aplicada para focar no que será o conflito central do filme: os filhos de Jack, já adultos, buscam a aprovação do pai, que se resume majoritariamente ao sucesso alcançado por eles dentro dos quatro cantos do ringue.
O longa faz questão de mostrar como a pressão e excelência exigidas por Jack impacta cada um de seus filhos; Mike (Stanley Simons) busca uma carreira na música, mas eventualmente acaba se juntando ao esporte e, após uma lesão que o impossibilita de tocar instrumentos musicais, comete suicídio; Kerry (Jeremy Allen White) retorna para casa quando as Olímpiadas de Verão de 1980 são boicotadas pelo presidente Jimmy Carter e volta aos ringues, conquistando uma carreira invejável, mas, ao sofrer um acidente de moto que ocasiona a amputação de seu pé direito, comete suicídio em 1993; David (Harris Dickinson) constroi uma bela jornada no esporte mas acaba falecendo por uma ruptura nos intestinos em seu quarto de hotel no Japão, logo antes do que seria sua maior luta.
O único irmão sobrevivente, Kevin (interpretado magistralmente por Zac Efron), é o coração do longa. Junto dele, o espectador acompanha a trajetória e derrocada de cada um de seus irmãos, o que faz com que suas mortes tenham um impacto emocional crível na audiência. Uma personagem importante na vida de Kevin é Pam Adkisson (Lily James), uma fã que se torna namorada e, eventualmente, esposa.
Apesar do relacionamento sólido que constroem entre si, é difícil não observar o quão formulaico parece o papel de Lily James dentro do filme. De Rocky (1976) a Creed (2015), a personagem feminina que serve quase unicamente como apoio emocional e força motriz para o grande lutador protagonista já é um arquétipo cuja imagem está saturada no cinema.
Entre cenas visualmente impactantes e atuações muito competentes, o diretor Sean Durkin parece não saber exatamente o tom que deseja adotar para o longa. Na maior parte do tempo, Garra de Ferro é um drama intrigante sobre até que ponto a influência parental pode ajudar ou destruir uma vida, lidando muito bem com a temática de trauma geracional. Em outros momentos, no entanto, o filme adere uma breguice tremenda, principalmente quando deixa suas intenções de emocionar o público muito explícitas.
Talvez a cena mais incômoda do longa seja quando ele abandona a sutileza de vez e insere uma cena dos irmãos falecidos reencontrando o seu irmão mais novo (que morreu ainda criança, o que é estabelecido durante o filme) em uma espécie de cenário de vida após a morte. Ali, os quatro se abraçam emocionados e é praticamente possível ouvir o diretor implorando para que quem quer que esteja assistindo chore junto. Para uma obra que se apresenta de forma majoritariamente elegante e com boas escolhas de estilo, essa cena é um desvio decepcionante na direção do cafona e desespero.
Apesar dos flertes com a estratégia tearjerker (termo em inglês para um filme que busca forçar o espectador a derramar lágrimas, um dramalhão), Garra de Ferro entrega uma experiência cinematográfica intensa, bem atuada e visualmente agradável que permite reflexões sobre a temática abordada e certamente merecia mais reconhecimento de sua distribuidora (A24) do que teve.
Texto por Julia Henn.
